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Mãe, tô voltando

Só nas últimas semanas:

  • Meu aspirador parou de funcionar
  • Os canos das máquinas de lavar roupa e louça estouraram, molharam toda a área de serviço e tive que chamar um técnico (e limpar tudo depois)
  • Meu fogão também pifou, então primeiro eu tive que chamar o vizinho (emergência) depois um técnico (agendado)
  • Meu aquecedor começou a cheirar gás e tive que chamar outro técnico
  • Deu bichinho estranho na minha composteira
  • Apareceram pulgões na minha árvore da felicidade
  • Isaac e Ruth se penduraram na cortina do quarto e derrubaram tudo, inclusive um pedaço da parede, e agora preciso chamar um pedreiro
  • Meu namorado consertou o vazamento do meu box que estava lá há um ano
  • Um banco de madeira desmontou e meu namorado teve que colar tudo de volta
  • Minha impressora passou dias sem reconhecer a rede sem fio e eu fiquei dias tentando descobrir como fazer para ela voltar a funcionar
  • Tive que chamar um moço para limpeza de sofá e poltrona porque Ernesto emporcalhou tudo

Fora a lista de coisas que estão quebradas mas ainda não entraram no planejamento, tipo o ventilador de teto que não liga (oi, inverno) e o varal que não sobe nem desce (tá fixo).

Tudo isso para dizer que desisti de ser adulta. Essa coisa de querer ser independente, ter o próprio lar e cuidar do próprio nariz é supervalorizada.

Mãe, quando você voltar de férias vai me encontrar morando na sua casa, esperando você fazer meu jantar e lavar a minha roupa.

Te amo, mãe.

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Quatro coisas que amo em você

(mãe, pai, tem pornografia no final)

Durante muito tempo, eu falava sobre os bofes (aprendi essa palavra hoje) usando os gostos, os hobbies, os trabalhos deles. Era mais ou menos assim: ele é super esportista, nem um pouco sedentário. Ele prefere a mostra internacional de cinema iraniano ao Fantástico. Ele votou no Haddad e não no Dória. Ele não ouve funk ou axé, só música erudita. Basicamente as coisas que os caras faziam por si só já podiam definir se eram caras bacanas ou não.

Mas nesse dia dos namorados eu fiz um balanço de por que tenho certeza que estou vivendo o melhor começo de relacionamento da minha vida inteira, e concluí que nada tem a ver com hobbies ou gostos. Tem a ver com a gente, com a forma como ele me trata, com o jeito que ele é.

São quatro coisas que amo no meu namorado:

1) Não tem aquele machismo de achar que ele (o homem) é melhor que eu (a mulher). Não existe nenhuma questão por eu ganhar mais ou por ser selecionada para projetos e ele não; ele me admira, comemora e apoia de forma muito sincera. Nós passamos muito mais tempo na minha casa que na dele porque eu tenho cachorro, e ele não se comporta como visita. Pelo contrário, ele arruma minha cama, lava a louça, coloca roupa suja no lugar e passeia com o cachorro para mim. A casa não é dele, mas ele participa quando está lá porque entende que não estou oferecendo um hotel – e nunca tivemos essa conversa, ele simplesmente é assim. Com um mês de namoro, e sem nenhuma pretensão de parar de usar camisinha, eu disse para ele que gostaria que nós dois testássemos todas as DSTs. Ele não questionou, não disse que eu estava duvidando dele ou o chamando de sujo e não me enrolou dizendo que faria depois: ele pegou o pedido que meu médico mandou para ele, fez todos os exames na semana seguinte e me mostrou os resultados. Quando eu agradeci, ele me disse que eu não tinha que agradecer, que era minha saúde e que ele sempre ia cuidar da minha saúde.

2) Não tem ciúmes doido e não tem controle. Não tem “quem é esse cara?”, “pára de falar com aquela pessoa”, “não usa essa roupa”, “não fala desse jeito que é vulgar e chama muito a atenção”. Ele sabe que estou com ele e só com ele e isso já está bom para ele. Nunca ficou no meu pé por alguma coisa que eu tenha feito antes de conhecê-lo, nem mesmo depois de conhecê-lo. E aí me deixa segura para sentir o mesmo e é ótimo.

3) E tem um respeito muito grande pela minha vida e pelas coisas que quero fazer e viver. Ele entende que os finais de semana com meus filhos são 100% das crianças e não me cobra esse tempo. Melhor que isso, ele programa as coisas dele, faz outras coisas, mas está sempre por perto. Ele não me cobra esse tempo, mas também não fica esfregando na minha cara que vai fazer um monte de coisas legais sem mim. É sempre tranquilo, é sempre fofo, e eu sempre sinto que continuamos juntinhos mesmo que a gente não se veja durante dias. E isso vale para os dias em que vou encontrar algum amigo sem ele, que vou viajar, que preciso trabalhar. Ele sempre respeita, entende, apoia, continua por perto, não some.

4) Por fim, ele sabe – eu nunca precisei dizer isso pra ele – que o pinto dele não é o centro do universo. Saber disso o faz entender que a gente não transa apenas para que ele sinta prazer, e ele não fica achando que tudo o que eu tenho que fazer é dar prazer a ele. Saber disso o faz entender também que o pinto dele é apenas uma parte do meu prazer e que espero muito mais dele. Em suma: saber que o pinto dele não é o centro do universo o torna um amante inacreditável.

Viajei com amigos no feriado e ele não pôde ir, mas nos falamos todos os dias com uma saudade boa. Voltei para São Paulo e encontrei uma pessoa me esperando no aeroporto, junto com meu cachorro (que ele buscou para mim na cuidadora) e junto com um jantar com sobremesa feitos por ele durante a tarde, querendo ouvir tudo o que fiz e ver minhas fotos. Nesta viagem, durante um trekking, o guia me perguntou se eu sabia contar piadas e eu respondi “olha piada eu não sei não mas posso te contar a história da minha vida que é praticamente uma piada pronta”. Mas tem uma coisa que não é piada: a sorte que eu tive de, quando achava que ia viver afogada em tanta cagada que só acontece comigo, ter encontrado uma pessoa assim. Gente, que sorte.

Ernesto

Ernesto, eu não te queria. Eu já tinha perdido o Fidel quando me separei do meu primeiro marido e já tinha decidido que eu não queria mais ter cachorro. Sabe o que é, Ernesto? Eu era mãe solo de duas crianças bem pestinhas e tinha certeza que não queria mais criar nenhum ser vivo nesta encarnação.

Mas aí eu cedi, concordei, achei que de repente seria uma boa ideia e te trouxe pra casa. Pra me arrepender algumas horas depois.

Eu não tava a fim de educar cachorro, Ernesto. Mas não teve outro jeito. Eu tive que te ensinar, a contragosto, a fazer xixi e cocô no lugar certo, a comer ração nos horários, a não destruir minhas coisas, a não subir na minha cama, a andar de coleira na rua. Eu tive que te vacinar, te dar banho, limpar a sujeira, comprar suas coisinhas. 

Affe, Ernesto, como foi difícil. Você queria comer as peças dos quebra-cabeças e quase derrubava a porta se eu te deixasse em outro cômodo para as crianças poderem brincar. Você comia os brinquedos deles, meus livros, os objetos de decoração, e ainda fazia muito xixi e cocô para eu limpar. Como. Foi. Difícil.

E você latia muito, Ernesto, muito. Você demorou para entender que eu sempre volto. Sempre. Nunca durmo fora, cãozinho, por sua causa. Mas você latiu tanto, que os vizinhos reclamaram, e eu tive que ter um adestrador.

Foi difícil também te adestrar. Não só porque adestramento custa dinheiro e tempo (meu). Mas porque eu que fui adestrada, eu tive que aprender que tinha um ser vivo com necessidades e sentimentos dependendo de mim e que eu precisaria pensar nisso todos os dias. Eu precisei mudar a casa e as coisas que eu fazia para você ficar bem e eu penei com isso. Que fase.

Mas quando eu tive uma deixa, eu não cogitei deixar você ir. Nunca foi uma opção você ir embora. Esta é sua casa, sua família e você vai viver conosco. Comigo.

Você ganhou meu coração com esse jeito incrível de melhor cachorro que já tive. Você me ama todos os dias, mesmo nos dias em que não te levo pra passear ou esqueço da sua comida (acontece). Você me recebe com a mesma alegria se te deixo sozinho por 10 minutos ou 12 horas e você nunca ficou bravo ou guardou rancor por nada. Você nunca recusou um abraço ou um carinho e sei bem que a maior felicidade da sua vida é todo mundo chegar em casa no final do dia. E você ri quando eu te chamo. Eu tenho um cachorro que dá risada, gente.

Você me ajuda a ensinar para minhas crianças o que é família e amor incondicional. Toda vez que você faz alguma besteira (continuam acontecendo), eles me perguntam se vou mandar você embora. E eu te uso para explicar que não, que sua casa é aqui, que estou brava mas sigo te amando e que você nunca vai embora. Que depois vamos desculpar, esquecer e continuar nos amando. Você também me ajuda a ensinar para eles a responsabilidade que temos com os seres que dependem da gente, porque temos que te alimentar, te lavar, te levar ao médico e te preparar para ficar sozinho quando vamos sair. E que temos que cuidar de tudo juntos, então eles recolhem seus brinquedos e sua bagunça quando chegam da escola enquanto eu limpo o xixi e o cocô.

Eu te amo porque você gosta de tudo, Ernesto. Porque você gosta dos meus filhos, dos meus amigos e do meu namorado, e porque você tem certeza que as pessoas vão em casa para te visitar. Amo seu olhar de bagunçado que você tem, e amo quando você encolhe as orelhas denunciando que fez caca. Também amo quando você gruda na porta do corredor quando já está tarde e ainda estou trabalhando na sala, porque você quer que a gente vá pro quarto. Amo que você come todos os petiscos vegetarianos que te dou e morro de orgulho quando você devora talinhos de rúcula. E amo que você é meu melhor amigo de corrida, porque é pra você ficar bem durante o dia que eu saio da cama cedão pra gente correr, e parabéns por já ter chegado aos 10k! Juro que sempre penso se um dia você não devia fazer mountain bike comigo e correr ao meu lado nas trilhas.

Eu não te queria, mas não te largo por nada, Ernesto. Tô voltando de viagem a trabalho e saber que já te levaram para casa e que você vai estar lá pra me receber com pulos e latidinhos alegra meu fim de noite. Sabe o que é? Home is where your dog is 🙂

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O lar e as mulheres

Fui casada com um cara que deve mandar ver em discursos feministas por aí, e morávamos com meus dois filhos. Vocês devem saber a quantidade de roupa suja que quatro pessoas geram e um dia eu disse que aquilo estava demais para eu fazer sozinha (colocar na máquina separado por cores, tirar da máquina, separar o que tinha que ser passado, dobrar o que não seria passado e guardar tudo no armário). Aí eu sugeri que eu continuaria a lavar tudo, mas que só iria separar, dobrar e guardar as minhas roupas e das crianças, e que deixaria as roupas deles já lavadas em um cesto para que ele fizesse o mesmo.

Tá.

Mas não teve uma única vez que ele fez isso. Em uma semana o cesto foi acumulando roupas limpas, e quando não tinha mais cueca e meia dobradinhas no armário, ele reclamou. “Nossa mas parece que moro sozinho chego em casa cansado e tarde do trabalho e ainda tenho que arrumar minhas roupas”. Coitado. Mas como eu não ia fazer, ele deu para outra mulher fazer: a diarista que vinha algumas horas na semana nos ajudar com outras coisas passou a separar, dobrar e guardar as roupas dele. E eu posso jurar de pés juntos e apostar um bom dinheiro que até hoje é uma mulher que cuida do serviço doméstico na casa dele. (e, calma, antes de me perguntar qual o problema em pedir isto para a diarista, mentaliza aquele relatório mala e desnecessário que seu chefe te mandou fazer e se coloca no lugar dela)

Por que tô falando isso? Porque vocês tão chocadas com o discurso do Temer, e eu tô chocada mesmo com minha própria vida. Affff.

Para o amor que chegou

Se eu tivesse feito um anúncio do tipo “procura-se namorado”, eu teria pedido alguém que gostasse de pedal e de forró. Pedal e forró são as coisas que mais gosto de fazer e nunca tive boas companhias para isso. Meus amigos do coração são ótimos, mas não gostam de pedalar no mato nem de dançar forró comigo. Eu queria alguém pra acordar cedinho no domingo, enfiar bicicletas num carro e se sujar de barro comigo, pra depois voltar pra casa me aguentando com calor e com fome. E eu queria alguém que me tirasse para dançar na sala de casa mesmo, desviando do cachorro, me ensinando passos e me dando beijinhos entre os rodopios.

Mas eu não anunciei porque eu não estava fazendo uma busca ativa. Eu não usava aplicativos de dates porque eu queria acreditar que o lugar de conhecer pessoas era na vida real. Eu estava esperando conhecer alguém espontaneamente no bar, na fila do cinema, nos eventos dos amigos ou na sala de aula da faculdade. Eu queria algo old school, retrô mesmo, queria esse negócio de conhecer alguém pessoalmente e olhar nos olhos antes de mandar uma mensagem para ele. Eu queria escolher alguém pelo jeito de falar, de andar, pelo cheiro, não por fotos. E eu queria ser escolhida assim também. Eu não queria homem hétero analisando fotos minhas em aplicativo para decidir se sou gostosa o suficiente para querer sair comigo, porque, né, não sou obrigada.

Eu também não anunciei porque não estava buscando um namorado. Eu estava vivendo a fase mais feliz da minha vida inteira e não me faltava nada, e eu teria continuado a viver muito feliz sem namorado. Mas aparecer alguém com vontade de namorar sempre é legal. Quando aparece alguém que se interessa, que gosta, que trata bem, que quer ficar junto, mano do céu, é bom demais.

É bom demais quando você conhece alguém que não faz joguinho. Preguiça daquela competição pra ver quem consegue ficar mais tempo sem mandar mensagem. Sabe o que é legal mesmo? Dar “bom dia” e “boa noite”, perguntar como foi o dia, contar do próprio dia, responder as mensagens, iniciar as conversas, não sumir. É educado, é gentil, é fofo, e ninguém precisa tentar ser mais gostoso ou mais ocupado e ficar dando gelo no outro. Legal mesmo é querer se encontrar muitas vezes na semana, ficar tentando conciliar as agendas, mesmo que isso seja às 23h30 na quarta-feira.

Mas eu queria ficar junto de alguém que me desse espaço. Principalmente espaço para ser mãe solo, para cuidar dos meus pequenos, para me envolver 100% com eles no tempo em que estou com eles e não ter que pensar em mais nada. Queria alguém que entendesse que não quero apresentar outro namorado para meus filhos tão cedo e que isso significa que não tenho todos os finais de semana para namorar. E que, mesmo quando não estou com meus filhos, quero ver meus amigos, minha família e ficar sozinha em casa. E, para ser lindo, queria alguém que fosse fazer outras coisas legais por aí quando não nos encontramos. Porque eu não queria mais ciúmes, nem um pouco de ciúmes. Eu quero ser livre, quero alguém livre, e quero respeito, cuidado e carinho. Queria alguém que me deixasse segura e que se sentisse seguro comigo, sem controle, sem cobranças, sem acusações.

Eu tinha uma preguicinha do momento de contar tudo o que eu vivi para pessoas, confesso. Foi muita coisa nessa minha vida. Eu sempre conto que sou mãe, mas tenho preguiça de contar sobre dois casamentos e um câncer, entre outras coisas. Não devia, mas no fundo eu tinha medinho que isso afastasse as pessoas de mim. E foi incrível que alguém que já existia na minha vida há muito tempo e que acompanhou muitas dessas coisas tenha se aproximado cada vez mais, e não se afastado.

Eu queria uma química incrível e muito sexo nesta vida, sempre quis, todo mundo quer, não dá pra abrir mão disso. Mas fica ainda melhor quando é com alguém que te diz que a coisa que mais gosta é seu sorriso e que vai sempre te fazer sorrir mais. Fica mais legal ainda quando você encontra alguém que sempre te lembra que você não é só sexo e que vai estar ali no dia seguinte pra te ajudar a consertar o aspirador e o videogame das crianças. Melhor ainda quando a pessoa com quem você transa é a mesma pessoa que te faz cafuné quando você chora porque se emocionou com algo.

Pois bem, eu não posso me gabar de um super sucesso profissional nessa vida, porque isso eu não tive e nem sei se vou ter ainda, mas eu posso dizer que minhas escolhas profissionais guiaram toda a minha vida amorosa. Conheci meu melhor amigo no primeiro estágio, meu primeiro marido no primeiro emprego, meu segundo marido em uma mudança de carreira importante que fiz. Aí eu larguei tudo, pedi demissão, tirei um sabático, voltei para a universidade para fazer doutorado e encontrei alguém que veio me trazer amor, companheirismo e prazer (e bikes sujas de lama e muito xote). Encontrei alguém que se encaixa perfeitamente em tudo que estou vivendo, que melhora minha vida, mas não tenta mudar nada do que eu vivo, nem tenta mudar nada em mim, e que me respeita o tempo todo, que me trata com carinho e que cuida de mim. Que desde que chegou está sempre por perto e agora não quero mais que vá embora.

Não vá embora. Fica mais. Tô gostando muito. ❤

 

Oi, segurança do camping

– Esse carro é de vocês?

– É.

– E onde está seu esposo?

– Pra quê?

– Pra tirar o carro daqui, não pode estacionar aqui.

– Ah, eu não tenho esse produto.

– O carro?

– Não, o esposo.

– Mas o carro é seu?

– O carro é.

– E a senhora pode tirar daqui porque não pode parar aqui?

– Não.

– Por que não?

– Porque o senhor me disse que preciso de um esposo pra fazer isso pra mim.

🤔

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Homem hétero e seus problemas

Um amigo veio dizer pra mim que está saindo com uma mãe solo e que tá complicado, tá difícil, ele tá em crise, não sabe se continua blá blá blá. Queria dicas minhas. Eu pensei em classificar como “pequenos desgastes” e deixar pra lá, mas resolvi dissertar.

Vamos lá, meu querido.

Primeiro: o mesmo tipo de homem que diz que tá complicado sair com mãe solo também diz que não sai com mulher feia, mulher gorda, mulher pobre, mulher com doença, mulher com deficiência, mulher velha, mulher rodada, mulher divorciada e por aí vai porque ele enxerga o tipo ideal de mulher: branca, solteira, magra, bonita, inteligente, estudada, empregada, sem filhos, que tenha tido poucos parceiros sexuais, que queira casar só e somente só ele quiser e que queira filhos só e somente só ele quiser. Né não, gente? Quando eu ouço algo assim, parece que os homens finalmente entenderam que as mulheres não precisam mais ser virgens para valerem a pena, mas precisam manter a pureza e castidade mesmo assim. Filhos, casamentos anteriores, “bagagem” estragam tudo. Affff.

Amigo, quanto mais vivemos e mais velhos estamos e passamos a nos interessar por pessoas mais velhas (aka da nossa faixa etária, porque estou assumindo que pedofilia não é uma opção), maior a chance de estas pessoas já terem filhos. Aliás, não só filhos. As pessoas vivem, né? Elas passam por traumas, histórias, separações, doenças, dificuldades, conquistas, decisões, coisas que fazem parte da vida. Se chama “história de vida de cada um”.

Achar complicado sair com uma mãe solo significa o desejo de ter uma mulher disponível para o que você quiser a hora que você quiser, porque os filhos a impedem de sair quando der na sua telha, de dormir na sua casa, de viajar quando você está a fim de viajar. Significa que no fundo você quer controlá-la. Sou mãe solo e não são só meus filhos que não me deixam ter uma agenda 100% à disposição do meu namorado, sabe? Porque eu trabalho, estudo, faço esportes, tenho hobbies, tenho amigos e família e simplesmente não estou disponível a hora que ele quer, mas a hora que eu quero. E esta história de querer uma mulher disponível leva rapidamente a achar que você pode palpitar no cabelo, na roupa e no corpo dela, nos amigos e em quem ela conversa, no jeito que ela fala, no trabalho, nas coisas que ela quer fazer e por aí vai. O nome disso é controle e você começou querendo ter controle sobre o que ela viveu antes de te conhecer.

Ah, mas você diz que o relacionamento com uma mulher que tem filhos é diferente do relacionamento com uma mulher que não tem filhos. É, nego. Todo relacionamento é diferente um do outro porque as pessoas são diferentes, não importa se elas têm filhos ou não. Não adianta você comparar a ex-namorada sem filhos com a namorada atual com filhos porque a diferença não são os filhos, mas são as pessoas. Do jeito que você fala parece que namorar mulheres que não têm filhos é sempre igual, e você sabe que não é.

Os filhos dela não vão atrapalhar o relacionamento, não, porque são problema dela, não seu. Você pode escolher não conhecer as crianças, assim como ela pode escolher não te apresentar as crianças, mas vai por mim, os relacionamentos vão mal por causa dos adultos, não das crianças. E relacionamentos entre duas pessoas sem crianças vão mal o tempo todo, apenas para constar. E não precisa se preocupar agora se você quer casar/ não quer casar, quer ter filhos/ não quer ter filhos, porque casamento e filhos são decisões que duas pessoas tomam juntas (ou, no caso de gravidez acidental, é acidente que duas pessoas passam juntas). É a mesmo absurdo que começar a sair com uma mulher que não se casou e não teve filhos e ficar pensando AIMEUDEUSVAIQUEELAMEOBRIGAACASARCOMELA. Não, né? Qualquer mulher pode querer se casar e ter (outros) filhos, independente de ela já ter filho. Aliás, ele pode inclusive querer mais filhos mas não querer que você seja o pai, porque talvez você não seja o cara. Ou ela pode não querer. Sei lá. Só sei que você deveria assistir uns filmes abraçadinhos, transar loucamente, se enfiar no meio do mato no final de semana em vez de ficar se preocupando com isso. Assiste La La Land com ela, passa o dia cantando City of Stars e deixa pra pensar nisso no futuro, cara.

O que aprendi neste tempo como mãe solo em que namorei, casei, divorciei, conheci pessoas e me envolvi é que existe uma coisa essencial na vida que se chama respeito. Respeito pela vida do outro, pelo que a pessoa já viveu e por quem ela é. A maternidade faz parte da vida da mulher com quem você está saindo assim como todas as outras coisas que ela escolheu viver ou teve que passar e que a tornam única. Uma das coisas mais legais que já senti nesses anos como mãe solo foi o respeito de alguém que sabe de toda minha vida e que não fica me achando uma complicação ou uma dificuldade por eu ser quem eu sou. Uma das coisas que acho que as mulheres esperam – tendo filhos ou não – é encontrar alguém que não julgue, que não critique, que não fique falando sobre defeitos, que não fique vendo problemas em tudo. É muito mais um “nossa que legal que você gosta de cinema pedal forró viagens drinks papo cabeça” que um “ah que droga que você não pode fazer o que eu quero hoje porque vai estar com filho/ amigo/ família/ trabalho”, entende?

Então quando você me pede dicas, eu tenho uma só: respeito. E não é só respeito pelas questões do filho, tá? É respeito pela liberdade dela, pelas vontades dela, pela forma como ela conduz a vida dela, pelo espaço dela, pelo tempo dela, pela vida toda dela. Vai por mim, respeito.

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Ninguém é mãe de pet

Eu já tinha rascunhado um texto sobre o assunto há um tempo, mas achei que estava fazendo uma comparação infeliz entre crianças e cachorros. Mas o dia das mães está chegando e tenho lido outras mães/ mulheres falando sobre a não-maternidade de cachorros/ gatos/ periquitos e afins. Então queria dizer para vocês: ninguém é mãe (ou pai) de pet. Você ama e cuida, mas não isso não caracteriza uma maternidade/ paternidade. Você não está treinando para um dia ter um filho porque tem/ ama/ cuida de um pet, porque isso não treina ninguém para nada.

Então, para ser clara, vou comparar o que é ser mãe e o que é ter um cachorrinho (Ernesto, nosso cachorro, foi adotado há uns seis meses).

  • Eu me preocupei em ensinar *apenas* duas coisas para o Ernesto: fazer xixi/ cocô no tapete higiênico e não latir enlouquecidamente quando fica sozinho em casa. Ele aprendeu essas duas coisas super bem em apenas algumas semanas na família e coloquei um ponto final na minha missão de ensinar algo para ele. Ah, sim, depois ensinamos a sentar, deitar, dar a pata e buscar a bolinha, mas são “acessórios”, sabe? Não vou ficar estressada se não tivesse aprendido mais nada. Nem vou ficar me cobrando se eu não ensinar mais nada na vida para ele, ponto final. Enquanto isso, estou lá diariamente ensinando duas crianças a andar, falar, comer sozinho, usar o banheiro, escovar os dentes sozinho, tomar banho sozinho, letras, cores, formas geométricas, jogos, amarrar o sapato, respeito, regras, brincadeiras, explicando filmes. Daí virá o Ensino Fundamental, as lições de casa, as provas, as amizades, os esportes, os cursos de língua, a convivência, o vestibular, a bicicleta sem rodinhas, as frustrações. Não tem ponto final, não termina.
  • Ernesto aprendeu a não latir enlouquecidamente quando fica sozinho em casa porque, veja bem, ele fica sozinho em casa desde o dia UM por aqui. Enquanto eu ainda não posso nem descer para pegar a pizza na portaria e deixar meus filhos sozinhos no apartamento, deixo meu cachorro por horas sozinho. E ele não morre. E não sou presa. E não me sinto abandonando ninguém. Ele fica sozinho durante o dia se saio para trabalhar ou durante a noite se vamos passear sem nenhum stress. Deixo água, comida, caminha e brinquedo e ele sempre está vivo quando volto para casa.
  • E, mais: se vou viajar, entro na Internet e posso escolher qualquer pessoa para ficar com Ernesto. É claro que já elegi uma cuidadora preferida pelo DogHero e sempre deixo Ernesto com ela, mas se um dia ela não puder e eu precisar viajar, Ernesto vai conhecer alguém de uma hora para outra sem muito stress. E vai ficar bem, vai ficar feliz e ninguém vai me julgar. Só quem é mãe sabe o-que-que-é deixar os filhos com alguém, seja amigo, parente ou babá, para sair por algumas horas ou viajar sem eles. Não, não tem aplicativo para isto.
  • Ernesto come todo dia a mesma coisa em todas as refeições e acho que só troca de ração quando ficar velhinho, né? Vem pronta, é só por no prato, nem precisa esquentar, ele vai lá sozinho e come. Ele só toma água. Sim, compro uns petiscos de vez em quando e dou uns pedacinhos de legumes e frutas às vezes, mas ele viveria bem só de ração e água. Nem preciso dizer o quão trabalhoso é gerenciar a alimentação de uma criança.
  • Faço home office alguns dias na semana e fico em casa com Ernesto. Mas estou trabalhando e não dou atenção para ele. Não tenho que dar atenção, não me cobro por não dar atenção e não me sinto mal. Ele fica quieto no canto dele e eu fico no computador, aí de vez em quando trocamos um carinho e a hora de brincar/ passear fica pra depois.
  • Ernesto parou de crescer em poucos meses, então a roupinha que comprei pra ele ontem por causa da frente fria vai durar pra sempre. E ele provavelmente só vai ter essa roupinha, porque quando eu precisar lavar ele não vai se importar de ficar pelado algumas horas.
  • Quando chega a hora de dormir, não tem processo nenhum, sabe? Eu só faço os meus processos (banho, escovar dentes, pijama etc.), deito, apago e luz e pronto. Ele encontra a caminha dele e fica lá até o dia seguinte. Ele não acorda durante a noite. Se acordar, ele faz o que quer fazer acordado e dorme de novo.
  • Sim, cachorro dá despesa. Mas não se compara. Não tem escola, plano de saúde, despesas médicas que o plano não cobre, roupas, sapatos, fraldas, refeições, brinquedos, material escolar, produtos de higiene de uso diário, Internet, festinha de amigo, cinema, aula de natação, curso de inglês, mesada, dinheiro do lanche, excursão da escola, livros.

Amo o Ernesto e acho o máximo ter cachorro. Amo muito e cuido muito, não tô dizendo que não dá trabalho. Ainda que seja tudo mais simples, ele faz sujeira, come, toma banho, precisa brincar e passear, fica doente e vai no médico. Faço com o maior prazer do mundo, dou e recebo muito amor dele, mas nada disso me faz mãe. O que me faz mãe são dois espuletas de cabelos encaracolados, eles, sim, me fazem mãe.

E, no papel de mãe, me sinto culpada, sou julgada, sou oprimida, sofri assédio moral no trabalho, tenho medo de errar, tenho muitas dúvidas sobre o que fazer, me sinto sozinha, me arrependo de coisas, mudei minha carreira, tenho menos liberdade, tenho uma responsabilidade maior que qualquer outra coisa que já tive na vida e sofro. Ser mãe tem seu lado bastante difícil, já falei várias vezes, e isso tudo faz parte da maternidade e nada disso existe quando você cuida de um cachorro. Por isso, afirmo: ninguém é mãe (ou pai) de pet.

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Spotlight

Assistiram este filme? Ganhou Oscar e tal.

Resenha que copiei da Internet: “Baseado em uma história real, o drama mostra um grupo de jornalistas em Boston que reúne milhares de documentos capazes de provar diversos casos de abuso de crianças, causados por padres católicos. Durante anos, líderes religiosos ocultaram o caso transferindo os padres de região, ao invés de puni-los pelo caso.”

Atentem para “baseado em uma história real” e “transferindo os padres da região ao invés de puni-los pelo caso“. Em suma, história da Igreja Católica acobertando milhares de padres que estupraram crianças por anos e anos. Não são poucos, não são casos isolados.

Dureza, né?

Vocês matriculariam seus filhos em uma escola se soubessem que vários professores estupraram alunos e foram acobertados pela diretoria, simplesmente transferidos para outras unidades?

Aí eu queria saber: vocês continuam batizando seus filhos e frequentando a igreja com eles, gente? Me contem, me expliquem.

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Chega de ter ódio de criança, gente!

Esta é minha conversa imaginária com culegas que detestam crianças e desejam viver longe delas. Antes, quero dizer que talvez eu já tenha sido um ser desses. Já tive dessas de querer tirar férias longe de crianças, de querer morar em um prédio onde havia poucas crianças, de detestar crianças em aviões, de escolher mesas bem longe de famílias com crianças em restaurantes. Eu entendo que vocês sejam assim, mas desaprovo. Sinto vergonha desse sentimento em relação às crianças. Mas, da mesma forma que muita gente me disse que nunca tinha pensado sobre o lápis “cor de pele” porque não tem um filho negro, talvez muita gente não tenha pensado no respeito com as crianças porque não convive com elas. Então, vamos lá.

Para começar: criança é uma pessoa em formação, que está aprendendo coisas todos os dias, o tempo todo, constantemente. A criança leva de 18 a 20 anos para se tornar um adulto. Crianças pequenas não têm a mesma maturidade e nenhuma condição para se comportar como um adulto. Elas precisam de tempo, paciência e muito treino. Existem alguns comportamentos que são absolutamente normais para uma criança pequena: 1) elas choram quando estão descontentes, e pode ser fome, cansaço, tédio, pode ser porque perderam um brinquedo, porque queriam fazer algo que não é possível fazer naquele momento, porque estão com saudades da mãe. Elas choram e precisam ser acolhidas – e, não, caladas; 2) elas não conseguem se concentrar tanto tempo como um adulto, seja quando estão à mesa em um restaurante, quando vão ao cinema, quando estão com os pais na casa de amigos. É normal que se entediem, que fiquem impacientes, que queiram se movimentar, mudar de lugar ou de atividade; 3) elas são curiosas, e que bom que são curiosas. Isso significa que vão mexer nas coisas, que vão querer andar pelos lugares, que vão falar com estranhos e que vão fazer um milhão de perguntas; 4) elas se distraem e esquecem o que foi combinado, e é papel dos adultos lembrar as regras com carinho e quantas vezes forem necessárias, como por exemplo, que não podem mexer nas obras em um museu ou que precisam falar baixo.

“Mas eu não tenho nada a ver com isso, porque o filho não é meu”. Primeiro, se o filho não é seu, tenha a certeza que existe alguém que cuida desta criança e que não quer vê-la fazendo o que quiser. Ninguém leva a criança para almoçar fora e come tranquilamente enquanto a criança grita ou joga comida no chão como se fosse algo tão natural a ponto de não intervir. Não. Existe alguém que está cuidando e orientando a criança. Ninguém está dizendo que a responsabilidade é sua e que você deveria se levantar e fazer alguma coisa. Aliás, se não for fazer com boa vontade e com carinho, por favor, não faça nada. Não fazer nada significa inclusive não bufar ou reclamar que a criança está incomodando. Porque não existe nada mais desagradável do que estar tentando confortar um filho que está berrando e esperneando e sentir aqueles olhares de ódio atrás de você te dizendo “faz logo essa criança calar a boca!”. Porque, sim, é o que estou tentando fazer, mas não por sua causa, por causa dela, porque quero que ela se acalme e fique bem. O que você tem a ver com isso? Como você faz parte da sociedade, é sua obrigação tolerar e respeitar a situação.

“Ah, mas como assim? Eu não tenho nada a ver com crianças”. Tem, sim, senhor. Ser criança faz parte do ciclo da vida. As crianças fazem parte da sociedade, assim como os idosos, deficientes, negros, palmeirenses, pobres e qualquer outro grupo que você tente discriminar. Você já foi uma criança um dia, você já sentiu na pele o que é ser uma criança. Se teve sua infância respeitada, espero que repasse isto a outras crianças, mesmo que não sejam seus filhos. Se não teve sua infância respeitada, eu sinto mesmo de verdade e espero que você não deseje o mesmo sofrimento para outras crianças.

“Que p é essa de respeitar a infância?”. A criança não deve crescer isolada só porque não se comporta como um adulto se comporta ou como um adulto espera que ela se comporte. Pelo contrário. É vivendo as situações do dia a dia – fazendo supermercado com a mãe, visitando parentes e amigos, frequentando hotéis, acompanhando os pais em alguns compromissos profissionais – que ela vai entender e aprender. Respeitar a infância é entender que a criança tem limites diferentes dos adultos – e diferentes de outras crianças também – e ajudá-la e apoiá-la, mas nunca escondê-la. Da mesma forma, você deve respeitar os pais, mães e cuidadores, que não nasceram para se esconder de você porque têm filhos.

“Então você acha normal que mães e pais levem seus filhos para qualquer lugar”. Sim, desde que este lugar seja apropriado para crianças. Veja bem, com muita atenção, que quando digo “apropriado”, estou pensando no bem estar da criança. Existem lugares que podem colocar as crianças em risco (alguns exemplos: assistir filmes “de adultos”, com violência ou sexo, casas noturnas, onde serão expostas à música alta, cigarros e bebidas). Agora, não vejo por que hotéis, restaurantes e aviões – para citar apenas alguns exemplos – não seriam adequados. Então, sim, elas podem frequentar esses lugares.

“Mas crianças incomodam”. Qualquer pessoa intolerante como você vai se incomodar com os outros, não apenas com as crianças. Você provavelmente vai se incomodar se o cara na poltrona ao lado estiver lendo Carta Capital, se o rapaz da mesa ao lado gritar “gol do Corinthians” ou se um velhinho demorar muito para manobrar o carro no estacionamento. Não é a criança que está incomodando, é você que está sendo intolerante. Até porque, te juro: quando uma criança começa a chorar, gritar, espernear ou qualquer coisa assim, ela não está tentando te incomodar. Ela está pedindo ajuda. E ela não está pedindo ajuda para você. Ela está pedindo ajuda para a pessoa que está cuidando dela.

“Mas crianças fazem muito barulho”. Quando você estava batendo panelas e falando palavrões para a presidenta, gritando gol e soltando fogos de artifício ou fazendo aquele churrasco com os bródis, você estava fazendo o quê? Please, né? Em uma das minhas últimas viagens, fiz um trekking de quase 100 quilômetros até o topo do Monte Roraima, passeio não recomendado para crianças por causa do esforço físico. Lá em cima só tinha adultos e você não imagina a capacidade que eles tinham de fazer barulho enquanto eu estava tentando ouvir passarinhos ou curtir um pôr-do-sol em silêncio. Barulho é do ser humano, não apenas das crianças. A diferença – grande diferença – é que o adulto já é capaz de entender que seu barulho interfere no silêncio do outro e tem a capacidade de controlar o seu barulho. As crianças, como disse no início, estão A-P-R-E-N-D-E-N-D-O.

“Mas quando eu vou a um restaurante chique, quero ter um momento romântico, em paz”. E você quer tirar o direito de mães e pais de frequentar o seu restaurante chique só porque você quer que seja assim? Ou você quer que mães e pais não andem mais de avião? Eu tenho muitos momentos românticos com meu marido, junto com as crianças, porque a gente se ama e pronto. Nenhuma criança na mesa ao lado vai acabar com seu romance. Engraçado que se busco no Google “hotéis proibidos para crianças” recebo milhões de indicações. Mas obviamente não existem hotéis onde sejam proibidos negros ou deficientes. Então discriminar abertamente a família com crianças é ok? Você entra tranquilamente em um restaurante com uma placa na porta dizendo “não aceitamos crianças”, né? Como você se sentiria se estivesse escrito “não aceitamos deficientes mentais”?

“Mas não dá para deixar a criança com outra pessoa?”. A gente que é mãe e pai não larga a criança em qualquer lugar por aí. É claro que às vezes elas vão dormir no vô ou na casa de um amiguinho, mas quando temos filhos estamos com nossos filhos a maior parte do tempo. E mais: a gente gosta de curtir os momentos de lazer com nossos filhos. Assim que funciona uma família. Então, não, não dá para deixar a criança com outra pessoa para podermos jantar ou nos hospedar em um hotel só porque você não nos quer lá. E, mesmo que a gente decida deixar a criança com um parente para fazer alguma coisa, essa decisão é nossa, não sua, nem do estabelecimento em questão.

“Tá, então o que você quer de mim?”. Eu quero tolerância e respeito com as crianças e com seus cuidadores. Eu não quero mais que você olhe feio para famílias com crianças, porque elas têm o direito de frequentar os lugares que você frequenta. Eu quero que você entenda que, como parte da sociedade, é seu papel também ajudar as crianças a aprenderem a participar da sociedade. Eu quero carinho com as crianças e não quero bufadas ou olhares impacientes. É bizarro ter que dizer isso, mas eu não quero mais ódio pelas crianças. É só isso que eu quero.

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