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Brilha brilha estrelinha

Ela me chamou no meio da madrugada e lá fui eu com aquele mau humor padrão. Abri a porta do quarto e tudo brilhava muito.

Explico: ela estava usando um pijama que brilha no escuro e colocamos estrelas no teto que também brilham. Mas só brilham depois de ficarem um tempo expostos à luz, então eu saquei:

– Ruth, você estava com a luz acesa? Por que acendeu a luz?

– Mamãe, você não gosta que eu te chame para fazer coisas fáceis, então acendi a luz e arrumei o travesseiro, o Olaf e o cobertor sozinha. Mas agora quero fazer xixi e preciso de ajuda. Me leva no banheiro?

Ruth, você é genial. Queria ser madura assim como você é. Um dia vou te esmagar de verdade se você não parar de ser fofa.

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Desfralde noturno

Confesso: enrolei muito. Minha filha já estava madura para o desfralde noturno há um tempo (eu acho, não dá pra ter certeza), mas eu esperei o inverno acabar, esperei o verão chegar de vez, esperei as férias, esperei mais umas semanas, respirei fundo e tiramos a fralda da noite.

Foi simples e ela se saiu bem. Alguns escapes, nada de outro mundo. Mas essa história de levar criança pra ir ao banheiro meio dormindo é dose. Desfralde noturno acaba com a paz. A criança tá lá bem linda dormindo a noite toda e você inventa um intervalo, um “levanta da cama e vamos ao banheiro” e fica rezando pra ela não inventar de acordar de vez no meio da madrugada (nunca aconteceu). Nas primeiras semanas, eu colocava despertador no meio da madrugada pra checar se ela estava seca, uma crueldade pra quem acorda religiosamente todo dia às 6h. Não gosto nem de lembrar.

Agora estamos bem acertadas. Ela dorme cedo e eu a levo no colo para um xixi antes de eu deitar. Ainda não estou 100% confiante que ela aguenta 10-12 horas seguidas e prefiro fazer a voltinha ao banheiro enquanto ainda não dormi, para não interromper meu sono. Ela dificilmente me chama depois disso e tá tudo lindo.

Mas eu tenho gêmeos. Falta o outro. Meu filho não tá tão pronto, porque ainda deixa escapar xixis na calça com frequência durante o dia. Então eu pretendia esperar o tempo dele, com calma, talvez no verão que vem. Mas ele cresceu e não há fralda que aguente a noite toda. Molha pijama, molha cama, mesmo com fralda. Não temos água em São Paulo, não dá pra ficar lavando lençol todo dia. Eu poderia trocar a fralda dele no meio da noite, mas já basta a hora extra de fraldas noturnas para impactar o meio ambiente. Então, lá fui de novo, mas desta vez fiz diferente: nós combinamos que a fralda tem que acordar seca. Que não pode molhar a fralda. Que tem que me chamar pra fazer xixi. E ele topou o desafio. E cá estou eu sendo chamada de madrugada para xixis, saindo do quarto feito zumbi.

Não gosto de acordar no meio da noite. Ninguém gosta, né? Eu não consigo esconder meu mau humor. Só não vou reclamar porque estou sofrendo com isto só depois de quase três anos de maternidade. Para todas as mamães cujos bebês demoraram para começar a dormir a noite toda, meu abraço apertado e carinhoso. Vocês merecem.

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A pessoa mais madura do relacionamento

– Mamãe, quero fazer xixi.

– Tá. Vai lá no banheiro, faz xixi e me espera sentadinha no vaso que eu vou só terminar de trocar seu irmão e já vou te limpar. Não levanta.

Aí eu ouço uma descarga. Entrei rasgando no banheiro e falei em tom de voz maior do que eu gostaria:

– Pô, Ruth, eu não pedi pra ficar sentada me esperando?

Ela chorou, esperneou, foi pro quarto batendo o pé e eu fiquei brava também. Aí ela acalmou e me chamou.

Gente, presta atenção, muita atenção, no que eu ouvi.

– Eu quase dormi triste com você, mas não quero dormir triste. Você falou para eu não levantar e eu não levantei. Eu dei descarga sentada. Porque sempre tem que dar descarga depois do xixi. Então você tem que pedir desculpa por ter gritado. E eu tenho que pedir desculpa por ter dado descarga e ter feito você achar que eu tinha levantado pra dar descarga. Aí a gente dorme feliz.

Quase morri de vergonha. Eu nunca tive nenhum namorado, mãe, pai, irmã, chefe ou vizinho que tenha sido tão maduro assim comigo em uma briga. Nem eu sou tão madura assim, tá? No lugar dela, eu teria xingado, falado palavrões e respondido bem alto “MAS EU NÃO LEVANTEEEEEEEIIIIIII”, e ficado uns meses dormindo virada pro outro lado.

Eu pedi desculpas, ela pediu desculpas, nos abraçamos, nos beijamos e dormimos de conchinha.

Thanks, filha, por me orientar nos meus relacionamentos daqui pra frente.

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Mãe não é tudo igual

Quem inventou esse negócio de “mãe é tudo igual, só muda de endereço” só pode estar doido. Depois que virei mamãe, e passei a acompanhar blogs, posts e conversas de outras mamães, percebi que as mães são, sim, muito diferentes uma das outras. Mães são uma combinação de opiniões fortes a respeito de temas polêmicos, e é impossível dizer que são todas iguais.

Não tô dizendo que tem certo ou errado. São opiniões, pontos de vista. Não se ofendam, não, tá? Mas aí vão alguns assuntos que tornam as mães muito únicas:

  • Tipo de parto: tem mães que defendem o parto normal, humanizado, na água, em casa, de cócoras, sem médico, sem hospital, e depois comem a placenta. Tem mães que acham prático agendar dia e horário e aplicar uma boa anestesia, para não ter sofrimento nenhum. Essa polêmica não fez parte da minha vida, então não tenho nenhuma opinião. Tenho uma opinião muito forte sobre visitas aos recém-nascidos. Bem forte, quase mal educada. Imagina que você é um serzinho pequenino, que viveu nove meses dentro da barriga da sua mãe, quentinho, embrulhadinho, com poucos barulhos, pouca luz, bastante conforto e comida em livre demanda. Imaginou? Agora imagina que você teve que sair desse mundo confortável (por parto normal ou por cesárea, não importa!) e veio para o mundo exterior de uma hora para outra, sem período de adaptação nem nada. Imaginou? Aqui fora tem barulho, tem sujeira, tem gente falando alto, tem gente ouvindo axé, tem luzes, tem o Faustão falando na TV, e você precisa chorar para perceberem que está com fome. Eu não consigo imaginar nada mais traumático do que nascer, sério mesmo. Deve ser o pior momento de nossas vidas. Mas não tem jeito, tem que nascer. Cara, mas aí eu me pergunto: por que as pessoas vão visitar um serzinho que acaba de passar por essa experiência traumática nos primeiros dias de vida, e querem pegá-lo no colo, apalpar seu corpinho, dar beijinhos, fazer comentários em voz alta, em vez de deixá-lo se adaptar a essa triste realidade no colo de sua mãe? Por que, minha gente? Se eu tivesse parido, ia proibir as visitas. Desculpem a falta de educação, mas eu ia.
  • Amamentação: aí tem as mães que fazem questão de amamentar exclusivamente até os seis meses de vida, sem admitir um leitinho artificial, e depois continuam oferecendo o peito em livre demanda até que seus filhos desmamem naturalmente aos 2 ou 3 anos. Tem outras que – por motivos diversos – abrem mão da amamentação quando o bebê tem poucos meses de vida. Esse é outro assunto que não fez parte da minha vida de mãe. Se, por um lado, eu odeio coisas artificiais na alimentação dos meus filhos, por outro lado acho que eu ficaria um pouco louca se tivesse que ficar totalmente à disposição da(s) cria(s) para alimentá-la(s) durante seis meses ininterruptos. Difícil, hein?
  • Cama compartilhada: gente, é tanta coisa. Tá, eu não passei pelo período “recém-nascido mamando a cada 2 horas”, porque tendo a concordar que facilita a vida de todos se o bebê estiver no quarto da mãe. Também tendo a concordar que, depois de ter passado pela experiência traumática citada no primeiro bullet, é muita judiação deixar o coitadinho sozinho em um quarto desconhecido durante a madrugada. Difícil. O que eu não consigo entender é a falta do que vou chamar de “tempo de adulto” na vida das mães que fazem cama compartilhada. Explico: eu estou aqui na sala da minha casa enquanto meus filhos dormem tranquilamente no quarto deles há umas duas horas. Estou curtindo meu “tempo de adulto”, quando janto, tomo banho, leio, escrevo, fico em silêncio, trabalho, assisto um filme de adulto ou durmo. Se a mãe faz cama compartilhada, imagino que ela vá dormir junto com o filho, ou estou enganada? E não tem nem um tempinho só de adulto na vida? Aí hoje li esse post aqui, que cita a vida sexual das mães que fazem cama compartilhada: Você tem sofá/futon/chuveiro/ outros cômodos na casa?, a autora pergunta. Sim, todo mundo tem. Só não quer dizer que o sofá/futon/chuveiro (gente, please, e o tanto de água que isso deve gastar?)/ outros cômodos na casa sejam os mais legais para isso, né? Quer dizer que pós-nascimento dos filhos a cama de casal deixa de ser palco da vida sexual e os pais passam a utilizar outros locais na casa não originalmente concebidos para tal?
  • Trabalhar fora ou ser mãe em tempo integral: ser mãe e ter um emprego full-time é f. Você está sempre com a sensação que não faz nada direito e vive se sentindo culpada. Frequentemente, uma coisa invade o espaço dedicado a outra coisa e a culpa cresce ainda mais: é criança que fica doente e te obriga a faltar no trabalho ou é o trabalho que não termina na hora certa e te faz atrasar para chegar em casa. Aí você está no trabalho pensando nas coisas do filho e está em casa pensando que não respondeu aquele último e-mail antes de sair. É f. Mas f mesmo deve ser a vida de mãe em tempo integral. Vida de mãe em tempo integral não tem final de semana ou horário de almoço ou pausa para o café. A mãe em tempo integral é responsável por todas as refeições, todos os xixis e cocôs (na fralda ou no vaso, até que aprendam a se limpar sozinhos), por todas as brincadeiras, por todas as birras, por todos os banhos, todas as broncas. A mãe em tempo integral não pode simplesmente marcar um almoço com uma amiga, porque não pode deixar o filho sozinho em casa. Eu sei bem como essa vida é difícil porque tirei quase seis meses de licença maternidade. Admiro as mães em tempo integral, porque acho que a vida delas é bem mais difícil que a minha, que sou mãe que trabalha.
  • Escola ou babá: o que vou discutir não é nem a questão de deixar o filho aos cuidados de uma pessoa contratada para tal função, que não é da família, que pode pedir demissão a qualquer momento, com quem a criança criará laços profundos. Eu fico me perguntando como é que os pais garantem que a babá está entretendo seu filho de uma forma bacana, variando as brincadeiras, não os deixando morrer de tédio ou mofar na frente da televisão. Durante os finais de semana, eu frequentemente não tenho imaginação para ocupar e estimular meus filhos como eles precisam durante as 48 horas, e sofro com birras e momentos de tédio, quando eles resolvem fazer tudo o que sabem que não podem fazer. Haja criatividade no job description das babás, hein?

Só com esses cinco itens, a gente poderia criar pelo menos uns trinta tipos de mães diferentes. Não é só o endereço que muda, não, gente.

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Eu não saio do banheiro

Desfraldar não foi tão traumático assim e é melhor levar criança no banheiro que trocar fraldas. Tô feliz por estar há semanas sem ver um cocô na fralda, daqueles amassados e espalhados por todo lado, que nos fazem ter vontade de embrulhar a criança junto com a fralda suja e jogar fora.

Logo que soube que eu seria mamãe de menina, uma amiga que também ocupa esse posto me disse assim: “toma muito cuidado para não deixar nenhum cocô encostar na periquita, porque pode virar uma infecção”. Como se eu tivesse opção de não deixar o cocô encostar lá e como se a própria fralda não se encarregasse disso.

Enfim.

Acontece agora que passo boa parte do meu tempo no banheiro. Acho que entro no banheiro, em média, a cada três minutos. Porque funciona assim: eles me pedem várias vezes para ir ao banheiro, mas quando sentam no vaso, desistem. Quando um pede, o outro pede também. Eles fazem cocô a prestações; cada vontade de fazer cocô significa umas três idas ao banheiro, porque ninguém tem paciência de esperar fazer tudo de uma vez. Vezes dois, né? E ninguém aprendeu a deixar a bexiga encher antes de esvaziar, então por aqui tem uma infinidade imensa de mini-xixis durante o dia.

E o mais bizarro é que, com gêmeos de dois anos e tralalá ocupando toda minha atenção, eu mesma não tenho tempo de fazer tanto xixi ou cocô como eu gostaria. Dureza, viu?

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Desfraldamos, já que não tinha outro jeito

Eu fiquei orgulhosa de mim mesma quando liguei para a escola para dizer: “da próxima segunda não passa! o que tenho que fazer até lá?”. Tá calor, estão mocinhos, eu precisava perder a vergonha na cara e não tinha mais desculpas para fugir do desfralde. Respirei fundo, tirei o tapete da sala e lá fui eu fazer do rodo e do pano de chão meus melhores amigos.

Passamos pela fase do xixi na roupa, no chão e nos brinquedos. Passamos pela fase do choro desesperado porque não-quero-sentar-no-vasoooooooooooooooooo. Passamos pela fase de perguntar a cada três minutos se quer fazer xixi ou cocô (mentira, ainda estamos nela). Passamos pela fase de cocô na cueca e na calcinha. Pausa. Abre parênteses:

Eu tenho mania de sustentabilidade, consumo responsável, salvar a natureza. Reciclo o lixo, economizo água e nuncajamaisemhipótesealguma pego sacolinhas de supermercado. Quando os brigadeirinhos chegaram, pesquisei opções de fraldas de pano porque achava um absurdo esse coisa horrenda de usar fraldas descartáveis. Mas ser mãe de gêmeos toma tanto tempo que essa item está esquecido na lista de thudus há um ano e pouco. AINDA BEM! Depois de ter que lavar cueca e calcinha sujas de cocô, eu entendi a doidera que seria minha vida se eu tivesse que lavar fraldas sujas todosantodia. Porque roupa suja de cocô não é uma coisa que você joga na máquina e espalha cocô pra todo lado. Roupa suja de cocô tem que ser lavada no tanque, com nossas próprias mãos. Não é legal. Eu tava completamente louca, gente. Maternidade faz essas coisas com a gente. Fecha parênteses.

No último sábado eu saí de casa com a cara, a coragem, dois bebês sem fralda, um monte de trocas de roupas, tudo isso dentro do meu carro. E foi um sucesso. Eles foram, ficaram e voltaram da festinha sem NENHUM acidente.

Estão sem fraldas, comem sozinhos, vão se deitar sozinhos em suas caminhas, falam tudo. Dois mocinhos lindos. Só falta a mamãe conseguir parar de chamá-los de bebês.

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Trancados

Eu sei que existem vários cursos para mamães por aí, que ensinam coisas importantes para os cuidados de um recém-nascido: trocar fraldas, dar banho, amamentar e tal. Eu adotei meus bebês com mais de um ano, pulei essa parte toda e mergulhei na maternidade sem nenhuma graduação.

Aí eu me pergunto se deveria ter procurado algum curso de orientação para mamães desavisadas. Porque, viu, é uma coisa atrás da outra nessa casa e ninguém me previne que essas coisas podem acontecer. Alô, amigas e amigos com filhos, cadê as dicas, gente? Se alguém tivesse me ensinado o básico, eu não teria ficado molhada de xixi na balada, por exemplo. Nem teria deixado os dois se trancarem no banheiro.

Ah, tá bom, todo mundo sabia que isso poderia acontecer e ninguém me avisou? Meus banheiros podem ser trancados por dentro, porque em geral ninguém gosta de ser visto fazendo xixi ou cocô, né? Tem coisa mais normal que essa? E meus filhos não vieram com um manual de instruções avisando que com dois anos e sete meses a criança adquire a habilidade de trancar portas. Só de trancar, porque obviamente não aprenderam a destrancar e ficaram berrando que nem dois doidinhos lá dentro.

Então eu quis ser legal e avisar aos amigos e amigas que estão planejando filhos: se vocês não tomarem cuidado, eles vão se trancar em algum cômodo um dia. Tomem cuidado.

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Acuma?

Eu tava lá em paz, sentada no chão do banheiro, segurando minha filha nua no vaso sanitário, aguardando pacientemente o xixizinho antes do banho. Aí vem o monstrinho e aponta:

– Mamãe, essa é a teta da Ruth?

Acuma? (olhos arregalados) Xinguei todos os antepassados da pessoa que ensinou essa palavra para meu bebê. Sorry, tá, sem ofensas, mas não gostei. Nada contra, mas existem palavras mais bonitinhas para um bebê falar, vai? Respirei fundo e respondi bem calmamente.

– Não, filho. Esse é o peito da Ruth.

Cinco segundos de silêncio.

– Mamãe? Eu posso mexer no peito da Ruth?

Dois. Anos.

Socorro?

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Banheiros públicos

Parece nome de filme brasileiro, né? Mas é só a cabeça louca de uma mamãe aqui pensando comuéquifáis depois do desfralde. Eu já sei que desfralde é aquele período em que terei que perguntar 200 milhões de vezes para cada um se tá com vontade de fazer xixi e/ ou cocô, que vou ter que lidar com xixi no chão e cocô na cueca/ calcinha e que vou passar horas sentadas segurando bebê sentado no vaso sanitário para fazer xixi e/ ou cocô. Já sei, já tô preparada, vemnimim desfralde!

Mas, e depois, gente? Me conta? Me explica qual é o processo detalhado, para eu já comprar todo os apetrechos necessários para a operação Banheiros Públicos?

Tô pensando em ter um borrifador de álcool (desinfetante talvez?) na bolsa para limpar o vaso sanitário de restaurantes e shoppings, posso? Será que compro perfex e escovinha também? Cabe tudo isso na bolsa? Aí tô também pensando em comprar aqueles protetores de papel para vaso sanitário, será que vende? Existe algum produto que desinfete a criança após contato com banheiros públicos? Alguém já teve a experiência de colocar vários pedacinhos de papel higiênico, organizadamente lado a lado para forrar toda a tampa do vaso, e quando foi colocar a criança sentada derrubou tudo? Eu tenho sobrinha e irmã mais nova e já fiz isso várias vezes. É falta de experiência? Será que agora que sou mãe vai me aparecer um instinto sobrenaturalmaterno de conseguir sentar a criança no vaso em cima de pedaços de papel higiênico sem derrubar tudo? Como garante que elas não mexam em nada? Que não apoiem as mãos na tampa do vaso para não caírem lá dentro, principalmente? Ponho luvas descartáveis neles? Como eu faço, gente?

E a pergunta mais importante, especialmente para as mamães com mais de um filho: como é que eu faço para me concentrar em toda essa operação de guerra que deve ser levar um filho para fazer xixi e/ ou cocô em banheiro público se tenho que ficar de olho na outra criança? A outra criança consegue não mexer em nada? Pode amarrar na torneira da pia para não fugir de mim enquanto eu lido com papéis que não param no lugar?

Alguém me dá o passo-a-passo, por favor?

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Babá e bagunça

No primeiro dia, eu estava na porta do prédio com a Cleide esperando os bebês e a perua. No segundo dia, vim para casa cedo, mas fiquei no apartamento enquanto a Cleide desceu sozinha para esperá-los. No terceiro dia que tinha uma reunião que terminaria às 18h e pouco e seria a primeira oportunidade para testar se todo o esquema tinha dado certo.

Antes de sair para ir para escola nesse dia, eu expliquei que eles iriam voltar de perua e que a Cleide estariam esperando os dois em casa. Que eles tinham que obedecer a Cleide e fazer tudo como fazem com a mamãe. No carro, retomei a conversa:

– Quem vai voltar de perua?

– Eu!

– Quem vai estar em casa esperando vocês chegarem?

– A Cleide!

– O que vocês vão fazer com a Cleide quando chegarem? (eu esperava uma resposta do tipo: “tomar leite”, “comer fruta”, “tomar banho”, “escovar os dentes”, ou algo assim)

– Bagunça!

Não. Não. Não. Nesse momento eu desenvolvi uma fobia. Medo de ter dois pestinhas que assustam todas as babás (acho que já vi um filme assim, não existe?).

Passei o dia mentalizando “Cleide, por favor, seja forte, não deixe os dois dominarem você”. Só liguei para ela para ter certeza que ela tinha chegado em casa para trabalhar e resolvi conferir o resultado da experiência só quando entrasse em casa. E passei o dia em um uorquixópi com um cliente, pensando na Cleide me dizendo: “eu só tenho medo mesmo de ter que dar banho nos dois sozinha”. O cliente discutia o novo maindiséti para entender seus clientes, e eu só pensava em como alguém pode achar difícil dar banho em duas crianças ao mesmo tempo. É tão fácil, pô. Liga o chuveiro, espera a água esquentar, tira a roupa da criança, pede para ela não fazer xixi ou cocô no chão (não desfraldei, às vezes dá nisso), molha a criança, lava o cabelo com xampu, enxágua, lava o corpo com sabonete, enxágua, passa condicionador no cabelo, enxágua, toma cuidado o tempo todo para a criança não escorregar no chão molhado e cair e bater a cabeça no chão e morrer, desliga o chuveiro, embrulha na toalha e enxuga. Ao mesmo tempo, presta atenção na criança que ficou do lado de fora do box, porque ela vai estar fazendo algumas das alternativas a seguir: 1) subindo no vaso e dando descarga, 2) subindo no vaso, abrindo a torneira da pia e se molhando inteira, 3) subindo na pia e tentando suicídio infantil, 4) puxando o rolo de papel higiênico e encenando aquela propaganda dos anos 80, 5) abrindo a tampa do vaso e pulando de cabeça lá dentro, 6) abrindo o armário ou gavetas e tirando todas as coisas para fora – o que inclui engolir produtos de higiene pessoal, 7) abrindo o cesto de lixo e brincando com papel higiênico usado, 8) brincando com alguma coisa que mamãe deu para ela se distrair (mas essa cena eu nunca vi). Quanto terminar, inverte as crianças e repete tudo isso só mais uma vez.

Eu me segurei e resolvi não ficar ligando para atormentar a moça – mais do que os dois já deviam estar atormentando – para fazer perguntas bobas do tipo: “você conseguiu subir com dois bebês e duas mochilas?”, “você conseguiu fazer os dois sentarem nos cadeirões para comer uma fruta?” ou “promete que não foge e não larga os dois sozinhos em casa até eu chegar?”.

Peguei trânsito. Cheguei ansiosa. Abri a porta da sala e entrei correndo. Encontrei os três sentados no chão do quarto, brincando, e foi muito legal. Foi muito legal porque ultimamente eles vinham me recebendo na escola com um ar de “mas já, mãe? não posso brincar mais um pouco aqui?” e sempre um ou outro entrava no carro fazendo birra. Ontem quando cheguei eles abriram sorrisos imensos e vieram me abraçar. Pediram para eu sentar para brincar também. A Cleide estava sorrindo também, então acho que ela não teve pensamentos suicidas.

Fiquei com eles até a hora de dormir e depois também fui pra cama. Feliz.

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