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Cadê aquela emoção que tava aqui?

– Oi, tudo bem, vamos fazer alguma coisa amanhã?

– Ah, puxa, amanhã tô com meus filhos.

– Uai, leva eles!

Gente, que fase.

Tô até estranhando cada vez que alguém me pergunta “e o Isaac e a Ruth, como estão?” e, em vez de contar que eles puseram fogo na escola, deixaram o outro careca (não, pera, isso quem faz sou eu), bateram no amigo, quebraram móveis da casa, eu respondo “estão ótimos, lindos, companheiros, nunca estivemos melhor”.

Parece que foi de uma hora para outra que eu perdi aquele medo e aquela preguiça de fazer coisas com eles e passei a incluí-los em tudo o que quero fazer. Agora a gente vai em shows, em exposições, saímos para jantar fora, almoçamos na casa de amigos, até em bar com show de jazz levei os dois e foi lindo. O melhor show que vi este ano foi com os dois, um de cada lado. E eles amaram. Decoraram músicas, cantaram junto, gente, que coisa linda esta vida adulta ao lado de crianças.

Não tem mais aquela emoção de achar que eles vão mexer em tudo ou sair correndo. Não mexem. Não saem correndo. Eles levam os brinquedos e coisas para desenhar e ficam de boa, sentados, conversando. Eu sabia que dar uma tacinha de vinho por dia para cada um ia ser ótimo, sabia.

Não tenho mais preguiça de sair. Outro dia estávamos voltando de um passeio e eu resolvi entrar em um shopping com eles porque precisava comprar uma coisa PARA MIM e não tive vontade de me matar enquanto escolhia e pagava. Eles ficaram do meu lado esperando. Semana passada eu fui ainda mais ousada: busquei na escola e levei os dois comigo para fazer depilação. Foi aquela semana que eu queria depilar, mas não tinha horário que encaixasse sem eles, então fui com eles mesmo. Entrei na salinha, tranquei a porta e fiquei lá deitada estressada imaginando os dois abrindo todos os esmaltes, comendo todas as bolachinhas que acompanham o café, rasgando revistas, pulando na poltrona. Fiquei mega tensa prestando atenção em todos os barulhos que vinham lá de fora e, quando saí, Isaac estava deitado no chão desenhando e a Ruth estava sentada no sofá vendo TV. NUM MEGA SILÊNCIO. SEM BRIGAR. SEM DESTRUIR. SEM CORRER. SEM CHORAR.

No último almoço de família, lá pelas 16h, minha mãe comentou: “que estranho esse silêncio, já estamos quase indo embora e ninguém chorou”. Pois é, mãe. Um desses dias eu deixei os dois na casa da minha vó de 96 anos, junto com meu padrinho de 60 que nunca tinha ficado sozinho com uma criança, e quando voltei os quatro estavam sentados na sala conversando. Não entendi nada. Não sei em que momento ficou tão simples.

Só queria mandar aquele abraço pra quem tá sofrendo com criança pequena porque sei bem como é que é. Ah, se sei. Mas também só queria saber que existe vida após os cinco anos. Fica lindo, gente. De repente aquelas criaturinhas que ficavam derrubando arroz no chão do restaurante e pedindo pra fazer coco em lugares onde não havia banheiro viram uns amigos incríveis, é só esperar para ver!

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Túnel do tempo

Acorda cedo, leva crianças na escola, corre 5k (apenas o que cabe no tempo disponível para academia), toma banho, pega três metrôs, um ônibus, trabalha o dia todo, faz todo o percurso de volta, chega na porta da escola.

– Olá, mamãe. Hoje Isaac pegou a cabeça da Ruth e bateu na parede e <outras coisitas mais relacionadas a quebrar regras e não respeitar os educadores>.

– E a Ruth enfiou a mão toda dentro da boca para vomitar de propósito e se sujou inteira.

Aí você anda os poucos metros que separam a escola de casa pensando que, em vez de relaxar e falar amenidades e brincar, você vai ter que conversar sobre não resolver os problemas batendo na irmã ou xingando a professora e sobre que história é essa de vomitar de propósito e ainda vai ter que lavar roupa fedendo vômito. Abre a porta e descobre que seu cachorro derrubou uma fruteira no chão e encontra cacos de vidro em toda cozinha, área de serviço e sala. Não só isso: ele derrubou a fruteira em cima de uma poça de xixi que ele fez no chão, já que ele também tinha comido o tapete higiênico que deveria servir como banheiro. Então você adia a conversa sobre questões da escola para decidir se é melhor varrer cacos de vidro molhados de xixi ou se é melhor passar um pano em xixi cheio de caco de vidro e demora uns 25 minutos para limpar a coisa toda.

Mano.

Tá muito difícil chegar viva aos 35. Meu melhor presente de aniversário este ano seria passar um dia inteiro em 2011, aos 30, bem longe dos 40, sem filhos, sem Temer no governo, sem cacos de vidro no chão da cozinha.

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Para meu filho

Isaac, meu querido,

Sempre que minha mãe passa um tempo com você, ela me diz que estou pagando todos os meus pecados, porque eu era bem pior. Nossa, tadinha da minha mãe, porque não é fácil ficar cuidando de você, viu?

Outro dia, você chegou da escola e disse que ia enfeitar nossa casa para o Natal. Saiu espalhando brinquedos pela sala e pela cozinha, para nossa casa ficar bem bonita. Eu não quis te dizer que aquilo para mim era bagunça, então deixei você enfeitar tudo e arrumei tudo depois que você dormiu.

Aí você olhou a mesa de jantar e viu que eu não tinha guardado minhas coisas, então aproveitou para fuxicar meus papéis, fazer um desenho no meu caderno com minhas canetas e mexer em tudo. Eu te pedi para não mexer ali e sugeri fazer outra coisa e você disse que iria desenhar. Quando fui te ver na mesa da cozinha, você tinha molhado os papéis porque assim ficaria mais fácil de grudar nas paredes. Eu expliquei que não. Quando voltei de novo, você tinha colocado um banco na frente da geladeira e tinha tirado todas as fotos que temos lá, para poder colar os seus desenhos. Então você me disse que ia para seu quarto colocar a fantasia do Peter Pan e eu fui fazer o jantar.

Como você estava demorando para voltar, fui até lá e te encontrei completamente nu brincando de outra coisa. Pelo que entendi, você se distraiu com outro brinquedo logo depois de ter tirado a roupa e se esqueceu de colocar a fantasia, mas você não soube me explicar por que tinha tirado a cueca para colocar a fantasia. Eu pedi para você se vestir. Alguns minutos depois voltei para te ver e encontrei o Peter Pan em cima de uma cadeira que deveria estar no quarto na frente da pia do banheiro lavando uns brinquedos sujos. Eu sei, aquele sabonete líquido novo que eu comprei tem uma embalagem incrível, dá vontade de mexer. Mas eu te expliquei que não era para lavar brinquedos e coloquei a cadeira no lugar.

Aí você me pediu para brincar com um jogo cheio de bolinhas pequenas e eu pedi para ficar no quarto com a porta fechada, porque o cachorro poderia engolir tudo. Mas a cada 30 segundos eu ouvia barulhos de bolinhas no corredor, porque sem querer a porta do quarto se abria e as bolinhas se espalhavam para fora. E cada vez que acontecia isso, o cachorro corria, você gritava e eu parava de fazer o jantar para socorrer as bolinhas.

Então você quis ver o Mágico de Oz, e eu achei bom porque já tinha quase queimado a comida várias vezes, então achei bom que você ficasse sentado um pouco. Só que todas as vezes que a Dorothy cantava, você se levantava do sofá e saía pulando e cantando pela sala, e o cachorro saía atrás tentando morder sua mão porque queria participar da brincadeira, e você gritava, e eu tinha que parar tudo e ir acalmar o cachorro.

Depois do jantar, enquanto eu arrumava alguma coisa e me distraí, você abriu uma gaveta e pegou o rolo de fita crepe para fazer pulseiras no seu braço. E depois você me pediu mais alguma, e quando fui fazer você respondeu todo animado:

– Obrigado, mamãe, você é muito agradável.

“Agradável” foi ótimo, Isaac. Você é bagunceiro, mas é sempre agradável cuidar de você. Adoro essa cabecinha criativa e cheia de ideias, mesmo que isso não me deixe relaxar um minuto.

 

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Eu amo comer fora

Teve um longo período na minha vida em que eu encontrava meus amigos e tomava só cerveja. Só. Tá, no máximo um porção de fritas pra acompanhar, porque o dinheiro não dava pra comer fora. Aí o salário de estagiária começou a permitir lanches e pizzas com a galera. Aí eu fiquei velha e phyna e hoje curto mesmo sair para jantar.

Você escolhe um lugar legal, vai até lá, às vezes até reserva antes. Chega, escolhe uma mesa num lugar aconchegante, recebe a carta de vinhos. Escolhe as bebidas, olha o cardápio com calma enquanto conversa, muitas vezes demora para pedir alguma coisa porque estava batendo papo. Vem o couvert. Daí você pede uma entrada e espera calmamente ela chegar. E saboreia. E depois de mais papo, escolhe o prato principal. Ele demora, você conversa, bebe, conversa mais. O prato chega, você come com calma, comenta os ingredientes, aprecia. Depois vem sobremesa, depois café, depois vem a conta e nessa hora eu vou ao banheiro para não ter que dividir.

E um belo dia você vira mãe e o mundo desmorona.

Na última vez que fomos a um restaurante, tínhamos passado a manhã na praia e já passava das 14h. Ou seja, eu tinha duas crianças com fome e sono. Entramos e eu escolhi uma mesa. Com um em cada uma das minha mãos, olhei rapidamente para todos os lados e visualizei os cadeirões. Pedi ao garçom para trazer bem rápido e colocar um ao lado do outro, enquanto eu afastava dos lugares das crianças todos os pratos, talheres, jogos americanos, temperos, guardanapos. Coloquei os dois sentados bem rápido, para não terem tempo de fugir. Dei umas 3 broncas do tipo “não mexe aí” e “não balança a mesa” e o cardápio chegou. Pedi três sucos, os deles em copos menores e com canudos e o prato mais ágil que eles tinham. Pedi para meus filhos não gritarem e não falarem com o casal da mesa ao lado que não demonstrou vontade de interação social. Os sucos chegaram e não deixei o garçom colocar na frente deles, pus tudo bem perto de mim. Antes de deixar tomar suco, lembrei bem que deviam tomar cuidado para não derrubar. Eles começaram a tomar e eu fiquei tensa, atenta, pronta para agir caso visse um copo virando. A comida demorou uma eternidade e eles perguntaram se estava chegando a cada 30 segundos. Quando a comida chegou, eu me levantei e mandei pro garçom um “deixa que eu sirvo”. Cortei o peixe, servi o arroz, entreguei para o primeiro. Fiz o mesmo para o segundo. Me servi e sentei. Levantei, corri para a mesa do lado e peguei a pimenta – eu tinha que comer rápido e terminar junto com eles, então não podia esperar o garçom voltar. Engoli a comida, enquanto limpava bocas, mesas e mãos. Pedi 64 vezes para não colocar a mão na comida. Dei mais suco, fiquei brava com a sujeira e com a bagunça. Pedi a conta e pedi para trazer a maquininha do cartão junto. Paguei e quase chorei quando minha filha pediu para fazer cocô. Saí correndo do restaurante.

Quer visualizar melhor? Olha isso aqui.

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Cansar e dormir

Meus filhos não param quietos um minuto. Minha filha até seria uma criança mais quietinha, princesinha, calminha, se não tivesse um irmão-catalisador da bagunça. Meu filho é um furacão. Eu ainda tenho dúvidas se ele tá melhor ou pior que o Luke, nosso labrador, que há uns anos me fez achar que o dono do Marley estava exagerando e que o Marley nem era tão mal assim. Isaac simplesmente não pára de mexer o corpo, não fica no mesmo ambiente mais que 3 minutos, não anda – só corre e pula. Acho meio exagero ficar rotulando de coisas tipo hiperativo, mas haja energia para acompanhar.

Eles foram visitar o vovô nesse final de semana e, assim que entrei no apartamento para buscá-los, presenciei meu filho caindo no chão junto com a cadeira, a mesa da cozinha e a cesta de frutas (acho que ele estava atrás de uma banana). Depois daqueles cinco minutos de gestão de caos – criança berrando, coisas espalhadas pelo chão – meu pai se senta com cara de quem correu uma meia maratona e me fala:

– Minha nossa senhora, cada vez que ele vem aqui ele está mais levado. Sobe em tudo, mexe em tudo, dá vontade de colocar um GPS nele para saber em que ambiente da casa ele está. Ele não pára nunca?

Não, nunca.

Minha mãe costuma me dizer.

– Você está só pagando seus pecados. Você era igualzinha. Na verdade, você era pior. Agradece que pelo menos esse menino dorme, porque nem isso você fazia para me dar um pouco de paz!

Ah, tem isso. Não posso reclamar. Se durante o dia meu filho contribui para que eu queime calorias e compense os dias que não consigo ir malhar, pelo menos ele apaga como uma pedra a noite todinha. Não acorda nem quando eu o reviro na cama para trocar fralda.

Na quarta-feira passada tivemos feriado e ficamos em casa. Acordamos 8h30 e eles quase me levaram a um esgotamento físico até o almoço. Depois dormiram das 13h00 às 17h00. QUATRO horas de sono, de paz, de silêncio. Acham que isso atrapalha o sono da noite? Nada. Depois de seguirem destruindo tudo o que viam pela frente, deitaram às 20h30 e dormiram até 7h30 no dia seguinte. Lindo, vai?

Tem gente que me fala que criança que come bem é uma benção. Tem quem acha que criança com saúde é uma benção. Outros vão dizer que criança inteligente é tudo de bom. Não, gente: benção é criança que dorme.

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Separação dos bebês

Acho que o grande problema em irmãos gêmeos é que eles acabam virando sombra um do outro. Por mais que sejam crianças diferentes, com gostos diferentes, personalidades diferentes, a gente acaba fazendo tudo exatamente igual com os dois. Eles dormem no mesmo horário, acordam no mesmo horário, vestem o mesmo tipo de roupa, comem a mesma coisa no café da manhã com o mesmo tipo de utensílios, vão para a escola juntos, estudam na mesma sala com a mesmíssima rotina e os mesmos amigos e terminam o dia com banho no mesmo horário e cama no mesmo horário. No final de semana, mesma coisa: mesmos passeios, mesmos horários, sempre a mesma pessoinha colada no outro o dia todo, pra todo canto. Com exceção dos compromissos médicos, a vida dos dois é muito igual.

É claro que para os papais este aspecto é um ganho de escala e facilita a vida. Deve ser muito mais difícil gerenciar duas crianças com logísticas diferentes. Mas esse grude todo acabou nos trazendo duas questões para pensar e resolver.

A primeira delas foi na escola. Meu filho é bagunceiro. Bagunceiro, levado, arteiro, é só olhar para a cara dele que dá pra perceber. Segundo as professoras, é ele que tem ideias mirabolantes de subir em cima da mesa do refeitório, levantar da roda quando a tia está contando histórias, tirar os sapatos e ficar correndo descalço. Mas se ainda fosse um só… O problema é que quando ele pensa em uma travessura, imediatamente convoca a irmã, que imediatamente segue o mocinho, e todas as bagunças já começam com dois envolvidos. Antes dessa conversa com a coordenação da escola, nós já vínhamos pensando que seria interessante para os dois ter os próprios amigos, a própria professora, uma vidinha independente durante o dia e reencontrar o irmão no final da tarde para matar as saudades. Só não sabíamos o momento ideal. Mas com toda essa questão da bagunça, decidimos: no ano que vem eles estudarão em classes diferentes.

A segunda questão foi o quarto dos dois. Eu sempre achei que dividir quarto com o irmão, independente de sexo e idade diferentes, trouxesse um monte de coisas positivas para as crianças, por causa da convivência, divisão do espaço comum e coisas assim. Até meu filho trazer para casa a mesma forma de tocar-o-terror quando estão sozinhos dentro do quarto. Na hora de dormir, ele desenvolveu uma mania extremamente irritante de bater a cabeça na cama antes de dormir, enquanto canta alto. Ele bate a cabeça na grade que o protege para não cair no chão, que é molinha, então não machuca. O problema é a cama balança, anda, faz barulho, encosta no armário ou na parede e faz os vizinhos acharem que estamos martelando alguma coisa em horário proibido. Difícil deixar a irmã dormir nessa confusão toda, principalmente porque a mamãe precisava entrar no quarto 357 vezes para pedir para ele parar com aquilo. Geralmente ele caía no sono em uns 20 minutos de tortura materna, então se fosse só isso estava bom.

Mas não. Ele resolveu começar a acordar às 5h da manhã. CINCO. DA. MANHÃ. E o que você faz quando acorda às 5h da manhã? Pula na cama da irmã, claro. Pula na cama da irmã, garante que ela acorde bem acordadinha, aí você decide se brincam, se cantam alto, se pulam descontroladamente em cima da cama ou se brigam, gerando choros, mordidas, tapas e puxões de cabelo. Em qualquer uma das alternativas, você obriga sua mãe a sair da cama dela e colocar ordem no ambiente, e faz com que a família toda inicie o dia nesse horário cruel, porque ninguém volta a dormir depois de tanta agitação. Podem me achar malvada, sem paciência, mas não dá para viver assim não.

Eles tiveram que ganhar quartos separados, para garantir a sanidade mental da mamãe. Toda minha teoria sobre deixá-los dividindo quarto até uns 10 anos foi por água abaixo quando eu percebi que estava pirando com tanta bagunça na minha vida. Numguentei, levantei a bandeira branca, desisti, e mudei a cama do meu filho para o quarto do lado.

Nos primeiros dias, minha filha achou que o irmão não merecia o privilégio de ganhar um quarto novo por ser tão bagunceiro e resolveu bater fortemente a cabeça na cama antes de dormir, numa tentativa desesperada de ganhar um quarto novo também. Ah, filha, desculpa, mas só temos esses três quartos aí e não posso te dar um quarto novo. O único motivo para eu ter mudado meu filho e não a minha filha é que não temos armário no novo quarto dele. Eu queria evitar de deixá-lo sozinho em um quarto com armário, porque sei que mais cedo ou mais tarde ele iria resolver tirar todas as roupas das gavetas e jogar no chão, na falta de uma irmã para atormentar. Eu sei que ele é capaz disso. Eu já o vi fazer isso em um dia que – não lembro por que – a irmã não estava com ele no quarto quando acordou. Acho que ela me entendeu e parou de bater a cabeça na cama. Ele continua chacoalhando a cama antes de dormir, mas pelo menos não incomoda mais a irmã.

A coisa linda mesmo aconteceu na parte da manhã. Quando ele acorda e se vê sozinho no quarto, ele resolve simplesmente VOLTAR A DORMIR. Sério. Nenhum drama, nenhum choro, nenhuma reclamação. Ele simplesmente dorme melhor. Desde o primeiro dia que meu filho foi dormir sozinho no quarto, ele dorme até eu acordá-lo para ir para a escola. No primeiro final de semana após a mudança de quartos, nós dormimos até às 9h no sábado E no domingo. Juro. Desde que eles chegaram em casa eu não dormia tanto assim em dois dias no mesmo final de semana. Lembro de ter acordado às 7h e pensado “oba, posso dormir mais”. Depois às 8h: “uau, que silêncio gostoso”. Depois às 9h me veio um “gente, não aguento mais ficar deitada, mas é bom demais para ser verdade e não quero estragar”. Adorei.

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Babá e bagunça

No primeiro dia, eu estava na porta do prédio com a Cleide esperando os bebês e a perua. No segundo dia, vim para casa cedo, mas fiquei no apartamento enquanto a Cleide desceu sozinha para esperá-los. No terceiro dia que tinha uma reunião que terminaria às 18h e pouco e seria a primeira oportunidade para testar se todo o esquema tinha dado certo.

Antes de sair para ir para escola nesse dia, eu expliquei que eles iriam voltar de perua e que a Cleide estariam esperando os dois em casa. Que eles tinham que obedecer a Cleide e fazer tudo como fazem com a mamãe. No carro, retomei a conversa:

– Quem vai voltar de perua?

– Eu!

– Quem vai estar em casa esperando vocês chegarem?

– A Cleide!

– O que vocês vão fazer com a Cleide quando chegarem? (eu esperava uma resposta do tipo: “tomar leite”, “comer fruta”, “tomar banho”, “escovar os dentes”, ou algo assim)

– Bagunça!

Não. Não. Não. Nesse momento eu desenvolvi uma fobia. Medo de ter dois pestinhas que assustam todas as babás (acho que já vi um filme assim, não existe?).

Passei o dia mentalizando “Cleide, por favor, seja forte, não deixe os dois dominarem você”. Só liguei para ela para ter certeza que ela tinha chegado em casa para trabalhar e resolvi conferir o resultado da experiência só quando entrasse em casa. E passei o dia em um uorquixópi com um cliente, pensando na Cleide me dizendo: “eu só tenho medo mesmo de ter que dar banho nos dois sozinha”. O cliente discutia o novo maindiséti para entender seus clientes, e eu só pensava em como alguém pode achar difícil dar banho em duas crianças ao mesmo tempo. É tão fácil, pô. Liga o chuveiro, espera a água esquentar, tira a roupa da criança, pede para ela não fazer xixi ou cocô no chão (não desfraldei, às vezes dá nisso), molha a criança, lava o cabelo com xampu, enxágua, lava o corpo com sabonete, enxágua, passa condicionador no cabelo, enxágua, toma cuidado o tempo todo para a criança não escorregar no chão molhado e cair e bater a cabeça no chão e morrer, desliga o chuveiro, embrulha na toalha e enxuga. Ao mesmo tempo, presta atenção na criança que ficou do lado de fora do box, porque ela vai estar fazendo algumas das alternativas a seguir: 1) subindo no vaso e dando descarga, 2) subindo no vaso, abrindo a torneira da pia e se molhando inteira, 3) subindo na pia e tentando suicídio infantil, 4) puxando o rolo de papel higiênico e encenando aquela propaganda dos anos 80, 5) abrindo a tampa do vaso e pulando de cabeça lá dentro, 6) abrindo o armário ou gavetas e tirando todas as coisas para fora – o que inclui engolir produtos de higiene pessoal, 7) abrindo o cesto de lixo e brincando com papel higiênico usado, 8) brincando com alguma coisa que mamãe deu para ela se distrair (mas essa cena eu nunca vi). Quanto terminar, inverte as crianças e repete tudo isso só mais uma vez.

Eu me segurei e resolvi não ficar ligando para atormentar a moça – mais do que os dois já deviam estar atormentando – para fazer perguntas bobas do tipo: “você conseguiu subir com dois bebês e duas mochilas?”, “você conseguiu fazer os dois sentarem nos cadeirões para comer uma fruta?” ou “promete que não foge e não larga os dois sozinhos em casa até eu chegar?”.

Peguei trânsito. Cheguei ansiosa. Abri a porta da sala e entrei correndo. Encontrei os três sentados no chão do quarto, brincando, e foi muito legal. Foi muito legal porque ultimamente eles vinham me recebendo na escola com um ar de “mas já, mãe? não posso brincar mais um pouco aqui?” e sempre um ou outro entrava no carro fazendo birra. Ontem quando cheguei eles abriram sorrisos imensos e vieram me abraçar. Pediram para eu sentar para brincar também. A Cleide estava sorrindo também, então acho que ela não teve pensamentos suicidas.

Fiquei com eles até a hora de dormir e depois também fui pra cama. Feliz.

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