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Xingamentos

– Você é feio, horroroso, mal educado e eu vou te matar!

Ô. Ô. Ô. Podem parar. Entendo que brigam, ficam com raiva e querem xingar, mas dizer que vai matar não pode não. Tomam bronca, ficam de castigo.

– Gente, falar que vai matar é feio, não pode. Ninguém quer que o irmão morra. Quando a pessoa morre, ela some, desaparece, nunca mais volta, acabou pra sempre. Entenderam? Achem outro xingamento.

– Entendemos, mamãe.

Dali uns 15, eu ouço:

– Você é feio, horroroso, mal educado e eu vou trancar você em uma jaula!

:-/

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Sejamos claros

Achei um rascunho que estava guardado há exatamente um mês. Para comemorar, resolvi publicar, sem tirar nem colocar nenhuma palavra. Aí vai.

Meu filho deu um escândalo comigo outro dia na porta da escola. Ele queria alguma coisa, não deixei e ele liberou toda a raiva de seu coraçãozinho, com frases lindas de morrer:

– Você é muito feia! Eu não gosto de você! Eu não sou mais seu amigo! Tô muito bravo com você! Vai embora!

Bem alto, pro bairro inteiro ouvir. Morri de raiva, confesso. Mas não dava para ter uma conversa naquele momento com ele naquele estado de fúria e fui embora. Fui embora aliviada porque ia conviver com pessoas adultas e esquecer aquele episódio imaturo do início do dia. Porque o mundo das pessoas adultas é maduro, ponderado e equilibrado, certo?

Não.

Curiosamente nesse mesmo dia uma série de episódios me deixou mais brava ainda que a cena na porta da escola. Em resumo: gente falando mal de outras pessoas pelas costas e gente com dificuldade de dar feedbacks claros e diretos para os outros. Esse é o mundo dos adultos, na verdade.

Voltei para casa com saudades deles e com vontade de agradecer a sinceridade dos dois. Fiquei com vontade de elogiar e reconhecer a capacidade de dizer o que pensam na minha cara, olhando nos meus olhos. Fiquei me perguntando em que momento da vida a gente desaprende que falar o que pensa faz bem para os relacionamentos (filho, obviamente você poderia escolher melhor as palavras) e que não adianta nada ficar falando mal de alguém para os outros.

Nossa relação em casa é um belo exemplo de avaliações 360º. Eu direciono, deixo claro o que espero deles, avalio os dois e dou feedbacks constantemente. Eles me devolvem feedbacks dizendo o que devo melhorar e quando estou exagerando. E se avaliam entre si também e deixam muito claro quando não gostam de alguma coisa que o irmão fez. É um processo muito transparente e todo mundo se expressa e é ouvido.

Dá para a gente aprender com as crianças, povo?

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Palmadas, não, pliz

Eu sou contra dar palmadas em crianças para educá-las. Apanhei quando era criança, tanto da minha mãe quanto do meu pai. Não tenho traumas, não tenho raiva disso, também não sei dizer o quanto isso foi bom ou ruim. Ser contra palmadas não tem nada a ver com a forma como fui educada. (mãe, pai, amo vocês, tá?)

Sou contra palmadas simplesmente porque acho que violência não educa ninguém. Violência é medo, opressão. Violência não gera compreensão, assimilação do certo ou errado, nem argumentação, nem nada. Chicotear escravos era legal? Polícia que espanca manifestantes é legal? Pessoas que lincham bandidos (ou pessoas que foram confundidas com bandidos) é legal? Bater na esposa/ namorada/ companheira é legal? Então por que é ok bater nos filhos?

Só é ok porque as pessoas entendem que os filhos são delas e elas podem fazer o que quiser com eles. Mas não vou discutir isso. Vou discutir duas coisas que me incomodam nas palmadas.

Coisa 1:

Com que moral uma mamãe ou um papai que bate em seu filho explica para ele que não pode bater nos amiguinhos/ professora/ irmão/ vizinho ou sei lá mais quem? Como faz para explicar que não pode resolver as coisas no tapa se o próprio pai ou a própria mãe não dá o exemplo?

Coisa 2: (a coisa que mais me incomoda)

Filhos são seres capazes de nos tirar do sério como ninguém. Eu sou mãe e sei bem o nervoso que dá uma criança que insiste em não obedecer. É irritante. Aí no meio desses ataques de raiva que dominam nossos corações, vem aquela vontade de dar um tapão na criança para ver se ela entende o quanto a gente está nervosa com a situação. Aí que mora o perigo: as pessoas batem porque querem aliviar a raiva, e não porque estão querendo educar.

Eu converso muito e penso muito sobre o comportamento dos meus filhos, porque quero encontrar a melhor forma de educar. Penso em quando é melhor ignorar, quando é melhor tirar alguma coisa que eles gostam, quando é melhor colocar no quarto de castigo, qual o melhor momento para ter uma conversa. Nunca passei por uma situação onde pensei: “ah, acho que agora é melhor bater neles porque assim vão aprender que isto é errado”. Duvido que alguém pense e planeje o melhor momento para uma palmada, gente. Palmadas acontecem sem planejamento, no meio da fúria. E no meio da fúria, as pessoas podem bater mais forte do que queriam e mais vezes do que queriam. Dói. Machuca. Ofende. E não educa. E outra coisa: queremos filhos que nos respeitam ou filhos que têm medo da gente?

Crianças precisam ter limites e precisamos ser firmes. Dá um trabalho do cão. Mas somos os adultos, as pessoas mais maduras da relação e precisamos ser equilibrados, coerentes, justos e humanos. Vamos pensar um pouquinho mais antes da palmada? Tem outras alternativas, te juro.

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A missão de educar

Teve uma época em que eles tinham dificuldade ou demoravam para assimilar o que era certo ou errado, o que podia ou não podia fazer, e eu tinha que falar 492 vezes a mesma coisa. Hoje eles já sabem. Hoje eles conhecem a maioria das regras, sabem o que esperam deles nas situações cotidianas. Tô falando das coisas simples, claro: não fazer xixi/ cocô na roupa, não falar com a boca cheia, não cuspir, não bater/ morder/ empurrar os amigos, não gritar, não pular no apartamento porque temos vizinhos no andar de baixo que gostam de descansar etc. Eu sei que eles já aprenderam todas essas coisas.

Entramos, então, na fase do vamos-fazer-coisa-errada-de-propósito. Para irritar, para provocar, para chamar atenção, para testar os limites ou a paciência alheia, não sei. Mas entramos nessa fase em que eles sabem que o comportamento não é legal, sabem que vão tomar uma bronca e ficar de castigo, mas fazem assim mesmo. Fazem e avisam que fizeram, rindo, só para testar mais um pouquinho.

Parênteses: deixa eu ser justa com meu filho. A protagonista desse post é minha filha. Mano-do-céu, como minha filha está difícil.

Não fosse só a irritação e o trabalho que dá limpar/ arrumar/ dar bronca/ conversar/ ouvir berros, tem também o medo de estar fazendo tudo errado. Por que olha, é difícil saber exatamente o que fazer. Nunca sei direito o balanço. Quando sou firme, dou castigo ou consigo ignorar a confusão, fico com medo de ter sido dura demais e de ter dado a impressão de que não gosto deles. Quando invisto em uma conversa carinhosa e procuro entender o que está acontecendo, fico com medo de ter sido mole demais e não ter mostrado autoridade. E minha filha vem inventando confusões novas para chamar a atenção, e na hora nunca consigo pensar direito na melhor forma de educar.

Eu sei que é neura. Mas acho que preciso fazer um curso de “como lidar com crianças desobedientes”, módulos básico, intermediário e avançado.

PS: Só para constar: sou contra palmadas, porque tenho certeza que violência não educa. Não gosto de gritar, porque eles me imitam demais – ou seja, aprendem a gritar com os outros quando estão bravos. Se esses itens estiverem no conteúdo programático, o curso não serve.

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Mamãe frustrada

Meus queridos,

Estou tentando ter essa conversa com vocês quase todos os dias, mas sei que vocês ainda não conseguem entender tudo o que estou falando. Só que eu vou continuar insistindo. Vou falar sobre isso um pouquinho por dia, todos os dias, até vocês conseguirem me entender.

Fato é que está muito difícil fazer qualquer coisa com vocês dois.

Pronto. Falei. Não tá dando.

Tá. Muito. Difícil.

Tô cansada de crianças que choram por qualquer coisinha, de crianças que correm para longe de mim e me obrigam a segurar firme as mãozinhas o tempo todo (só tenho duas mãos, lembram?), de crianças que fazem birra, de crianças que mexem em tudo que está pela frente sem perguntar se pode antes, de crianças que – do nada – resolvem fazer alguma coisa chata só para me irritar (exemplos: ficar em pé na cadeira para comer em pé, assoar o nariz sem papel e vir me mostrar melecas escorrendo por cima da boca, jogar coisas no chão). É chato, tô cansada, tá?

Eu programo um monte de coisas para fazermos juntos no finais de semana porque quero que vocês se divirtam e porque quero levá-los para ver o mundo! Invento um monte de coisas legais para levar vocês dois. E pretendo continuar levando. Mas, filhos, por favor, colaborem com a mamãe? Não tá dando para ficar fazendo um monte de programas que não são legais para mim, não. Eu volto para casa cansada, irritada e arrependida por ter saído com vocês, porque vocês não me obedecem. É muito chato. Tá quase valendo mais a pena passar os dias trancados em casa para não ouvir gritarias e para não ter que correr longas distâncias atrás de seres que não conseguem ficar parados ao meu lado.

O que eu espero de vocês dois, de todo o meu coração:

  • Que eu não tenha que chegar no restaurante e pedir para o garçom tirar todas as coisas de cima da mesa para que vocês não comam sal direto do saleiro, que não amassem todos os guardanapos, que não joguem azeite no cabelo da(o) irmã(o), que não batam o prato de porcelana na mesa. Que eu não tenha que pedir para não falar alto, para não bater talheres na mesa, para não jogar coisas no chão. Basicamente, que vocês não façam com que as pessoas das mesas vizinhas me olhem com cara de “restaurantes não são para crianças”, porque eu detesto fast-food.
  • Que eu consiga soltar a mão de vocês para fazer coisas necessárias, tais como: pegar minha carteira para pagar uma conta, amarrar meu tênis, cumprimentar uma pessoa.
  • Que vocês não chorem/ não façam escândalo na hora de ir embora. Melhor: que não chorem em ocasião alguma que não seja doenças ou machucados.
  • Que vocês não ponham a mão em NADA que não seja de vocês.
  • Que vocês fiquem sentados ao meu lado quando estivermos esperando alguma coisa (de consultas médicas a peças de teatro).

Me ajudem, por favor? Vamos começar a entender que os passeios precisam ser legais para nós três? Vamos começar a entender que eu tô tentando ser legal com vocês dois e tô esperando que vocês sejam legais comigo também? Por favor?

muitos beijos

Mamãe Ruri

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Vontade de me jogar

Ontem eu trombei com esse texto aqui e morri de rir. Obrigada, de coração, pela sinceridade, Fernanda Nunes.

Eu nunca pensei em jogar meus filhos pela janela, isso não. Mas eu já olhei milhares de vezes para a janela e fiquei pensando que a verdadeira função das redes de proteção é evitar que a mamãe se jogue da janela. Eu já vivi milhares de situações irritantes e fiquei repetindo para mim mesma: “respira, Ruri, não pula da janela”. Vamos ser práticos: jogar um filho da janela é burrada. Você fica sem o filho, com a dor e vai pra cadeia. Agora, se jogar da janela deve ser libertador. Imagina só aquele ventinho na cara, braços abertos sentindo a força da gravidade e o choro das crianças ficando lá loooooooooonge. Delícia.

Funciona assim, gente: criança é linda, é fofa, é engraçadinha, é companheira, é um amor, mas só quando ela está de bom humor. Só quando ela está sorrindo. Só que criança chora. E não estou falando sobre o choro com motivos. Eu entendo que existem motivos para chorar: um machucado, uma frustração, um irmão que beliscou. O problema é que criança chora e 95% dos choros são birras ou acontecimentos irritantes do dia a dia.

Funciona assim:

– Mamãe, eu quero bolo de cenoura. (minha filha durante um café da manhã no meio da semana)

– Filha, não tem bolo de cenoura em casa. (eu respondo a verdade, porque nem cenoura em casa eu tinha naquele dia e quase nunca tem algum bolo na nossa casa anyways)

– Mas eu querooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo. Buááááááááááááááááááááááááááá! Me dáááááááááááá! Eu não vou pra escola hojeeeeeeeeeee! Buááááááááááááááááááááááááááá!

Mano, é sério.

E não é só choro ou gritaria. Minha filha gosta de se jogar no chão durante a birra. Vem diminuindo porque ela já percebeu que eu não sou o super-homem e não atravesso os 10 metros que nos separam em 3 segundos para evitar que a cabeça dela bata no chão quando ela se joga loucamente para trás. Desculpa, filha, mas não tenho super poderes. Aí me aconselharam ignorar e sair do ambiente. Eu faço isso. Eles correm atrás de mim. Não para pedir desculpas, né? Eles correm atrás de mim para continuar gritando do meu lado, para deixar bem claro que eu tenho que ouvir o choro. Aí eu continuo ignorando. Mas o objetivo é me irritar, então eles fazem coisas que me fazem ter vontade de me trancar numa caixa negra com isolamento acústico: tiram sapatos e meias e atiram longe, cospem no chão, assoam o nariz com a mão e limpam na parede, derrubam o que estiver na frente deles no chão. Eu não grito, porque quero dar o exemplo. Eu não bato, porque quero dar o exemplo. Então toda a raiva e irritação vão se armazenando dentro de mim e é daí que aparecem pensamentos suicidas.

Aí você passa a viver em estado de atenção, tomando cuidado com tudo o que fala ou faz para nenhuma criança chorar. Se eles estão quietos e brincando, evito me mexer. Tenho preguiça de situações que podem envolver choros, birras e escândalos, e eu sei que é ridículo. Mas veja só: eu estava outro dia, um sábado preguiçoso, em casa com os dois e pensei em descer para o parquinho do prédio. Mas aí eu pensei que uma hora eu ia querer subir, e eles iriam (dois, tá?) chorar e gritar e espernear, e eu desisti de ir. Simples assim, ficamos trancados em casa para não ter choro. Às vezes, tenho preguiça de deixar brincar com alguma coisa mais elaborada, como massinhas ou tintas, porque sei que na hora de parar de brincar eles vão chorar. Às vezes, desconverso para não dar respostas que vão levar a choros desnecessários, como “mamãe, posso ir para a escola de pijama?”. Eu simplesmente mando um “nossa, acho que vai chover no final de semana” e fica tudo bem. Esses dias, me vi respondendo para meu filho:

– Não, não pode brincar de Lego. Toda vez você chora quando falo que está na hora de dormir e precisa guardar. Toda vez você promete que não vai dar escândalo, mas dá escândalo do mesmo jeito. Não pode brincar de Lego hoje que eu não quero ouvir choro.

Tadinho. Chorou muito, óbvio. Mas pelo menos foi um choro com motivos. Eu não fiquei irritada.

Toda vez que vou fazer alguma coisa diferente com eles, eu preparo um roteiro mental de tudo o que vai acontecer para alinhar tudo com eles. É cansativo demais para uma pessoa P (sou ENTP, gente). Mas eu tento explicar em detalhes onde vamos, como vamos, com quem vamos e quais são as regras (não pode chorar – óbvio, não pode gritar, não pode mexer em nada, precisa ficar sentado). Mas é sempre batata: ou eu esqueço de um detalhe ou eles esquecem alguma regra ou alguma coisa não sai como planejada, eles se estressam, eu me estresso, e tenho pensamentos suicidas.

O problema que acontece comigo (e espero que eu seja normal) é que minha irritação e falta de paciência com choros sem motivo vai de 0 a 100% em questão de segundos. É muito difícil controlar. Porque você já sabe que é birra, que depois a criança vai prometer que não vai fazer mais, mas vai fazer, que vai demorar para parar de chorar e que você vai ter pensamentos suicidas. Eu não fico irritada desse jeito que fico com meus filhos com mais ninguém. Nem no trânsito, nem com meu chefe, nem com nenhum amigo, nem com o vizinho, com ninguém. Mas eles me irritam muito e isso me deixa culpada. Mas não dá para evitar: eles fazem birra de novo, eu me irrito de novo.

É tão difícil que eu já dei bronca nas amigas próximas que são mamães porque elas nunca me alertaram que seria tão difícil. Ninguém nunca me disse que todo o amor que você ganha com a maternidade vem acompanhado de crises constantes de irritação. Então eu sou sincera com as minhas amigas que não têm filhos ainda: vocês não vão se reconhecer na primeira crise de fúria ao ver uma criança fazendo birra. É f. Vale a pena, mas é f.

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Menino bonzinho

Depois da bronca gigantesca que dei no meu filho porque ele se soltou e correu para o meio da rua, os dois ficaram muito bonzinhos com esse assunto. Andam de mãos dadas, ficam ao meu lado, não correm. Talvez eu nem precisasse ter sido tão dura, mas ele podia ter morrido atropelado. Foi mais forte que eu.

Mas pelo menos funcionou… Outro dia cheguei na porta da escola e uma tia estava no portão. Coloquei meu filho em pé na calçada bem perto de mim, soltei a mãozinha dele para tirar minha filha do carro e a tia o chamou para entrar com ela na escola. Eram dois metros só, mas ele respondeu:

– Não pode. Vou ficar aqui com a mamãe.

Lindo.

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Buscando a babá número 2

Na verdade, não é de uma babá cheia de qualificações específicas para cuidar de crianças que eu preciso. Preciso de alguém que olhe os dois e não os deixe cometer suicídio durante 1 hora por dia, no período entre chegar da escola com a perua e esperar a mamãe chegar em casa. O tempo é curto e o trabalho é simples, então a primeira pessoa que procurei foi a moça que já trabalhava em casa há um tempão e que cuida da limpeza e da arrumação. Ela é ótima pessoa, de confiança e já conhecia os brigadeirinhos há bastante tempo, então topou quando eu propus mudar os horários e ganhar um aumento no final do mês.

Em apenas um mês ela desistiu e veio me falar isso em uma conversa sincera. Não por causa do trabalho em si que duas crianças dão para um único adulto, porque ela nem teve tanto trabalho braçal assim. Nesse mês todo só pedi para ela dar banho nos dois uma única vez, porque eu estava presa em um congestionamento infernal. O grande problema é que eles não a obedeciam e cuidar de duas crianças desobedientes enlouquece qualquer um. Eu nunca tinha visto os dois serem mal educados com ninguém. São levados e bagunceiros, mas respeitam todo mundo. Sempre me orgulhei por ter dois filhos sociáveis, que vão com todo mundo, que estão sempre sorridentes e que em geral são muito educados. Perceber que meus filhos estavam realmente tratando mal alguém me deixou triste, mas eu não consegui resolver a situação, nem ela, e então ela me avisou que não queria mais continuar cuidando dos dois no final da tarde.

Meus bebês estão passando por uma fase em que buscam limites e testam as pessoas o tempo todo. Sabem que não podem mexer em alguma coisa, mas vire e mexe colocam os dedinhos lá para checar se algum adulto vai realmente repetir que não pode mexer. Insistem na bagunça que estão fazendo até tomar uma bronca maior ou ficar de castigo. Ficam nervosos e fazem coisas que sabem que não pode fazer de propósito. Fazem birras, tentam dar ordens, experimentam não obedecer, choram. É duro. É difícil de saber o que fazer nessas horas. É irritante. Às vezes, é desesperador.

Para mim, o x da questão na hora de colocar limites e mostrar o que pode e o que não pode fazer é coerência. Não invisto em gritos ou chiliques com os dois, mas tento sempre conversar, explicar e ser coerente. Se defino que não pode entrar na cozinha sem um adulto, explico que não pode e não tem exceção, nunca pode entrar na cozinha sozinho – não existe um “só hoje” ou “deixa entrar para parar de chorar”. Se aviso que vão ficar de castigo ou vão ter que guardar um brinquedo porque estão insistindo em fazer alguma coisa que já pedi para parar de fazer, eu cumpro. Existem coisas que são negociáveis e coisas que não aceito negociar: tem que tomar banho, escovar os dentes e ir para cama na hora certa e pronto. Sei que vão chorar, espernear, gritar e se jogar no chão, mas não volto atrás, respiro fundo, enfrento a birra, mantenho minha palavra. Cansa, mas é o meu jeito de mostrar para eles os limites que eles precisam respeitar.

Durante esse mês, vi acontecer em casa algumas cenas que me deixaram na dúvida sobre quem estava no controle por aqui. Ela os colocava nos cadeirões para tomar leite e, enquanto preparava os copinhos, deixava cada um com um brinquedo na mão. E eles jogavam o brinquedo no chão de propósito, ela pegava e dizia para não jogar de novo porque da próxima vez não iria pegar. Mas eles jogavam de novo, e ela ameaçava não pegar, eles choravam, aí ela pegava para parar de chorar e avisava que era a última vez que iria pegar. Mas sempre pegava de novo na próxima vez, e na outra também. Não tem como uma criança de dois anos entender o que está acontecendo se um adulto não é coerente no que fala.

Eu a orientei para ser firme com os dois, sem nenhuma agressividade, claro. Falei que não adiantava ameaçar e não cumprir, porque apenas a ameaça de “olha, que assim não vai mais brincar” não adiantava nada. Mas eles a venciam no choro e ela fazia exatamente o contrário do que tinha combinado ou avisado para eles. Faziam o que quisessem quando estavam com ela, e eu entendo que é muito difícil de aguentar os dois quando eles estão desembestados a fazer o que bem entendem. Um dia cheguei em casa e ouvi meu filho dizendo para a babá que ela estava de castigo e que ele não iria mais falar com ela, e foi frustante. Eu não estava gostando nem um pouco do comportamento deles com ela e percebi que não consigo ficar tranquila sabendo que eles estão completamente sem limites. Toda a situação me chateou demais.

Tentei conversar com eles várias vezes, para falar sobre respeitar, obedecer, tratar bem, colaborar. Não resolveu. Chamei a atenção dos dois várias vezes quando a tratavam mal na minha frente, mas depois percebi que chamar atenção por desrespeitar a babá era muito parecido com chamar a atenção quando eles brigam um com o outro: eles param, mas é só eu virar para o outro lado que recomeçam. Em pouco tempo, comecei a ouvir a babá dizer para eles “se não parar, vou chamar sua mãe para dar uma bronca” e me dei conta que ela nunca colocaria ordem nos pequenos. No fim, achei legal que ela também percebeu.

Babá número 2, aí vamos nós.

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A principal função dos papais

Quando nós ainda não temos filhos, mas já estamos sonhando com a chegada deles, temos a doce ilusão que vamos ter muito trabalho com temas comuns, tipo alimentação, sono, educação e saúde, não é? Antes de ter filhos, eu achava que seria dificílimo enfrentar doenças, noites mal dormidas, crianças não querem comer e as milhões de dúvidas para escolher uma escola e decidir em que momento começar uma educação bilíngue.

Eu me enganei. Essas coisas são simples de resolver. Difícil mesmo é evitar o suicídio infantil, minha gente. Hoje eu invisto 90% do meu tempo tentando evitar que meus filhos se matem. Não sei se estou indo contra a seleção natural ou se existem outras espécies na natureza que também nascem com tendências suicidas como o ser humano. Mas a verdade é que a principal função dos papais até os filhos completarem três anos (assim espero) é mantê-los vivos.

Criança pequena é fogo, não dá para desgrudar o olho um segundo. Você olha o celular para conferir as horas, e a criança sobe na mesa de jantar. Você olha para o lado oposto, e depois encontra a criança pulando em cima de um banco. Ou dependurada na janela. Ou correndo como um monstrinho desgovernado rampa abaixo. Ou tentando fazer carinho em um cachorro imenso que ela nunca viu antes. Ou correndo para o meio da rua, sem nenhum incômodo com carros. Ou tentando engolir brinquedos com peças pequenas. Ou colocando feijões no nariz ou no ouvido. Criança gosta de abrir o gás do fogão e de mexer em gavetas com facas, então nunca podem ficar sozinhas em cozinhas. Criança gosta de correr na beira da piscina mesmo sabendo que não sabe nadar. Criança não faz a menor cerimônia para escalar uma estante para pegar alguma coisa no alto. Criança gosta de pular e dançar no banho, justamente depois que ensaboamos o pé e não deu tempo ainda de enxaguar.

Em casa nós temos elementos básicos de segurança (portãozinho na porta da cozinha, telas na janela, travas em alguns armários e gavetas), então aqui dentro eu não fico tão estressada. Tenho chiliques em garagens e na rua, porque meu filho foge e agora corre mais rápido que eu. Eu não uso nem pretendo usar, mas juro que entendo as mamães que usam coleiras em seus filhos. Juro. Não acho que seja a melhor forma de educar, mas tenho certeza que meus cabelos continuariam pretos alguns anos a mais. Não tem nada que me tire mais do sério do que um bebê tentando soltar minha mão para correr na rua.

Eu já expliquei, conversei, pedi, implorei, chorei, mas só parece ter funcionado mesmo depois que ele tomou uma bronca do tamanho da torcida do Corinthians no último sábado. Desde então está grudado em mim, mesmo que eu solte a mãozinha dele. Minha filha entendeu a bronca por tabela e está boazinha também. Vamos acompanhar até quando, né?

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Dedo-duro

Primeiro vieram as palavras com duas sílabas (mamãe, papai, bola, leite). Depois, palavras compridas e complicadas ganharam vez (cachorro, escola, elefante, borboleta). E, por fim, uma palavra começou a vir junto com outra, e mamãe e papai vibraram com as frases que eles começaram a falar (mamãe chegou, boneca caiu, quero leite)!

Eles ainda não contam coisas que aconteceram no passado, como o que fizeram na escolinha durante o dia. Não vejo a hora de começar a ouvir as histórias sobre o que aprenderam no dia ou do que brincaram. Por enquanto eles só expressam desejos (mamãe, quero água) ou descrevem situações (papai, brinquedo caiu no chão). É muita fofura!

Descrever situações significa, na maioria das vezes, narrar o que o irmão está fazendo. Então, se não estou olhando para os dois, começo a ouvir um monte de:

– Mamãe, a Ruth tá cuspindo!

– Mamãe, o Isaac pegou o celular!

– Mamãe, a Ruth mexeu na planta!

O problema é que essas coisas fazem o irmão tomar uma bronca. E fazer o irmão tomar bronca diverte demais o narrador. Mas não dá pra virar, ver sua filha propositalmente toda babada e não ir lá explicar pela milésima vez que não pode cuspir na roupa. Só que quanto mais eles percebem que narrar o que o irmão está aprontando é divertido, mais fazem isso. Estou incentivando dois bebês dedos-duros, gente!

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