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Meu amigo secreto homofóbico

– Mamãe, é verdade que homem só pode se casar com mulher?

Não, ele não tirou essa frase da cabeça dele. Se Isaac tivesse pensado sobre o assunto uns 30 segundos, ele teria concluído que homem pode se casar com homem, pois temos dois casais de amigos super próximos e super queridos – todos homens – que convivem bastante com meus filhos. Então alguém disse isso para ele, alguém deu essa frase pronta para ele.

Eu não sei quem você é, mas te desprezo. Desprezo sua homofobia e desprezo o fato de você ter espalhado sua homofobia para crianças. Sim, estou falando crianças no plural porque duvido que você tenha dito isto somente para meu filho. Temos tantas coisas boas para espalhar para as crianças, fulanx, tipo amor, respeito, carinho, tolerância, amizade, são tantas e tantas coisas que uma lista exaustiva seria imensa. Mas você usou o tempo em que esteve com meu filho para tentar colocar nele sua homofobia.

Amigx secretx, eu não sei quem você é porque não quero intimidar meu filho fazendo-o me dizer quem disse isso para ele. Então, se você estiver lendo este texto, saiba que não é uma indireta. Se eu soubesse quem você é, teria te ligado para te pedir para deixar seu preconceito longe do coração das crianças. Amigx secretx, te desprezo.

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Comentários sobre adoção

Depois do episódio com o Dr. Geraldo, médico da nossa família que teve uma reação bastante negativa quando contamos da adoção, nunca mais – ainda bem! – ouvimos comentários negativos sobre o assunto. Nas demais vezes, quando contamos que vamos ser mamãe e papai e que já estamos esperando nosso filho, recebemos parabéns, abraços e desejos de felicidades!

Apenas duas vezes, no ano passado, ouvi duas coisas sobre adoção que não gostei, mas não foram diretamente para mim, pois as pessoas não sabiam que estávamos pensando em adotar. Uma dessas pessoas me disse que não acreditava em adoção porque conhecia um caso de adoção que não deu certo. Na hora, pega de surpresa, respondi que eu conhecia muitas histórias lindas de adoção: uma prima que foi adotada, uma grande amiga da minha mãe que adotou uma menina, além de três amigas que também adotaram e são muito felizes. Depois conversei com meu marido e ficamos pensando que eu devia ter respondido que “adoção que não deu certo” é despreparo dos pretendentes, que provavelmente não tiveram amor e paciência para lidar com as reações e comportamento da criança e que não se prepararam antes de resolver adotar. E, além disso, também conhecemos várias histórias de casamentos que não deram certo e nem por isso deixamos de nos casar.

Às vezes os comentários não são maldosos, mas são errados. Por exemplo, não gostamos quando as pessoas nos dizem “que coragem!”. Coragem é enfrentar o perigo ou fazer alguma coisa ousada. Ser mamãe e papai não é perigoso e ser papai adotante não é mais ousado que ser papai biológico. Então não é coragem, é só amor. Também não estamos fazendo nada “nobre”, como se estivéssemos fazendo caridade ou salvando a criança. Vamos ser pais, só isso. Nós também não entendemos quando nos perguntam porque não queremos um filho biológico antes. Os dois serão nossos filhos, então a ordem de chegada não faz diferença.

Mas ficamos tristes quando ouvimos histórias de colegas dos grupos de apoio que já ouviram comentários maldosos ou preconceituosos, como “vocês não têm medo que a criança tenha a índole dos pais biológicos?” e “o que vocês farão se a criança quiser conhecer os pais de verdade?”. A criança será um reflexo de sua família e da educação, carinho e amor que receber, então não há motivos para temer que ela “puxe” a índole dos genitores. Sim, ela terá a carga genética deles, mas não podemos afirmar que é melhor ou pior que a nossa própria carga genética. E os “pais de verdade” seremos nós dois, assim como a “família de verdade” será a nossa. No entanto, não temos medo de que ele queira procurar a família biológica. Apoiaremos o direito de nosso filho de procurar os genitores quando for adulto, pois é um direito dele e não faz sentido termos ciúmes ou impedir isso.

Adotar é amar um filho, exatamente o mesmo conceito que todos conhecem quando pensam em filhos biológicos. Nosso filho vai viver um amor assim: imenso e incondicional. A partir de agora que recebemos a habilitação, mais pessoas saberão que estamos esperando nosso filho. E estamos torcendo para ouvirmos só comentários carinhosos.

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Pô, Globo

Eu não assisto novelas. Não só porque geralmente ainda estou trabalhando no horário, mas porque acho ruim mesmo. Na minha opinião, só não são piores que outras três coisas que passam na Globo: 1) Faustão, 2) BBB e 3) Globeleza.

Mas soube que a vilã da última novela das nove tinha um terrível segredo que seria revelado e poderia explicar todas as maldades que ela cometeu: ela foi adotada. E é claro que isso gerou uma grande revolta nas pessoas que acreditam que adoção é um ato de amor e que sabem que tudo o que foi dito na novela é preconceito. As pessoas não se tornam más porque foram adotadas. O fato de uma pessoa ser filha biológica de uma pessoa que tinha uma doença (no caso da novela, a genitora era esquizofrênica) não necessariamente a torna doente. Também não faz sentido questionar o verdadeiro sobrenome da vilã, que foi adotada legalmente e tem, portanto, o sobrenome da família adotiva, nem se ela teria mesmo direito à herança, pois filhos adotivos são filhos e têm todos os direitos que os filhos têm. E, por fim, nenhum filho adotivo deveria ter vergonha ou tentar esconder suas origens, porque isso faz parte da história das pessoas e deve ser preservado. Se geralmente a Globo trata com cuidado alguns temas delicados em suas novelas, como drogas, alcoolismo, violência doméstica, custava ter tomado cuidado também com a questão da adoção?

Eu li sobre o assunto no blog da Silvana do Monte Moreira, que enviou uma carta à Rede Globo sobre o assunto e que está aqui. Hoje encontrei um vídeo de uma campanha que a Globo lançou junto com ANGAAD sobre sobre a adoção, feita pela mesma atriz que interpretou a vilã na novela. Achei legal, mas mesmo assim: pô, Globo!

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