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Bad decision

Quando Isaac começou a falar e a cantar, ele já tinha aprendido a “se ninar” sozinho. Eu o colocava na cama, dava beijinhos e carinhos, dizia boa noite e ele ficava no escurinho até dormir. Sempre foi muito tranquilo. As musiquinhas vieram e começaram a fazer parte deste ritual só dele: depois que eu saía do quarto, ele cantava para si próprio uma musiquinha fofa de criança e logo dormia. Era uma fofura só. Tanta fofura que às vezes eu até ficava do lado de fora do quarto ouvindo a musiquinha fofa dele.

Não ter feito alguma coisa para ele mudar este processo foi a pior decisão que tomei. Se tem algo que eu queria ter feito diferente é a musiquinha da noite. Gente do céu, que coisa.

Hoje Isaac é uma criança de quase cinco anos com uma voz que chega no térreo. Hoje nosso apartamento é menor e os quartos são colados um no outro, então Isaac canta e Ruth grita pra reclamar que não consegue dormir. As musiquinhas não são exatamente fofas: às vezes rola um “livre estoooooooooooooouuuuuuuuu”, às vezes rola uma funkeira insuportável sobre a qual já falei aqui, às vezes algumas composições próprias. E ele também não canta mais UMA musiquinha; ele canta umas DOZE.

Aí todos os dias eu tenho que conversar com ele sobre os motivos pelos quais ele não pode cantar para dormir. Explico, explico, explico. Saio do quarto e ele volta a cantar. Volto pro quarto, saio do quarto, volto lá, e assim seguimos na cantoria diária até ele capotar de sono. Já me ofereci várias vezes para ficar com ele fazendo carinho até ele dormir, mas ele não quer; me diz para eu sair e deixá-lo cantar. Ele já me prometeu cantar bem baixinho, mas ele se esquece de cantar baixinho em 30 segundos e logo o porteiro volta a ouvi-lo. Acho que passei um ano achando a musiquinha da noite fofa e estou há mais de dois tentando me livrar dela. Aí hoje ele me disse assim: “mas é que eu gosto de cantar no escuro sozinho e quando eu era pequeno você deixava”. Mano, que memória. Por quê, meldels, por quê?

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Isso me mata

Criança gosta de Galinha Pintadinha, de Frozen, da Peppa. Já teve a época dos Backyardigans e Charlie e Lola. Tem o Ben 10, as Princesas da Disney e várias animações que fazem sucesso. E existem vários outros programas infantis que não conheço – porque sou uma pessoa alienada que não tem TV paga nem aberta em casa – e que fazem a alegria das crianças.

Ao mesmo tempo, eu nunca ouvi uma criança dizendo que adora Breaking Bad, ou Law and Order Special Victims Unit, ou Game of Thrones, ou que nunca perde um capítulo de Verdades Secretas. Nunca conheci uma criança que tenha assistido Ninfomaníaca ou Cinquenta Tons de Cinza. O que me leva a afirmar uma coisa: os adultos têm noção do que são programas televisivos para adultos e o que são programas televisivos para crianças.

Esta afirmação me leva a uma grande indignação com a humanidade: por que, adultos do meu coração, vocês não aplicam o mesmo filtro para músicas? Por que? Não quero discutir gosto musical, de forma alguma, please, ouçam o que quiserem. Mas não achem normal ouvir criança cantando “prepara, que agora é a hora do show das poderosas que descem e rebolam”. Ou “delícia, delícia, assim você me mata, ai, se eu te pego”. Ou, ainda, “por que hoje eu quero te pegar gostoso”. E por aí vai.

Não acho que seja necessário gastar muitas palavras explicando por que as letras dessas músicas (e de algumas outras tantas que seguem a mesma “linha”) não são – nem um pouco – adequadas para crianças. Nem vou perder tempo. Se ainda o mundo estivesse desprovido de música boa, né? E olha que tem muita música “de adulto” que é ótima para criança. Mas muita mesmo. Tem até o hino do Palmeiras em último caso. Então, gente, por misericórdia, vamos filtrar os que as crianças ouvem. Vocês não podem estar falando sério que acham isso normal.

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Morri

– Mamãe, você conhece a Sandy?

– Quem é a Sandy?

– Aquele que canta com o “Julio”.

– Conheço, filha. Torci anos para ela virar a Britney Spears mas isso não aconteceu. Mas não gosto das músicas dela, não.

– E você gosta das poderosas?

(Eu jurei que eram as Super Poderosas, aquelas três menininhas da época em que minha irmã caçula tinha a idade deles).

– Como é a música das poderosas?

– Assim ó: “prepara, que agora é a hora”. Da Anitta, mamãe!

Busquei a letra completa da música no Google e quase me matei. Tá, criar filhos em uma bolha onde só podem entrar as músicas que eu gosto não pode. Proibir também não pode. Dar bronca também não, até porque eles não têm culpa nenhuma, nem entenderam nada. Chorar pode? Tô chorando muito.

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Livre estooooooooooouuuu

Música de criança gruda na cabeça de adulto de uma forma impressionantemente chata. Eu acho que canto as músicas do Frozen mais vezes por dia que eles. Eles variam entre canções diversas, eu não. Eu canto “Livre estooooooooooooooouuuu” o dia inteiro.

Teve um dia que meu filho pediu para ver Frozen antes de dormir e depois foi fazer outra coisa. Esqueceu. Pus na cama, dei beijinho, apaguei a luz, achando que eu tinha me livrado daquilo por um dia, mas, quando eu estava quase terminando de fechar a porta do quarto, cantarolei baixinho um “Livre estooooooooooooouuuuuuuuuuuu”. “Mamãe, esquecemos do Frozen, volta aqui!” – ele gritou. Não, eu não estava livre nada.

Eu canto no trabalho e deixo a música grudada na cabeça dos culegas. Dia desses, meus filhos saíram para a escola e eu fiquei me arrumando cantando “Livre estoooooooooooooooooouuuuuuu”. Aí achei que estava demais e coloquei músicas de adulto no iPad. Na hora de sair para o trabalho, desliguei o Geraldo Azevedo, fechei a porta de casa, chamei o elevador e cantarolei “Livre estoooooooooooooooooooooouuuuuuuuuuu”. Inferno.

Algum dia eu vou ficar livre disto, meldels?

 

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Dor de barriga

Entro no quarto de manhã e encontro minha filha sentada na cama.

– Mamãe, eu tava com dor de barriga e você não veio antes.

Aquela dor no coração: – Filha, a mamãe estava tomando banho e acho que não ouvi. Me perdoa. Da próxima vez, grita “mamãe” bem alto que venho, tá?

– Eu não chamei “mamãe”. Eu cantei.

– Você cantou pra me avisar que estava com dor de barriga? Cantou o quê?

– Cantei assim: “cai, cai, balão, cai, cai, balão, aqui na minha mão”.

Vontade de rir: – Você cantou “cai, cai, balão” pra me avisar que estava com dor de barriga?

– É! – cara de “que coisa mais óbvia, mãe”.

Adoro ter filhos.

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Aquela da sua cabeça

– Mamãe, coloca aquela música que você gosta, aquela da sua cabeça?

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Ursinho Pimpão

Se você foi criança na década de 80, possivelmente tem vontade de chorar de saudade ao ouvir a Simony cantando Ursinho Pimpão com essa voz fininha (sorry, não achei um vídeo melhor).

Eu agora tenho vontade de chorar de emoção cada vez que eu meu filho me pede: “mamãe, coloca o Ursinho Pimpão? Posso cantar junto?”.

Ou cada vez que ouço minha filha cantarolar: “manhã já vem, Pimpão. Dorme, Pimpão.”

Muito amor por esses bebês retrô.

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Leitura para mamães

Eu não tive muito tempo para ler livros e mais livros sobre maternidade porque meus filhos chegaram em tempo recorde. Cheguei a comprar esse aqui, mas não passei da página 5. Esses livros me lembram auto-ajuda e me dão um certo pânico. Coisas do tipo “como ser uma boa mãe” ou “como educar bem seus filhos” me dão medo. E eu também tive sorte de nunca precisar ler livros como esse aqui, porque meus bebês sempre dormiram lindamente a noite toda.

Mas eu trombei com um livro na África do Sul sobre maternidade em um dia em que todos os livros que eu tinha levado para lá já tinham acabado, chamado “French children don’t throw food, e comprei. Escrito por uma norte-americana casada com um inglês que vive na França com seus filhos, ela começa o livro comparando as mães francesas – elegantes, bem-vestidas e calmas – com as mães norte-americanas – descabeladas, fora de forma, usando roupas de moletom e gritando e correndo atrás de crianças mal-educadas. E ser uma mamãe-descabelada-gritando é algo que ninguém se planeja para ser, né?

A autora descreve no livro as principais coisas que aprendeu com suas amigas e colegas francesas. Algumas dessas coisas, como não se permitir comer o que quiser e engordar horrores na gravidez (porque depois o trabalho de voltar ao manequim original é maior) e esperar um pequeno tempo antes de sair desesperada para acudir um bebê chorando, não serviram para meu caso porque eu não engravidei e não cuidei de um recém-nascido. Mas eu gostei de uma porção de coisas que ela escreveu e tento fazer parecido.

Uma das primeiras coisas que ela conta é que sempre se sentia envergonhada quando levava o filho em restaurantes na França, pois eles eram a única família que não conseguia jantar tranquilamente. Cena clássica que apavora muitos amigos: crianças correndo e gritando porque não querem ficar sentadas à mesa e mães correndo e gritando atrás das crianças tentando contê-las. Quando saímos para comer fora com os bebês, eles participam o tempo todo do programa. Ficam sentadinhos no cadeirão, interagindo conosco (conversando, cantando ou brincando – nunca coloco Galinha Pintadinha no Ipad só para poder comer em paz, gente). Comem ao mesmo tempo que comemos, o mesmo tipo de comida, comem sobremesa, esperam a conta chegar e só então se levantam conosco para ir embora.

A segunda coisa é saber preservar a vida e rotina de adulto. É claro que nossas vidas mudam muito quando os bebês chegam e eles se tornam prioridade. Mas não dá para deixá-los tomar conta de todo o tempo do mundo. Gosto que meus filhos durmam cedo porque gosto de jantar com calma, gosto de ler, gosto de escrever, gosto de ouvir música de adulto e assistir filmes de adulto, gosto de receber amigos para conversar, e não dá para fazer essas coisas com dois brigadeirinhos falantes e bagunceiros acordados. Depois das 20h é o tempo que mamãe e papai têm vida de adulto em casa. Não gosto de brinquedos espalhados pela casa toda pelo mesmo motivo. É claro que é uma casa onde moram crianças, e temos cadeirões na cozinha e uma mesinha onde ficam os brinquedos na sala de estar, mas os brinquedos e coisas de crianças não dominam a decoração fora do quartinho deles.

Outro ponto é sobre o relacionamento deles com outras pessoas. Além de já terem aprendido a falar “por favor”, “obrigado” e “desculpas”, faço questão que eles digam “oi” e “tchau” para todos as pessoas que encontram. Eles cumprimentam todas as visitas que vêm em casa, a moça que trabalha aqui, os vizinhos no elevador, as outras pessoas no supermercado. Estamos ensinando os dois a esperarem a vez para falar e a não interromperem uma conversa. E estou struggling para ensinar a pedir as coisas sem chorar, sem exigir ou sem espernear, mas não vou desistir. 🙂

Nós também estamos ensinando – ou tentando ensinar – o conceito de autonomia. Toda semana eles ganham alguma nova responsabilidade ou passam a fazer alguma coisa sozinhos. Comem sozinhos na maioria das vezes, estão aprendendo a pegar os sapatos no armário e calça-los sozinhos, guardam os brinquedos e recolhem coisas do chão sozinhos se fazem alguma bagunça. Mais que isso, ultimamente estou dando autonomia para resolverem sozinhos seus próprios problemas. Todo mundo que tem irmão sabe que é normal brigar, e eu passei um bom tempo fazendo o papel de conciliadora, o que, além de tudo, me estressava demais. Não é fácil ficar abaixada para olhar nos olhos de dois bebês de dois anos chorando, apontando pro irmão, e reclamando algo como “pegou meu brinquedo buááááááá´”. Agora deixo que eles resolvam sozinhos quem vai pegar tal brinquedo ou quem vai fazer alguma coisa primeiro, e só fico de olho para que não se machuquem – porque não pode resolver conflito com mordidas e arranhões, bebês!

E, por fim, eles estão aprendendo que quem decide as coisas em casa é a mamãe ou o papai. Eu não negocio coisas como hora de dormir, hora do banho ou hora de comer. Não tem chantagenzinha do tipo só-um-desenho-e-depois-vai-pra-cama. Hora de ir dormir é hora de deitar, ficar quietinho e apagar a luz. Não tenho medo de traumas por ouvir um “não pode” ou “precisa esperar um pouco”, porque acho que eles precisam aprender a lidar com frustrações. Claro que não vivemos em um quartel general: eles escolhem o que querem fazer nas horas de brincar e participam de um monte de tarefas em casa só se quiserem – como regar plantinhas, por exemplo.

O livro é genial, gente. E vocês, mamães, têm alguma outra leitura para indicar?

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Falando no telefone

Papai foi buscar os bebês na escola hoje, e eu liguei para saber se estava tudo bem. Eles ainda estavam no carro e ele me colocou no viva-voz. Aí eu ouço:

– Mamãe, vou na casa da vovó Cida!

– Mamãe, vou ouvir a barata! (uma das músicas da Galinha Pintadinha que eles adoram)

– Mamãe, tô com dor de orelha! (tadinho do meu filho, que ganhou uma dorzinha de ouvido hoje)

Meus bebês já aprenderam a falar no telefone, gente. Vontade de ir até lá dar uma amassadinha em cada um deles.

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Minha briga com o penico

Nós ganhamos um penico que tem um simpático botão para tocar musiquinha. Musiquinha irritante de brinquedo, sabem? De uns tempos para cá, o penico resolveu disparar a irritante musiquinha no meio da madrugada, sem parar (ele devia fazer isso durante o dia também, mas nunca estamos em casa para notar). O banheiro dos bebês não fica longe do meu quarto e aquela música começou a entrar nos meus sonhos, e eu precisava levantar, pegar o penico e levar para a área de serviço, bem longe da minha cama.

Só que eu sempre esqueço de avisar a faxineira por que o penico foi parar lá longe, e ele volta pro banheiro no dia seguinte. E volta a invadir meu sono durante a madrugada. Essa madrugada tive que levantar de novo e levar o penico pra bem longe. Quando entrei na cozinha de manhã com os bebês para o café da manhã, a porcaria do penico ainda estava por lá cantarolando. Aí eu resolvi resolver aquilo de uma vez por todas e abri a caixa de ferramentas atrás de uma chave de fenda para desmontar o dito-cujo (não, não tem botão “desligar” no penico).

Enquanto os dois tomavam leite com carinha de interrogação, eu sentei no chão na frente deles e desmontei um monte de peças plásticas até ficar frente a frente com uma pecinha de metal cantarolando para mim. E. Não. Parava. De. Jeito. Nenhum. Poxa! Aí olhei de novo pra caixa de ferramentas e vi um lindo martelo. Foi mais forte que eu. Dei uma martelada com gosto na pobre pecinha, com muito mais força do que precisava para estraçalhar a coitada. Yeah, venci o penico!

Quando olhei para os bebês, eles estavam me olhando com um jeito muito engraçado. Com cara de quem descobriu que a mamãe não bate bem. Vinte segundos depois, minha filha – claramente frustada – perguntou:

– Cabô música, mamãe?

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