Na nossa primeira entrevista com a psicóloga, contamos que estávamos lendo diversas coisas sobre adoção (entre livros, blogs e tudo o que aparecia na nossa frente sobre o assunto). Ela então nos recomendou a leitura de materiais que trouxessem o ponto de vista das crianças que são adotadas, pois a maioria dos livros que tínhamos lido trazia os papais adotantes como protagonistas.
Eu comprei o livro “Conversando com crianças sobre adoção”, de Lilian de Almeida Guimarães, no dia seguinte e graças à agilidade do e-commerce em São Paulo, ele estava na minha casa em 3 dias.
Lilian entrevistou 3 crianças – um menino e duas meninas que são irmãs – que passaram pela adoção tardia e que já estavam morando há um tempo com suas novas famílias. Eles narram um lado um pouco triste da adoção, que é o medo e a insegurança de voltarem para o abrigo e ficarem de novo sem uma família. Nós já tínhamos discutido o medo da devolução em duas reuniões dos grupos de apoio, onde aprendemos que, mesmo que uma criança tenha sido abrigada bem novinha e não tenha vivenciado ela mesma a dor da devolução, ela provavelmente acompanhou o abrigamento ou mesmo devolução de coleguinhas de abrigo e sabe que o abrigo é uma situação provisória para ela. E durante as entrevistas, as três crianças falam sobre o receio que elas têm de voltar para lá. Umas das meninas conta que enquanto não receber o papel definitivo que diz que elas não podem ser devolvidas, pode ser que a mãe decida que elas devem voltar a morar no abrigo (ela provavelmente se refere à guarda definitiva e emissão da nova certidão de nascimento, que ainda não havia sido emitida). E quando Lilian pede que elas desenhem as novas famílias e casas, as três se colocam um pouco para fora do desenho, como se no fundo percebessem que não estão totalmente inseridas na família. É de partir o coração.
Acho que uma das coisas mais importantes para nós dois será fazer de tudo para nosso filho sentir que ele é a nossa família. Que aqui será a casa dele, que nós seremos pais para sempre e que ele já tem há muito tempo um espaço reservado só para ele nessa família.
E, por fim, vou contar um diálogo do livro que achei muito bonitinho. Lilian pergunta para uma das meninas se ela conhece outras crianças que foram adotadas, assim como ela e a irmã. E ela responde que sim e cita alguns amiguinhos, mas depois a psicóloga percebe que esses amiguinhos são filhos biológicos de seus pais. E após um diálogo confuso, eu percebi que no entendimento da menina, aquelas crianças também tinham sido adotadas, mas por seus próprios pais biológicos. Porque se adoção é cuidar, é amar, é dar uma família para a criança, significa então que todas as crianças – filhos biológicos ou adotivos – precisam ser adotadas por suas famílias, certo?