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Formigas

Isaac de chinelo na grama.

– Isaac, isso aqui é um formigueiro. Não pode pisar. As formigas picam. Ok?

Maieujuro que não deu 5 segundos.

– Manhêêêêêê!!! Buááááááá!!!!! Meu pééééééé!!!

– Mano, eu não falei que não podia pisar? Por que você pisou?

– Porque você falou para não pisar.

Pelo menos foi sincero.

Duas descobertas no episódio. Isaac aprendeu – ou pelo menos espero que tenha aprendido – que mãe não é *apenas* chata por prazer. Eu aprendi que ele não é alérgico a formigas, ufa.

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Carta para minha filha

Querida filha,

Eu sei que você também sofre com todas as birras e descontrole, que não terminaram nos terrible two e já estão quase chegando aos four. Eu sei que é difícil ficar brava com o mundo, berrar até a garganta doer e se jogar no chão e bater a cabeça. Eu sei que eu sou a pessoa adulta nesse relacionamento e que é meu papel ter calma e paciência. Eu sei também que não sou um ser imaculado que tem calma e paciência 100% do tempo.

Mas você está me ensinando a ser paciente e tolerante. Você é a primeira pessoa neste mundo que nunca irá sair da minha vida mesmo que me irrite, que me teste ou que não faça as coisas que quero. Nós vamos ficar juntas e vamos tentar nos entender, para sempre.

Eu sei que você sofre de saudades. Eu sei que é difícil para você sair da escola com a perua e ser recebida em casa pela babá. Eu sei que você queria me ver antes. Sei também que no final do dia estou cansada, porque eu enfrento clientes atuais que precisam de atenção, novos clientes que entregam minhas metas de receita, chefe, equipe e colegas de trabalho que precisam de reuniões, materiais, definições e entregas. Você não tem nada a ver com isso e eu me esforço todos os dias para abstrair tudo isso enquanto estou no metrô para chegar bem humorada em casa.

Eu sei que todos os dias, sem exceção, você faz alguma bagunça feia na escola ou com a babá. O que você não sabe é que eu pedi para a escola e para a babá tentarem não me contar todas essas coisas em detalhes e hoje elas resumem, contam menos vezes, filtram um pouco mais. Fiz isso porque eu não quero chegar em casa todos os dias e ter conversas sérias e pesadas com você. Quero chegar em casa e te abraçar, ouvir suas histórias, contar sobre o meu dia. Quero te dar banho, brincar e te colocar para dormir. Quero te deixar feliz, quero te mostrar que não vou ficar brava e te dar broncas todos os dias.

Outra coisa que você não sabe é que eu entro no seu quarto todos os dias depois que você dorme para te cobrir e te abraçar. Você dorme pesado e nunca acorda. Você também não sabe que eu queria não ter perua e babá e te buscar na escola todos os dias, junto com seu irmão. Que eu questiono esse “esquema” todos os dias, mas que não sei qual outra alternativa funcionaria bem pra gente. Eu sei que você gosta de dormir cedo, porque isso te faz bem, então sei que não adianta chegar tarde e te deixar dormir uma hora mais tarde, porque você vai estar cansada demais para curtir esse tempo com a mamãe. Eu só não sei o que tenho que fazer para chegar em casa mais cedo todos os dias, sem que isso afete nossa renda e o meu equilíbrio.

Eu quero te ver feliz. Quero ver você tranquila, quero que se sinta linda, que seja querida pelo outros e que pare de roer suas unhas. Por favor, me ajuda a entender o que tenho que fazer para você parar de roer unha. Quero curtir você. Quero ficar mais tempo com você, sem essa de “tempo de qualidade”. Quero mais tempo mesmo. Queria levar você para trabalhar comigo amanhã.

Eu te amo muito, pequenina. Dorme bem, tá?

um beijo e um quentinho

Mamãe Ruri

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Conversa franca

Eu gosto de ballet e gosto de judô. Mas tenho um menino e uma menina e me incomodava esse negócio de “ballet para as meninas” e “judô para os meninos”. Não os coloquei para fazer ballet ou judô até que eles mesmo me pedissem para fazer uma coisa ou outra. E aconteceu essa semana:

– Mamãe, só eu não vou no ballet. Eu queria fazer ballet. Posso?

– Hmmm.

Poder, pode. Não posso dizer que é caro, nem posso dizer que é difícil de levar ou buscar, porque é dentro da escola. É legal. Ela vai ficar feliz. É fofinho. Eu adorava as aulas de ballet que fiz durante muitos anos. Qual o problema?

– O problema, filha, é que hoje você já convive com umas dez tias diferentes e todas chamam a mamãe frequentemente para conversar sobre o seu (mau) comportamento. A babá, a tia da perua, a professora, as tias da recreação, a coordenadora da escola, a diretora da escola, todas elas me trazem as queixas e eu preciso lidar e resolver. Por que eu entraria numa fria de ter mais uma tia nesta lista toda, me diz?

– Eu preciso me comportar melhor e obedecer mais?

– Seria bom. Ou você acha que eu vou ficar feliz quando a tia do ballet me chamar para dizer que você não coloca a roupa, não faz os passos, não fica em fila como ela pediu?

Sei que já contei aqui que minha filha é muito difícil. Ela me dá muito trabalho, tem gênio forte e não aceita todos os limites. E quem acha que, porque eu trabalho o dia todo, estou terceirizando a educação dos filhos não sabe que não tem nada disso. É tudo responsabilidade minha. Eu até gostaria de terceirar algumas coisas, tá? Eu queria poder fazer cara de paisagem, como se o problema não fosse comigo, quando a tia da perua me conta que ela jogou alguma coisa pela janela. Mas não funciona assim. Qualquer coisa referente a meus filhos é encaminhado de volta para mim e sou eu que tenho que resolver. E tá certo, né, porque eu sou a mãe. Mas aí eu acho justo poder escolher não ter mais uma tia na minha vida.

– Se eu obedecer bastante, você deixa eu fazer ballet?

Deal.

Ok, filha, temos um acordo. Você cumpre sua parte e eu cumpro a minha. Mas juro que cancelo o contrato na primeira sapatilha que voar na cabeça da amiguinha.

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Desabafo I

Estamos passando por uma fase do cão. Em geral, sou bem sensível para entender os problemas dos meus filhos e ajudá-los a resolver. Desta vez, não sei. Não sei se foi porque tiramos férias juntos pela primeira vez e depois voltaram para a realidade, não sei se a rotina na escola está muito diferente sem a professora e os amigos que estão de férias ainda, não sei se foi porque mudei a mesinha de brinquedos do lugar, não sei se estou diferente, não sei se é o frio, não sei. Só sei que não sei o que fazer.

Eles estão muito bagunçados e agitados há algumas semanas. Do tipo que faz todo mundo que convive com eles comentar alguma coisa do tipo “nossa, eles não param”. Eles chegam em casa e destroem. Meu filho vai pra fono e a moça fica louca. Berram na perua. Deixei um dia em casa com minha mãe por uma hora e, quando voltei, ela estava de goleira na frente do móvel da TV para que eles não mexessem em mais nada. Deram para colocar mão na comida, fazer xixi na roupa de propósito, abrir meus armários e muitas outras coisas claramente irritantes.

Tá. Eu consigo enxergar que estou exagerando. Não é que está tudo tão mal assim o tempo todo. Não. Temos lindos momentos de muito amor e obediência. Mas a fase está mais caótica que o normal.

Aí eu me dei conta que eu tenho mais medo de assustar as pessoas que convivem com a gente do que efetivamente de ter que lidar com as birras. Tenho medo que um dia a tia da perua me diga que não aceita mais os dois. Tenho medo que a escola me diga que assim não dá mais, que só posso matricular um no próximo ano. Tenho medo que ninguém mais queira frequentar a nossa casa, porque isso aqui parece uma escola de samba no Anhembi. Tenho medo de não receber mais convites para sair com eles. Tenho muito medo que eles percebam que as pessoas não dão conta e se chateiem ou que se afastem de pessoas de quem eles gostam.

Aí eu fico me perguntando se nós realmente já não assustamos as pessoas. Desculpam, filhotes, eu fico. Eu me pergunto quantas vezes recebo convites para ir à casa de alguém com eles versus quantas vezes em convido para fazer isso. Eu diria que em 95% dos casos, eu me convido, e isto me assusta. Me dei conta de que eles nunca receberam um convite para passear com ninguém. Nem nunca receberam convite para brincar na casa de um amiguinho (o que pode ser culpa minha, já que a mãe também precisa ser legal para que a outra mãe queira iniciar uma amizade materna). Me dei conta também que eu mesma tenho preguiça antecipada de interações sociais. Por exemplo: descobri hoje um restaurante vegetariano e orgânico bacana e pensei em almoçar com eles lá nesse final de semana. Mas imediatamente fiquei me perguntando se eles vão correr pelo lugar, se vão mexer em tudo, se vão comer com as mãos, como é que vou fazer para levar um no banheiro enquanto o outro está aprontando alguma coisa e não sei se vou. Outro exemplo: comprei ingressos para uma peça de teatro amanhã e também estou sofrendo por antecedência porque é sempre caos. Eles não ficam do meu lado, se penduram em tudo, mexem mas coisas dos outros e só tenho duas mãos. Mais um exemplo: levei os dois no Simba Safári outro dia e eles fizeram tanta confusão no carro durante a ida (brigaram, tiraram sapatos e meias e jogaram no chão, choraram) que fiz o percurso todo até o local me arrependendo amargamente por ter saído de casa com eles e quase voltei. Durante o passeio nos divertimos muito, foi realmente legal. Mas na volta estavam cansados, com fome e frustrados com o fim do dia e eu lamentei tudo de novo. Só mais um exemplo: meu novo chefe sugeriu que eu levasse meus filhos um dia para conhecer o escritório e os colegas e eu pensei: “HAHAHHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAH tá doido?”.

“Gêmeos de 3 anos” é uma coisa assustadora, entendo. Uma criança mais uma criança igual a umas cinco crianças. É difícil. E, principalmente, solitário. Solitário pra mim, porque sou a mãe e fico aqui na sexta à noite conversando sobre maternidade com meu iPad porque não sei o que fazer/ como lidar/ qual o problema. Solitário para eles, porque eles deixam de fazer muitas coisas divertidas porque é muito assustador cuidar dos dois.

Antes que eu receba xingamentos e protestos, eu amo meus filhos, tá? Cuido muito bem, trato muito bem, me esforço para ser paciente e vou dedicar minha vida toda aos dois. Se alguém achar que é uma piração de uma pessoa despreparada para a função de mãe, dois brigadeirinhos estarão à disposição para qualquer convite para passeios nesse final de semana, para uma aula experimental. Mas só vale se levar só os dois, para ver como é. É só ligar.

PS: se de uma hora para outra começarmos a receber mais convites, quero deixar bem claro que não tentei dar indireta para ninguém. Mas meus bebês desconhecem a existência de um blog e ficarão genuinamente felizes com isso, ok?

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No escuro

Agora ela inventou essa: assim que apago a luz para dormir, vem o escândalo. “Fica aqui, dorme aqui, não vai embora, não me deixa, buááááá”.

Só que é assim. Ela está alimentada, de banho tomado, de pijama quentinho, deitada em sua caminha, enquanto eu estou com fome, com vontade de fazer xixi (tem que fazer saindo do trabalho, Ruri), morrendo de frio porque estou de shorts e descalça (dei banho e não deu tempo de me trocar), cansada, descabelada.

Eu estava em pé no quarto dela, ao lado da cama, no breu, tentando conversar, avisando que era hora de dormir e que não dava mais para ficar ali, fazendo força para não perder a paciência, e ela berrando berrando berrando. Trancar no escuro chorando, não gosto, não. Dei um passo para trás na direção da porta e ela não podia ver, continuou berrando. Alcancei o interruptor. Acendi a luz.

Cara.

Que ódio.

No momento em que a luz acendeu, fiquei cara a cara com uma menina com cara de gargalhada, imitando um choro, se contorcendo para não dar na cara que estava rindo de mim. Nem disfarçou, começou a rir de verdade.

Gata, hoje você não iria conseguir entender a história do menino que fingia se afogar no lago, então não te contei. Mas é isso aí. Não vem tentando manipular, não, que quando você nasceu eu já tinha vivido 30 anos.

Humpft.

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A missão de educar

Teve uma época em que eles tinham dificuldade ou demoravam para assimilar o que era certo ou errado, o que podia ou não podia fazer, e eu tinha que falar 492 vezes a mesma coisa. Hoje eles já sabem. Hoje eles conhecem a maioria das regras, sabem o que esperam deles nas situações cotidianas. Tô falando das coisas simples, claro: não fazer xixi/ cocô na roupa, não falar com a boca cheia, não cuspir, não bater/ morder/ empurrar os amigos, não gritar, não pular no apartamento porque temos vizinhos no andar de baixo que gostam de descansar etc. Eu sei que eles já aprenderam todas essas coisas.

Entramos, então, na fase do vamos-fazer-coisa-errada-de-propósito. Para irritar, para provocar, para chamar atenção, para testar os limites ou a paciência alheia, não sei. Mas entramos nessa fase em que eles sabem que o comportamento não é legal, sabem que vão tomar uma bronca e ficar de castigo, mas fazem assim mesmo. Fazem e avisam que fizeram, rindo, só para testar mais um pouquinho.

Parênteses: deixa eu ser justa com meu filho. A protagonista desse post é minha filha. Mano-do-céu, como minha filha está difícil.

Não fosse só a irritação e o trabalho que dá limpar/ arrumar/ dar bronca/ conversar/ ouvir berros, tem também o medo de estar fazendo tudo errado. Por que olha, é difícil saber exatamente o que fazer. Nunca sei direito o balanço. Quando sou firme, dou castigo ou consigo ignorar a confusão, fico com medo de ter sido dura demais e de ter dado a impressão de que não gosto deles. Quando invisto em uma conversa carinhosa e procuro entender o que está acontecendo, fico com medo de ter sido mole demais e não ter mostrado autoridade. E minha filha vem inventando confusões novas para chamar a atenção, e na hora nunca consigo pensar direito na melhor forma de educar.

Eu sei que é neura. Mas acho que preciso fazer um curso de “como lidar com crianças desobedientes”, módulos básico, intermediário e avançado.

PS: Só para constar: sou contra palmadas, porque tenho certeza que violência não educa. Não gosto de gritar, porque eles me imitam demais – ou seja, aprendem a gritar com os outros quando estão bravos. Se esses itens estiverem no conteúdo programático, o curso não serve.

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Mamãe frustrada

Meus queridos,

Estou tentando ter essa conversa com vocês quase todos os dias, mas sei que vocês ainda não conseguem entender tudo o que estou falando. Só que eu vou continuar insistindo. Vou falar sobre isso um pouquinho por dia, todos os dias, até vocês conseguirem me entender.

Fato é que está muito difícil fazer qualquer coisa com vocês dois.

Pronto. Falei. Não tá dando.

Tá. Muito. Difícil.

Tô cansada de crianças que choram por qualquer coisinha, de crianças que correm para longe de mim e me obrigam a segurar firme as mãozinhas o tempo todo (só tenho duas mãos, lembram?), de crianças que fazem birra, de crianças que mexem em tudo que está pela frente sem perguntar se pode antes, de crianças que – do nada – resolvem fazer alguma coisa chata só para me irritar (exemplos: ficar em pé na cadeira para comer em pé, assoar o nariz sem papel e vir me mostrar melecas escorrendo por cima da boca, jogar coisas no chão). É chato, tô cansada, tá?

Eu programo um monte de coisas para fazermos juntos no finais de semana porque quero que vocês se divirtam e porque quero levá-los para ver o mundo! Invento um monte de coisas legais para levar vocês dois. E pretendo continuar levando. Mas, filhos, por favor, colaborem com a mamãe? Não tá dando para ficar fazendo um monte de programas que não são legais para mim, não. Eu volto para casa cansada, irritada e arrependida por ter saído com vocês, porque vocês não me obedecem. É muito chato. Tá quase valendo mais a pena passar os dias trancados em casa para não ouvir gritarias e para não ter que correr longas distâncias atrás de seres que não conseguem ficar parados ao meu lado.

O que eu espero de vocês dois, de todo o meu coração:

  • Que eu não tenha que chegar no restaurante e pedir para o garçom tirar todas as coisas de cima da mesa para que vocês não comam sal direto do saleiro, que não amassem todos os guardanapos, que não joguem azeite no cabelo da(o) irmã(o), que não batam o prato de porcelana na mesa. Que eu não tenha que pedir para não falar alto, para não bater talheres na mesa, para não jogar coisas no chão. Basicamente, que vocês não façam com que as pessoas das mesas vizinhas me olhem com cara de “restaurantes não são para crianças”, porque eu detesto fast-food.
  • Que eu consiga soltar a mão de vocês para fazer coisas necessárias, tais como: pegar minha carteira para pagar uma conta, amarrar meu tênis, cumprimentar uma pessoa.
  • Que vocês não chorem/ não façam escândalo na hora de ir embora. Melhor: que não chorem em ocasião alguma que não seja doenças ou machucados.
  • Que vocês não ponham a mão em NADA que não seja de vocês.
  • Que vocês fiquem sentados ao meu lado quando estivermos esperando alguma coisa (de consultas médicas a peças de teatro).

Me ajudem, por favor? Vamos começar a entender que os passeios precisam ser legais para nós três? Vamos começar a entender que eu tô tentando ser legal com vocês dois e tô esperando que vocês sejam legais comigo também? Por favor?

muitos beijos

Mamãe Ruri

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Eu prefiro água gelada, mamãe

Foi em meados de fevereiro que cheguei em casa no final do dia e não tinha luz no prédio. Acho que tinha caído um temporal no final da tarde e nada de a energia voltar. Esquentei leite no escuro, brincamos no escuro e decidi que o banho teria que ser de balde aquele dia. Não dá para deixar duas crianças que passaram o dia pulando e correndo na escola num calor indiano irem para a cama sem banho.

Eu juro que achei que ia ser o máximo. Todos os dias eles levam potinhos para o chuveiro e ficam se molhando, ou seja, era a mesma coisa. Minha filha foi primeiro e em 5 minutos estava limpa. Meu filho deu tilt.

Joguei um pouquinho de água morna que estava no balde nele e ele berrou como tivesse levado um tapa. Esperei se acalmar, expliquei, conversei, mostrei o pote, mostrei o balde, deixei ele colocar a mão na água, sugeri que ele se molhasse sozinho, tentei de novo, cantei, dancei e nada de o menino parar de berrar. Não só berrar: ele se encostou na parede do box na pontinha dos pés, e gritou várias vezes um “não faz isso, por favor, mamãe” e comecei a ficar com medo que algum vizinho chamasse a polícia.

Aí eu – que já estava há 15 minutos ajoelhada na frente dele implorando para acabar com aquilo logo – perdi um pouco a paciência e deixei ele escolher:

– Ou você toma banho de balde ou vai tomar banho gelado, mas sem banho não pode ficar.

– Quero banho gelado, mamãe.

É assim: tava fazendo uns 52 graus na sombra, ele estava imundo e eu não estava a fim de perder a briga. Sorry, filho.

No dia seguinte tinha luz. Mas eu entrei em casa e mandei a brincadeirinha:

– Oi, linduchos. Vamos tomar um banho de balde com a mamãe?

Berro. Menino se jogando no chão, batendo braços e pernas. Choro histérico: “nãooooooooooo!!!!!! Eu prefiro água geladaaaaaaaaaaaa!!!!!”.

Doido.

Aprendizado do dia: crianças pequenas não entendem ironia. Não tentem em casa.

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Na saúde e na doença

Vou dividir nosso Carnaval 2014 em dois momentos bem distintos: o sucesso e a tragédia. Para contextualizar: Carnaval é o maior recesso da escolinha dos bebês depois das férias de final de ano, quando eles ficam QUATRO DIAS E MEIO sem aulas. Quatro. Dias. E. Meio.

A primeira metade do nosso feriado foi um Sucesso. S maiúsculo. Nós fomos brincar, fomos no parque, fizemos trilha, fomos ao teatro, almoçamos fora, fomos a uma exposição de arte (porque mamãe também tem suas vontades), foi tudo muito legal. Muito divertido. Crianças felizes, mamãe feliz, dias de sol, nenhuma birra, quase nenhum choro, tudo indo muito bem para ser verdade.

Aí o tempo fechou, literalmente. Choveu. Ficou mais frio. Minha filha acordou com uma febrinha, depois meu filho teve febre no almoço, depois eu fui pega pela gripe no começo da tarde e no final da tarde nós éramos três incubadores de vírus, que tossiam, espirravam, soltavam catarros pelo nariz e tinham febre. Montes de dores de garganta, dores pelo corpo, mau humor, vontade de não fazer nada, crianças chorando por causa de qualquer coisa, mãe com vontade de chorar junto. Gente, que pesadelo.

Cuidar de uma criança doente é difícil. Cuidar de duas crianças doentes ao mesmo tempo é mais difícil ainda. Cuidar de crianças – doentes ou não – quando se está doente é insuportável. Sabe quando você acorda mal, com dores, sem forças, e liga pro chefe avisando que não vai dar para trabalhar? Foi o que eu tive vontade de fazer naquele dia. Passei horas me perguntando para quem eu tinha que ligar para avisar que não ia poder ser mãe naquele dia. Fiquei horas encarando o celular, esperando a ligação de alguma alma caridosa com uma voz animada do outro lado da linha: “alô, Ruri? Quer que eu fique com as crianças hoje para você poder tomar chá de gengibre à vontade espalhada na cama?”. Fiquei mentalizando um ser qualquer entrando pela porta da sala trazendo uma panela de sopa quente para nós três. Fiquei olhando para meus filhos esperando que eles me dissessem: “mamãe, é pegadinha. Nós não estamos doentes. Fica aí deitada no sofá descansando que a gente promete que vai ficar brincando em silêncio até o fim do dia”. Mas nada disso aconteceu, né? E lá fomos nós para a parte Tragédia do nosso feriado. Tragédia inclui inaladores, termômetros, analgésicos, antitérmicos, ligações para a pediatra no feriado e muita indisposição.

Ser mãe é isso aí, gente: um compromisso válido na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, por todos os dias de nossas vidas. E não pode pedir para sair. Não aguenta? Toma um leite, joga própolis na garganta e continua.

Já é quinta-feira à noite, já voltamos para a escola e para o trabalho, mas ainda não estamos 100%. Alguém indica uma benzedeira?

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Vontade de me jogar

Ontem eu trombei com esse texto aqui e morri de rir. Obrigada, de coração, pela sinceridade, Fernanda Nunes.

Eu nunca pensei em jogar meus filhos pela janela, isso não. Mas eu já olhei milhares de vezes para a janela e fiquei pensando que a verdadeira função das redes de proteção é evitar que a mamãe se jogue da janela. Eu já vivi milhares de situações irritantes e fiquei repetindo para mim mesma: “respira, Ruri, não pula da janela”. Vamos ser práticos: jogar um filho da janela é burrada. Você fica sem o filho, com a dor e vai pra cadeia. Agora, se jogar da janela deve ser libertador. Imagina só aquele ventinho na cara, braços abertos sentindo a força da gravidade e o choro das crianças ficando lá loooooooooonge. Delícia.

Funciona assim, gente: criança é linda, é fofa, é engraçadinha, é companheira, é um amor, mas só quando ela está de bom humor. Só quando ela está sorrindo. Só que criança chora. E não estou falando sobre o choro com motivos. Eu entendo que existem motivos para chorar: um machucado, uma frustração, um irmão que beliscou. O problema é que criança chora e 95% dos choros são birras ou acontecimentos irritantes do dia a dia.

Funciona assim:

– Mamãe, eu quero bolo de cenoura. (minha filha durante um café da manhã no meio da semana)

– Filha, não tem bolo de cenoura em casa. (eu respondo a verdade, porque nem cenoura em casa eu tinha naquele dia e quase nunca tem algum bolo na nossa casa anyways)

– Mas eu querooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo. Buááááááááááááááááááááááááááá! Me dáááááááááááá! Eu não vou pra escola hojeeeeeeeeeee! Buááááááááááááááááááááááááááá!

Mano, é sério.

E não é só choro ou gritaria. Minha filha gosta de se jogar no chão durante a birra. Vem diminuindo porque ela já percebeu que eu não sou o super-homem e não atravesso os 10 metros que nos separam em 3 segundos para evitar que a cabeça dela bata no chão quando ela se joga loucamente para trás. Desculpa, filha, mas não tenho super poderes. Aí me aconselharam ignorar e sair do ambiente. Eu faço isso. Eles correm atrás de mim. Não para pedir desculpas, né? Eles correm atrás de mim para continuar gritando do meu lado, para deixar bem claro que eu tenho que ouvir o choro. Aí eu continuo ignorando. Mas o objetivo é me irritar, então eles fazem coisas que me fazem ter vontade de me trancar numa caixa negra com isolamento acústico: tiram sapatos e meias e atiram longe, cospem no chão, assoam o nariz com a mão e limpam na parede, derrubam o que estiver na frente deles no chão. Eu não grito, porque quero dar o exemplo. Eu não bato, porque quero dar o exemplo. Então toda a raiva e irritação vão se armazenando dentro de mim e é daí que aparecem pensamentos suicidas.

Aí você passa a viver em estado de atenção, tomando cuidado com tudo o que fala ou faz para nenhuma criança chorar. Se eles estão quietos e brincando, evito me mexer. Tenho preguiça de situações que podem envolver choros, birras e escândalos, e eu sei que é ridículo. Mas veja só: eu estava outro dia, um sábado preguiçoso, em casa com os dois e pensei em descer para o parquinho do prédio. Mas aí eu pensei que uma hora eu ia querer subir, e eles iriam (dois, tá?) chorar e gritar e espernear, e eu desisti de ir. Simples assim, ficamos trancados em casa para não ter choro. Às vezes, tenho preguiça de deixar brincar com alguma coisa mais elaborada, como massinhas ou tintas, porque sei que na hora de parar de brincar eles vão chorar. Às vezes, desconverso para não dar respostas que vão levar a choros desnecessários, como “mamãe, posso ir para a escola de pijama?”. Eu simplesmente mando um “nossa, acho que vai chover no final de semana” e fica tudo bem. Esses dias, me vi respondendo para meu filho:

– Não, não pode brincar de Lego. Toda vez você chora quando falo que está na hora de dormir e precisa guardar. Toda vez você promete que não vai dar escândalo, mas dá escândalo do mesmo jeito. Não pode brincar de Lego hoje que eu não quero ouvir choro.

Tadinho. Chorou muito, óbvio. Mas pelo menos foi um choro com motivos. Eu não fiquei irritada.

Toda vez que vou fazer alguma coisa diferente com eles, eu preparo um roteiro mental de tudo o que vai acontecer para alinhar tudo com eles. É cansativo demais para uma pessoa P (sou ENTP, gente). Mas eu tento explicar em detalhes onde vamos, como vamos, com quem vamos e quais são as regras (não pode chorar – óbvio, não pode gritar, não pode mexer em nada, precisa ficar sentado). Mas é sempre batata: ou eu esqueço de um detalhe ou eles esquecem alguma regra ou alguma coisa não sai como planejada, eles se estressam, eu me estresso, e tenho pensamentos suicidas.

O problema que acontece comigo (e espero que eu seja normal) é que minha irritação e falta de paciência com choros sem motivo vai de 0 a 100% em questão de segundos. É muito difícil controlar. Porque você já sabe que é birra, que depois a criança vai prometer que não vai fazer mais, mas vai fazer, que vai demorar para parar de chorar e que você vai ter pensamentos suicidas. Eu não fico irritada desse jeito que fico com meus filhos com mais ninguém. Nem no trânsito, nem com meu chefe, nem com nenhum amigo, nem com o vizinho, com ninguém. Mas eles me irritam muito e isso me deixa culpada. Mas não dá para evitar: eles fazem birra de novo, eu me irrito de novo.

É tão difícil que eu já dei bronca nas amigas próximas que são mamães porque elas nunca me alertaram que seria tão difícil. Ninguém nunca me disse que todo o amor que você ganha com a maternidade vem acompanhado de crises constantes de irritação. Então eu sou sincera com as minhas amigas que não têm filhos ainda: vocês não vão se reconhecer na primeira crise de fúria ao ver uma criança fazendo birra. É f. Vale a pena, mas é f.

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