Não pretendo convencer ninguém. Eu mesma ensaiei essa ideia durante anos, mas só fiquei sem carro quando mudei de emprego e a empresa me pediu gentilmente para devolver o carro. Antes eu tinha só vontade, mas continuei firme e forte com carro na garagem por muito mais tempo que eu queria.
Toda vez que digo que estou sem carro há mais de um ano com duas crianças pequenas – e, não, meu atual marido também não tem carro – as pessoas me fazem muitas perguntas sobre logística. Com vocês, as respostas!
- Como você faz com a escola? Eles vão e voltam de perua na maioria dos dias, mas a escola é muito perto de casa, então fazemos muito o percurso a pé também. (by the way, escolher uma escola perto de casa foi uma das melhores decisões neste assunto, já que já tive três empregos diferentes desde que eles chegaram e nunca precisei mexer na rotina deles). Se por acaso estiver chovendo muito e eu não quiser usar a perua (às vezes atrasamos de manhã ou eles voltam mais cedo), pego um taxi e gasto uns R$ 6 ou R$ 7, no máximo.
- Como você faz supermercado? De formas variadas. Frutas, legumes, verduras, farinhas e grãos são pedidos pela internet e chegam em casa. Compro aqui, aqui e aqui (acho a oferta de orgânicos e produtos naturais bem melhor nesses sites que em lojas físicas). Se falta algo, tem um supermercado “de bairro” a uma quadra de casa e vou a pé, com meu carrinho de feira para ajudar com o peso. Tem um Pão de Açúcar a umas quatro quadras e também vou até lá a pé com o carrinho quando preciso de algumas coisas que não acho no mercadinho (o leite dos meus filhos, por exemplo, só encontro lá). Aos domingos tem feira a quatro quadras também, mas não tem muito orgânico. Quando resolvo ir à feira, vou a pé com o carrinho. Quando preciso comprar coisas volumosas e pesadas (tipo produtos de limpeza e caixa de fralda), também peço pela internet aqui. Se estiver chovendo, deixo o supermercado para outra hora, já que a maioria das coisas são entregues em casa, então nunca estou com a dispensa zerada. Em situações bem especiais, alugo carro, mas isso só aconteceu uma vez esse ano, no aniversário deles. Nós fizemos uma pizzada caseira e eu tinha que comprar muita coisa e queria escolher as coisas pessoalmente. Aluguei um carro para fazer o supermercado, e usei o carro para carregar os itens de decoração da festinha (que foi na casa do meu pai) e para trazer os presentes que eles ganharam.
- Como você faz outras compras? Eu uso muito internet, porque é mais prático. Vinhos, ração do cachorro, acessórios para bicicleta, coisas para as crianças, coisas para casa, revelação de fotos, tudo o que dá faço pela internet. Também não sou de entrar em um shopping, fazer muitas compras e sair de lá carregada de sacolas. Em geral, se compro alguma coisa em loja física, consigo carregar a sacola ou guardar na mochila. Uma única vez este ano aluguei um carro para fazer compras, quando fomos comprar acessórios de camping para as crianças e uma persiana para casa (peguei o carro de manhã, passei nas duas lojas, deixei tudo em casa e devolvi em seguida).
- Como você faz para viajar? Quando viajo de avião, não preciso de carro, principalmente porque as diárias dos estacionamentos dos aeroportos são muito caras. Vou de transporte público até lá (um ônibus até Congonhas ou metrô + um ônibus até Guarulhos). Aliás, super recomendo o metrô e ônibus até Guarulhos, economiza um bom stress no trânsito e sai menos de dez reais. Com muitas malas ou muitas crianças, às vezes pego taxi. Para viagens via estrada, alugo carro. Qual tipo de carro, depende. Às vezes alugamos um carro menor se vamos só os adultos, alugamos carros maiores quando vamos com as crianças, alugamos carros maiores ainda se queremos levar as bikes. Depende do que vamos fazer. Ah, mas não é muito difícil alugar carro? Não. Tem locadora de veículos em quase todos os shoppings e tem algumas lojas de rua. Eu já viajei com um taxista também (uma pessoa que conheço há anos e em quem confio muito na direção). Fiz as contas e vi que sairia mais barato ir com ele do que alugar um carro e deixá-lo parado no hotel durante cinco dias.
- Como você faz para levar as crianças no médico? Metrô e/ ou ônibus. Se estiver caindo um temporal, taxi. Se for de madrugada, vou pedir taxi pelo aplicativo. Neste ano, só uma vez eu precisei levar criança para o pronto-socorro correndo, umas 23h. Se a criança estiver morrendo, vou chamar uma ambulância. Se não achar taxi e realmente precisar levar para o hospital numa situação de emergência horrorosa, aí, gente, eu vou acordar o vizinho e pedir o carro emprestado. Tenho certeza que ele vai entender. Não preciso ter um carro na garagem só esperando o caos acontecer.
- Como você faz para passear aos finais de semana? Metrô e/ ou ônibus. Às vezes, carona. Às vezes, taxi. Às vezes, carro de aluguel (sei lá, pensei nisso agora, se eu quisesse ir ao Simba Safari, alugaria um carro). Na maioria das vezes, consigo usar transporte público para as coisas que queremos fazer nos finais de semana (almoçar na minha vó, visitar meu pai, ir ao cinema, jantar fora).
E a última pergunta de todas: isso tudo não sai muito mais caro?
Não. Já fiz as contas, eu gasto menos dinheiro. E, no meu caso, ainda vivo menos estressada, porque eu realmente não gosto de trânsito, de motoristas estressados e de gente mal educada dirigindo. Eu gasto menos dinheiro porque eu priorizo transporte público sempre (ou caminhadas ou bicicleta). Se alguém pretende vender o carro para andar de taxi o tempo todo e alugar carro todo final de semana, talvez isso seja bem mais caro. A conta depende do estilo de vida de cada um.
O ponto aqui é que dá para viver sem carro. Ninguém precisa ter um carro como se fosse uma necessidade básica, as pessoas simplesmente escolhem ter carro (e, não, não há nada de errado em escolher ter um carro).
São escolhas. Se alguém tentasse me convencer por A + B que eu gasto o mesmo dinheiro com transporte público, taxi e aluguel de carro, eu ainda assim continuaria sem carro. Porque foi uma escolha.