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Não tem que trabalhar

Chegou sexta final de tarde e eu estava com a apresentação de segunda pela metade. Era o momento de decidir: faço uma força para terminar tudo no escritório e deixo os dois esperando em casa com a babá ou saio no horário e termino durante o fim de semana? O clima na firrrrma já era de distração e resolvi sair. Tinha pela frente 48 horas para trabalhar umas 2 horinhas e eu também já não estava rendendo mais.

Sexta à noite, após bebês na cama, eu tentei uns slides, mas não rolou. Muito cansaço. No sábado, entrei de cabeça no esquema duascrianças + casanova + festainfantil e só parei meia noite. No domingo, não tinha mais jeito: eu tinha que trabalhar.

Acordei os dois, dei o café e expliquei (bem mal explicado):

– Hoje não vamos sair. Vamos ficar em casa. Vocês vão ficar brincando e a mamãe vai ter que trabalhar um pouco.

Meu filho começou um choro sentido de cortar o coração. Com lágrimas, com dor. Demorou para ele conseguir explicar. Mas tinha lógica.

– Hoje é dia de ficar com a mamãe. A escola tá fechada, a gente não vai pra escola hoje. A gente não quer ficar sozinho. Você não precisa trabalhar hoje. Você não tem que trabalhar hoje, trabalha quando a gente for pra escola.

Meu, não me mata de remorso. Fiquei repensando os almoços longos, os cafés mais demorados, aquele tempo perdido na internet. Eu trabalhei, não teve jeito, sentada no sofá com os dois ao meu lado assistindo Frozen. Mas não vou fazer mais isso. Mães precisam ser mais produtivas no escritório. Ou trabalhar de madrugada. Eu preciso organizar isso melhor.

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No escuro

Agora ela inventou essa: assim que apago a luz para dormir, vem o escândalo. “Fica aqui, dorme aqui, não vai embora, não me deixa, buááááá”.

Só que é assim. Ela está alimentada, de banho tomado, de pijama quentinho, deitada em sua caminha, enquanto eu estou com fome, com vontade de fazer xixi (tem que fazer saindo do trabalho, Ruri), morrendo de frio porque estou de shorts e descalça (dei banho e não deu tempo de me trocar), cansada, descabelada.

Eu estava em pé no quarto dela, ao lado da cama, no breu, tentando conversar, avisando que era hora de dormir e que não dava mais para ficar ali, fazendo força para não perder a paciência, e ela berrando berrando berrando. Trancar no escuro chorando, não gosto, não. Dei um passo para trás na direção da porta e ela não podia ver, continuou berrando. Alcancei o interruptor. Acendi a luz.

Cara.

Que ódio.

No momento em que a luz acendeu, fiquei cara a cara com uma menina com cara de gargalhada, imitando um choro, se contorcendo para não dar na cara que estava rindo de mim. Nem disfarçou, começou a rir de verdade.

Gata, hoje você não iria conseguir entender a história do menino que fingia se afogar no lago, então não te contei. Mas é isso aí. Não vem tentando manipular, não, que quando você nasceu eu já tinha vivido 30 anos.

Humpft.

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Remédio para o choro

Criança chora muito. Choro enlouquece a mãe. Ponto.

Agora, não bastasse eu ter dois filhos que choram muito multiplicado por dois, minha filha agora deu para brincar de acalmar o choro da boneca. Funciona assim: ela pega a boneca no colo e fica balançando o brinquedo pela casa como se estivesse tentando niná-la, imitando o choro da boneca (“unhééééé, unhéééééé”). A boneca chora mais que ela e ela nunca consegue fazer a boneca parar. Então nós temos dois cenários: ou ela está chorando pessoalmente por alguma coisa que tenha acontecido (caiu, irmão bateu, irmão pegou o brinquedo, mamãe deu bronca) ou ela está dublando a boneca que chora sem parar.

Não dá.

Na última vez, depois de uns 15 minutos, eu não segurei:

– Ruth, peloamordedeus, acalma essa boneca ou vou guardá-la no armário.

Silêncio e a aquela carinha engraçada de interrogação.

– Mamãe, você vai me guardar no armário quando eu chorar?

Filha, não me dá ideia.

 

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Vontade de me jogar

Ontem eu trombei com esse texto aqui e morri de rir. Obrigada, de coração, pela sinceridade, Fernanda Nunes.

Eu nunca pensei em jogar meus filhos pela janela, isso não. Mas eu já olhei milhares de vezes para a janela e fiquei pensando que a verdadeira função das redes de proteção é evitar que a mamãe se jogue da janela. Eu já vivi milhares de situações irritantes e fiquei repetindo para mim mesma: “respira, Ruri, não pula da janela”. Vamos ser práticos: jogar um filho da janela é burrada. Você fica sem o filho, com a dor e vai pra cadeia. Agora, se jogar da janela deve ser libertador. Imagina só aquele ventinho na cara, braços abertos sentindo a força da gravidade e o choro das crianças ficando lá loooooooooonge. Delícia.

Funciona assim, gente: criança é linda, é fofa, é engraçadinha, é companheira, é um amor, mas só quando ela está de bom humor. Só quando ela está sorrindo. Só que criança chora. E não estou falando sobre o choro com motivos. Eu entendo que existem motivos para chorar: um machucado, uma frustração, um irmão que beliscou. O problema é que criança chora e 95% dos choros são birras ou acontecimentos irritantes do dia a dia.

Funciona assim:

– Mamãe, eu quero bolo de cenoura. (minha filha durante um café da manhã no meio da semana)

– Filha, não tem bolo de cenoura em casa. (eu respondo a verdade, porque nem cenoura em casa eu tinha naquele dia e quase nunca tem algum bolo na nossa casa anyways)

– Mas eu querooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo. Buááááááááááááááááááááááááááá! Me dáááááááááááá! Eu não vou pra escola hojeeeeeeeeeee! Buááááááááááááááááááááááááááá!

Mano, é sério.

E não é só choro ou gritaria. Minha filha gosta de se jogar no chão durante a birra. Vem diminuindo porque ela já percebeu que eu não sou o super-homem e não atravesso os 10 metros que nos separam em 3 segundos para evitar que a cabeça dela bata no chão quando ela se joga loucamente para trás. Desculpa, filha, mas não tenho super poderes. Aí me aconselharam ignorar e sair do ambiente. Eu faço isso. Eles correm atrás de mim. Não para pedir desculpas, né? Eles correm atrás de mim para continuar gritando do meu lado, para deixar bem claro que eu tenho que ouvir o choro. Aí eu continuo ignorando. Mas o objetivo é me irritar, então eles fazem coisas que me fazem ter vontade de me trancar numa caixa negra com isolamento acústico: tiram sapatos e meias e atiram longe, cospem no chão, assoam o nariz com a mão e limpam na parede, derrubam o que estiver na frente deles no chão. Eu não grito, porque quero dar o exemplo. Eu não bato, porque quero dar o exemplo. Então toda a raiva e irritação vão se armazenando dentro de mim e é daí que aparecem pensamentos suicidas.

Aí você passa a viver em estado de atenção, tomando cuidado com tudo o que fala ou faz para nenhuma criança chorar. Se eles estão quietos e brincando, evito me mexer. Tenho preguiça de situações que podem envolver choros, birras e escândalos, e eu sei que é ridículo. Mas veja só: eu estava outro dia, um sábado preguiçoso, em casa com os dois e pensei em descer para o parquinho do prédio. Mas aí eu pensei que uma hora eu ia querer subir, e eles iriam (dois, tá?) chorar e gritar e espernear, e eu desisti de ir. Simples assim, ficamos trancados em casa para não ter choro. Às vezes, tenho preguiça de deixar brincar com alguma coisa mais elaborada, como massinhas ou tintas, porque sei que na hora de parar de brincar eles vão chorar. Às vezes, desconverso para não dar respostas que vão levar a choros desnecessários, como “mamãe, posso ir para a escola de pijama?”. Eu simplesmente mando um “nossa, acho que vai chover no final de semana” e fica tudo bem. Esses dias, me vi respondendo para meu filho:

– Não, não pode brincar de Lego. Toda vez você chora quando falo que está na hora de dormir e precisa guardar. Toda vez você promete que não vai dar escândalo, mas dá escândalo do mesmo jeito. Não pode brincar de Lego hoje que eu não quero ouvir choro.

Tadinho. Chorou muito, óbvio. Mas pelo menos foi um choro com motivos. Eu não fiquei irritada.

Toda vez que vou fazer alguma coisa diferente com eles, eu preparo um roteiro mental de tudo o que vai acontecer para alinhar tudo com eles. É cansativo demais para uma pessoa P (sou ENTP, gente). Mas eu tento explicar em detalhes onde vamos, como vamos, com quem vamos e quais são as regras (não pode chorar – óbvio, não pode gritar, não pode mexer em nada, precisa ficar sentado). Mas é sempre batata: ou eu esqueço de um detalhe ou eles esquecem alguma regra ou alguma coisa não sai como planejada, eles se estressam, eu me estresso, e tenho pensamentos suicidas.

O problema que acontece comigo (e espero que eu seja normal) é que minha irritação e falta de paciência com choros sem motivo vai de 0 a 100% em questão de segundos. É muito difícil controlar. Porque você já sabe que é birra, que depois a criança vai prometer que não vai fazer mais, mas vai fazer, que vai demorar para parar de chorar e que você vai ter pensamentos suicidas. Eu não fico irritada desse jeito que fico com meus filhos com mais ninguém. Nem no trânsito, nem com meu chefe, nem com nenhum amigo, nem com o vizinho, com ninguém. Mas eles me irritam muito e isso me deixa culpada. Mas não dá para evitar: eles fazem birra de novo, eu me irrito de novo.

É tão difícil que eu já dei bronca nas amigas próximas que são mamães porque elas nunca me alertaram que seria tão difícil. Ninguém nunca me disse que todo o amor que você ganha com a maternidade vem acompanhado de crises constantes de irritação. Então eu sou sincera com as minhas amigas que não têm filhos ainda: vocês não vão se reconhecer na primeira crise de fúria ao ver uma criança fazendo birra. É f. Vale a pena, mas é f.

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Buscando a babá número 2

Na verdade, não é de uma babá cheia de qualificações específicas para cuidar de crianças que eu preciso. Preciso de alguém que olhe os dois e não os deixe cometer suicídio durante 1 hora por dia, no período entre chegar da escola com a perua e esperar a mamãe chegar em casa. O tempo é curto e o trabalho é simples, então a primeira pessoa que procurei foi a moça que já trabalhava em casa há um tempão e que cuida da limpeza e da arrumação. Ela é ótima pessoa, de confiança e já conhecia os brigadeirinhos há bastante tempo, então topou quando eu propus mudar os horários e ganhar um aumento no final do mês.

Em apenas um mês ela desistiu e veio me falar isso em uma conversa sincera. Não por causa do trabalho em si que duas crianças dão para um único adulto, porque ela nem teve tanto trabalho braçal assim. Nesse mês todo só pedi para ela dar banho nos dois uma única vez, porque eu estava presa em um congestionamento infernal. O grande problema é que eles não a obedeciam e cuidar de duas crianças desobedientes enlouquece qualquer um. Eu nunca tinha visto os dois serem mal educados com ninguém. São levados e bagunceiros, mas respeitam todo mundo. Sempre me orgulhei por ter dois filhos sociáveis, que vão com todo mundo, que estão sempre sorridentes e que em geral são muito educados. Perceber que meus filhos estavam realmente tratando mal alguém me deixou triste, mas eu não consegui resolver a situação, nem ela, e então ela me avisou que não queria mais continuar cuidando dos dois no final da tarde.

Meus bebês estão passando por uma fase em que buscam limites e testam as pessoas o tempo todo. Sabem que não podem mexer em alguma coisa, mas vire e mexe colocam os dedinhos lá para checar se algum adulto vai realmente repetir que não pode mexer. Insistem na bagunça que estão fazendo até tomar uma bronca maior ou ficar de castigo. Ficam nervosos e fazem coisas que sabem que não pode fazer de propósito. Fazem birras, tentam dar ordens, experimentam não obedecer, choram. É duro. É difícil de saber o que fazer nessas horas. É irritante. Às vezes, é desesperador.

Para mim, o x da questão na hora de colocar limites e mostrar o que pode e o que não pode fazer é coerência. Não invisto em gritos ou chiliques com os dois, mas tento sempre conversar, explicar e ser coerente. Se defino que não pode entrar na cozinha sem um adulto, explico que não pode e não tem exceção, nunca pode entrar na cozinha sozinho – não existe um “só hoje” ou “deixa entrar para parar de chorar”. Se aviso que vão ficar de castigo ou vão ter que guardar um brinquedo porque estão insistindo em fazer alguma coisa que já pedi para parar de fazer, eu cumpro. Existem coisas que são negociáveis e coisas que não aceito negociar: tem que tomar banho, escovar os dentes e ir para cama na hora certa e pronto. Sei que vão chorar, espernear, gritar e se jogar no chão, mas não volto atrás, respiro fundo, enfrento a birra, mantenho minha palavra. Cansa, mas é o meu jeito de mostrar para eles os limites que eles precisam respeitar.

Durante esse mês, vi acontecer em casa algumas cenas que me deixaram na dúvida sobre quem estava no controle por aqui. Ela os colocava nos cadeirões para tomar leite e, enquanto preparava os copinhos, deixava cada um com um brinquedo na mão. E eles jogavam o brinquedo no chão de propósito, ela pegava e dizia para não jogar de novo porque da próxima vez não iria pegar. Mas eles jogavam de novo, e ela ameaçava não pegar, eles choravam, aí ela pegava para parar de chorar e avisava que era a última vez que iria pegar. Mas sempre pegava de novo na próxima vez, e na outra também. Não tem como uma criança de dois anos entender o que está acontecendo se um adulto não é coerente no que fala.

Eu a orientei para ser firme com os dois, sem nenhuma agressividade, claro. Falei que não adiantava ameaçar e não cumprir, porque apenas a ameaça de “olha, que assim não vai mais brincar” não adiantava nada. Mas eles a venciam no choro e ela fazia exatamente o contrário do que tinha combinado ou avisado para eles. Faziam o que quisessem quando estavam com ela, e eu entendo que é muito difícil de aguentar os dois quando eles estão desembestados a fazer o que bem entendem. Um dia cheguei em casa e ouvi meu filho dizendo para a babá que ela estava de castigo e que ele não iria mais falar com ela, e foi frustante. Eu não estava gostando nem um pouco do comportamento deles com ela e percebi que não consigo ficar tranquila sabendo que eles estão completamente sem limites. Toda a situação me chateou demais.

Tentei conversar com eles várias vezes, para falar sobre respeitar, obedecer, tratar bem, colaborar. Não resolveu. Chamei a atenção dos dois várias vezes quando a tratavam mal na minha frente, mas depois percebi que chamar atenção por desrespeitar a babá era muito parecido com chamar a atenção quando eles brigam um com o outro: eles param, mas é só eu virar para o outro lado que recomeçam. Em pouco tempo, comecei a ouvir a babá dizer para eles “se não parar, vou chamar sua mãe para dar uma bronca” e me dei conta que ela nunca colocaria ordem nos pequenos. No fim, achei legal que ela também percebeu.

Babá número 2, aí vamos nós.

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Um mês

Há um mês viramos papais de um menino sapeca e uma menina meiga. E olhando para nossa vida hoje, parece que faz muito mais tempo. Estamos craques em trocar fraldas, dar banhos, fazer comidinha, sair com dois bebês para passear e colocar para dormir. A casa já está adaptada e, na medida do possível, arrumada, porque não queremos que pareça ser caótico ter dois bebês. Nossos brigadeirinhos estão felizes, brincalhões e cheios de sorrisos. E de vez em quando fazem birra ou alguma coisa errada e tomam bronca.

Na última semana passamos por dois “imprevistos”. O primeiro foi com nosso filho, que acordou chorando muito um dia, depois de pouco mais de 1 hora que tinha ido dormir. Esperamos uns minutinhos para ver se ele voltava a dormir sozinho e nada. Entramos no quarto e tentamos acalmá-lo ainda na caminha e nada. Pegamos no colo no quarto para acalmá-lo e nada. Com medo de acordar nossa filha, e aí sim ter uma grande choradeira em casa, o levamos para sala e ali ficamos durante 1h tentando acalmá-lo, acordá-lo, cantando, ninando, fazendo carinho, massagem, falando com ele e nada. Por fim, imaginamos que poderia ser uma cólica, demos umas gotinhas de analgésico infantil e ele logo dormiu de novo. Acordou de novo às 7h sorridente e não sabemos direito o que aconteceu com ele. O segundo imprevisto é que nossa filhinha está doente. Há uns dias não quer comer direito, tem febre, muita tosse e está tratando uma pneumonia. Além de super preocupados, temos mais um monte de tarefas: horário de remédios, quatro inalações por dia, idas ao médico e à farmácia.

Nas duas situações, nós demos muito carinho. Nós ainda não sabemos o que fazer direito quando os filhos choram ou ficam doentes, mas estamos aqui para cuidar deles. E queremos que eles saibam que papai e mamãe aparecerão para dar colo e tentar resolver o problema sempre que chorarem ou ficarem doentes.

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