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Sem gravidez nesta vida :)

Há uns dias o Facebook me mostrou um post que publiquei há um ano atrás falando sobre meu luto por não ter engravidado. Eu estava a seis meses dos 35 anos, data mágica do relógio biológico, concluindo que apesar de ter, sim, uma curiosidade com a gravidez, eu não tinha vontade de ter um terceiro filho e que iria passar por esta vida sem a gravidez. Um pouco antes, na semana do meu aniversário de 34 anos eu publiquei outro post também falando sobre gravidez. Não tinha me dado conta até agora, mas eu senti os 35 chegando como minha data limite para pensar em engravidar e registrei isso em vários momentos.

E os 35 chegaram e ironicamente bateram o martelo na não-gravidez, por três motivos que não têm nada a ver com o relógio biológico. Primeiro eu me divorciei do meu segundo marido e fiquei sem um reprodutor. Considerando que maternidade solo de novo não é uma opção, ter ficado sem um potencial pai é um motivo para uma não-gravidez. Segundo eu tive câncer e eu não quero ter filhos biológicos que vivam com medo de ter câncer porque a mãe teve câncer aos 35 anos. De verdade, não quero, eu não conseguiria lidar com essa culpa de poder passar algum gene maluco que causa câncer para um filho. E, por fim, vou tomar um medicamento por dez anos que pode trazer sérias complicações para o feto. Eu poderia parar o medicamento para tentar engravidar, mas isso me deixaria exposta a uma recidiva, então não é uma boa opção.

Não é irônico? Eu achei irônico. Parece que eu sempre soube que gravidez não era uma opção para mim, porque nunquinha nunquinha eu fiz sexo desprotegida me deixando no risco de engravidar. E, por não ter engravidado, eu não virei mãe solteira de uma criança a mais nem vou viver me culpando por genes malucos espalhados por aí.

A parte linda dessa história tem dois nomes: Isaac e Ruth. Isaac e Ruth são as duas melhores escolhas que fiz nessa vida, porque me fizeram mãe da maneira como eu deveria ser mãe e que me fizeram chegar aos 35 totalmente bem resolvida com a questão da maternidade. Eles vieram para minha vida e hoje, depois de tanta confusão que passei, já sou mãe de duas crianças lindas e já dei check no to-do “maternidade” que eu tinha no planejamento estratégico da vida. Isaac e Ruth, porque vocês já existem, eu tô aqui vivendo felizona pensando em doutorado, em viagens, em projetos de consultoria, em trilhas de bike, em shows e passeios e me sinto completa. Obrigada por terem aparecido. E ao meu primeiro marido, obrigada por ter entrado nesta aventura junto comigo que me trouxe estas duas porcarias lindas. Adotar foi a melhor coisa que fiz nesta vida.

 

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Meu luto pela não-gravidez

Quando decidi ter filhos com meu ex-marido e iniciar o processo de adoção, eu queria adotar duas crianças. Sempre quis ter dois filhos e sempre quis adotar, então queria colocar em nosso perfil duas crianças e já realizar todos os sonhos em uma tacada só. Como havia um possível desejo de talvez um dia termos um filho biológico, decidimos por uma criança ou gêmeos. Colocar “gêmeos” era minha esperança de ter dois filhos pela adoção. E eu fui presentada com gêmeos.

Eu tinha 31 anos quando meus filhos chegaram e achava que tinha até os 35 para pensar se queria tentar engravidar. 35 era a data mágica; eu não sei direito as estatísticas, mas sei que aumentam os riscos de várias coisas, então eu achava que, se quisesse muito, tinha que engravidar até os 35 anos. Muita coisa aconteceu: me separei, fui mãe solteira, encontrei um cara, começamos a namorar, casei de novo. E eu vou fazer 35 anos em exatos em seis meses.

Eu não quero um terceiro filho. Eu vivo todas as dores e as delícias da maternidade com o Isaac e a Ruth, sou louca pelos dois e não tenho vontade de ser mãe de novo. Estou repensando toda minha vida profissional, começando coisas novas, ganhando quase nada e uma gravidez e um bebê não se encaixam nos meus planos agora. Também não é um plano do casal (eu e meu marido) termos um filho. Ele também acha que vive a paternidade com Isaac e Ruth e que é muito feliz assim. Além disso, confesso, eu tenho muito medo de ser mãe solteira de novo.

Eu não sinto por não ter tido um recém-nascido ou por não ter amamentado. Minha maternidade é tão intensa e mexe tanto com minha vida que não ter vivido ao lado dos meus filhos do nascimento até 1 ano de idade não é uma questão. Mas tem algumas coisas que sinto não ter vivido: tentar engravidar (parar com a pílula e a camisinha e sair fazendo sexo adoidado sem proteção nenhuma), descobrir a gravidez, contar a gravidez para o futuro pai, viver a gravidez ao lado do futuro pai, acompanhar a barriga crescer, sentir o bebê se mexer. Isso tudo eu sinto muito por não ter vivido. Muitas vezes eu queria ter passado por isso.

Estou passando por um luto por não ter engravidado porque acho que eu deveria tentar agora, a seis meses dos 35 anos, mas eu não quero. Não quero, mas às vezes fico triste por não querer e não viver uma gravidez, e é muito confuso. Fiquei imaginando a dor que deve ser querer muito engravidar e não acontecer. Se você passou ou está passando por isto, só queria dizer que entendo a dor, mas que o luto vai ser apenas pela barriga. Ser mãe pela adoção é tão intenso, tão verdadeiro, tão igual, que duvido que alguma mãe vá lamentar não ter tido um filho biológico se o caminho for a adoção.

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Bebê na barriga

Todo dia ela me abraça e me diz que tem um bebê na minha barriga.

Cara, não sei o que é pior. Juro que não sei. Não sei se tenho mais medo dessa premonição de algo macabro que poderia acontecer (não, não, não, não quero ter três filhos) ou de ser chamada de barriguda na cara dura.

Duas palavras na minha vida a partir de agora: anticoncepcional e dieta.

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O medo e a curiosidade

Eu tinha medo de engravidar durante o colégio, porque eu tinha que estudar muito e entrar na USP.

Eu tive medo de engravidar nos primeiros anos de faculdade, porque eu dependia das minhas notas para escolher a engenharia que queria fazer e não podia perder aula por causa do parto.

Aí eu tive medo de engravidar nos demais anos de faculdade, porque eu precisava me formar.

E tive medo de engravidar logo depois de me formar, porque tinha que terminar o programa de trainee, terminar o mestrado, pagar o financiamento do carro.

A partir daí, tive medo de engravidar e estacionar minha carreira, porque eu tinha que ser promovida várias vezes.

Casei e tive medo de engravidar logo e não aproveitar a vida de casada sem filhos.

Aí quis adotar e tive medo de engravidar durante a habilitação para adoção, porque achava que não iriam me aprovar com um bebê na barriga.

Aí adotei gêmeos e tive medo de engravidar, porque… é óbvio, né?

Só que acho que o relógio biológico me pregou uma peça e comecei a ter curiosidade. Tenho vontade de engravidar para saber como é esse negócio de gravidez: o filho crescendo na barriga, o corpo mudando, o amor por um ser que nunca foi visto.

Mas só tenho curiosidade para saber como é estar grávida. Não tenho curiosidade para saber como é ter o terceiro filho. Nenhuma, para ser bem sincera. Racionalmente, nasci para ser mãe de dois.

Então eu fico pensando como seria legal engravidar sem querer. Porque aí não tem jeito, o bebê veio sem querer e tem que encarar. Aí mato a curiosidade e depois crio três.

Mas com tanto medo de engravidar, eu nunca vou ficar sem pílula e sem camisinha. Porque vai que engravido, que medo. E não acho que alguém que usa dois métodos anticoncepcionais vá engravidar sem querer. Pelo menos, espero que não, que medo de engravidar, credo!

Para resumir, vou passar por esta vida sem saber qualequié.

Mas fico feliz que não tive essa curiosidade antes de adotar. Porque acho que não teria encarado gêmeos na adoção se já tivesse uma criança em casa. E aí não teria sido escolhida pelo Isaac e pela Ruth, e nem consigo pensar em passar por esta vida sem os dois. Nenhuma outra criança seria tão legal quanto eles.

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De onde saem os bebês (continuação)

Numa conversa com a professora do meu filho:

– Isaac me contou que você explicou para ele como os bebês nascem.

Calma. Pera lá. Em minha defesa, eu não expliquei, eu apenas segui o que me ensinaram lá atrás: “responda apenas o que a criança perguntar” e “nunca minta”. Deu nesse diálogo aqui.

Acontece que, linguarudo que só ele, Isaac explicou como os bebês nascem para todo mundo. Acontece também que tem uma outra professora na escola que está grávida, e que ouve dele todos os dias:

– Calma, tia, que já já esse bebê sai daí pela sua periquita.

Orgulho desse pequeno defensor do parto humanizado. 

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De onde SAEM os bebês?

Isaac olha para uma moça grávida no metrô e começa a perguntar. 

– Tem um bebê na barriga dela?

– Tem. 

– Ele vai sair?

– Vai. 

– Vai explodir a barriga pra sair?

– Não, não vai. 

– Então como sai?

– Tem um buraco para sair. 

– Onde?

Me pegou desprevenida. Eu devia ter uma resposta adequada na ponta da língua, mas mandei:

– Na periquita. 

–  O BEBÊ VAI SAIR PELA PERIQUITA? COMO, MAMÃE??? – Ele gritou, espantado, bem alto. 

Alguém me indica um livro de respostas para perguntas complexas que crianças de 4 anos fazem, peloamordedeus?

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Só tinha que ser com vocês

Eu nunca fui desesperada para ter filhos, mas sempre soube que teria. Não sou uma pessoa apaixonada por crianças, mas não via minha vida terminar sem filhos. Achava que teria filhos mais tarde, pra lá dos 40, para poder curtir a vida adoidado, e me surpreendi comigo mesma quando resolvi ser mãe 10 anos antes do plano original.

Aí tive filhos e me divorciei depois. Ouvi muitas vezes “poxa, que difícil, seria mais fácil se vocês não tivessem tido filhos”. Eu mesma cheguei a falar isso, confesso. Mas hoje acho que não. Apesar de “mãe solteira” nunca ter feito parte do meu planejamento estratégico, prefiro mil vezes ser uma divorciada com filhos que divorciada sem filhos.

Sabe por quê? Porque meu relógio biológico estaria apitando loucamente agora. Tenho certeza. E como convencer alguém a ir lá num fórum, passar por entrevistas e fazer psicóloga e assistente social acreditarem que está motivado para adotar é muito mais difícil, eu não estaria pensando em adotar: eu estaria pensando em reproduzir.

Se eu não tivesse filhos ainda, eu estaria aqui no sofá de casa com o Tinder aberto, jogando os “pregos” para a esquerda e os “bons reprodutores” para a direita. Eu ia ser uma doida com foco em procriar, não em dates. Eu ia ser insuportável e nunca mais na vida ia arranjar um namorado.

Obrigada, Ruth e Isaac. Vocês me fazem bem em tantas coisas, que nem podem imaginar.

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Nossa história

Minha irmã teve bebê. Os meus bebês acompanharam todo o processo de bebê na barriga, nascimento, a chegada da prima, a amamentação. Esses dias minha irmã questionou:

– Se um dia eles me perguntarem sobre gravidez ou amamentação, digo o quê?

– A verdade. Nossa história, como sempre conto para eles.

Eles conhecem nossa história, mas não sei ainda o quanto entenderam. Não sei se já perceberam que existem dois processos para “virar filhos”: a barriga e a adoção. Não insistem muito nesse assunto ainda, então também não forço. Não tem nada escondido, nenhuma mentira, mas também não sinto necessidade de falar sobre a chegada deles todos os dias. É natural, falamos quando o assunto surge, quando perguntam, quando olhamos fotos.

Eu adoro ter adotado. Hoje em dia, tenho curiosidade sobre engravidar apenas para confirmar que o amor é exatamente igual. Porque eu duvido que seja possível amar mais uma outra criança do que amo esses dois monstrinhos. Eu não consigo imaginar mais amor do que já tenho em casa.

Quando vocês nasceram, vocês vieram da barriga de uma moça, que não tinha uma casa e não podia cuidar de vocês. Ela queria, mas não podia. Vocês foram então morar em um abrigo junto com outras crianças e com tias que cuidavam das crianças. Um dia a mamãe foi visitar vocês lá e perguntou se vocês queriam ser meus filhos, e vocês olharam com olhinhos de “sim”. Nós adotamos vocês. E vocês viraram os bebês da mamãe e passamos a viver juntos e a ser uma família.

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Tem um bebê na barriga da mamãe

Era meio da semana, tipo terça ou quarta-feira. Eles foram pra escola e eu fui pra uma reunião em um cliente. Celular tinha ficado na bolsa e, assim que saí, vi a ligação perdida da escola.

Ligação da escola no meio do dia sempre é problema e retornei imediatamente:

– Alô? Isaac e Ruth estão bem?

– Estão sim, mamãe! A gente só ligou para te dar os parabéns e perguntar se podemos oficializar para os coleguinhas e tias!

– Hein?

– Soubemos hoje da gravidez!

– GRAVIDEZ DE QUEM, MANO?!?!?!? Eu não estou grávida!

Silêncio constrangedor do outro lado da linha.

– Não?

– Não!

– Mas Isaac e Ruth contaram para as tias que tinha um bebê na barriga da mamãe. Que eles iram ganhar um irmãozinho.

– Tá doida?

– Foi, sim. Cada um contou para a sua professora, em momentos diferentes, e eles não estavam juntos. – Isaac e Ruth ficam em salas separadas na escola.

– Como assim?

– Sim. Isaac me disse que foi a mamãe que contou isto para eles em casa.

– Tia, não, não tô grávida. Se eu estivesse, não ia querer parabéns. Eu estaria correndo pelada por aí gritando “nãããooooo, eu não dou conta de trêêêêssss!!!!! socorroooooooo, vai que são gêmeos de novooooooooo!!!!!!!”.

Pedidos de desculpas aceitos, ela ficou de conversar com eles, explicar e tal. Me contaram que nenhum amiguinho tinha contado recentemente que a mãe estava grávida. Perguntei para a tia da perua e ela também não tinha ouvido sobre outra mamãe grávida na perua. Eu sou sonâmbula, eu sei, mas acho difícil que eu tenha levantado de madrugada e dito uma coisa dessas para os dois, cada um no seu quarto.

Quando chegaram em casa à noite, eu perguntei o que tinha acontecido na escola durante o dia. Eles desconversaram, fingiram que não era com eles e seguiram a vida. Não falamos mais sobre o assunto até hoje. Crianças doidas, meu.

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Os planos de adotar

Quando eu tinha uns 8 ou 9 anos, queria ser decoradora ou arquiteta. Na época, minha mãe me deu régua, transferidor e compasso e eu passei meses projetando o quartinho da minha filha adotiva. Eu já pensava em adotar desde muito nova. E, apesar de nunca ter dito isso em voz alta até outro dia, nunca tive vontade de engravidar. O que eu mais queria era ser mamãe, mas não necessariamente ter um bebezinho dentro da minha barriga.

Em algum momento nós já falamos em ter um ou dois filhos biológicos antes de conversar sobre adoção. Mas essa é uma ideia que me incomoda até hoje: isso para mim se parece mais com um ato de caridade do que com a vontade de ter um filho. Parece que só iríamos pensar em adotar uma criança se tivéssemos condições para ter mais um filho, como se fosse uma decisão baseada em dinheiro.

Eu queria que a adoção fizesse parte do planejamento da família, até porque sempre falava sobre adoção quando o assunto “filhos” entrava em pauta desde o tempo de namoro. Se para mim a adoção era um dos meios para se ter um filho assim como a gravidez, não havia motivos para deixar para falar sobre isso só se tivéssemos as tais “condições”.

Eu virei mamãe do jeito que eu realmente queria virar: através da adoção. Tenho um super orgulho dos meus bebês e nunca me passou pela cabeça que vamos ser menos felizes porque eles não são meus filhos biológicos. Por ter adotado duas crianças, atingi minha capacidade máxima de ser mamãe, e tenho certeza que nunca vou ser menos feliz por nunca ter engravidado. A verdade é que quando eu penso nos meus filhos e em tudo o que sinto por eles, tenho vontade de adotar de novo. Acho que se eu um dia enlouquecer completamente, ficar totalmente pirada e resolver ter o terceiro filho, vou considerar de novo a adoção.

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