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Ruim com eles, muito pior sem eles

Uma das coisas mais difíceis para mim na maternidade foi perder a liberdade. De uma hora para outra você se prende aos horários de suas crianças e precisa respeitar. Eles que mandam. Eles que definem a semana. Não, não pode mais fazer o que quer a hora que quer.

Aí acontecem as “férias com o pai” na vida de uma mãe solteira e você acha que vai curtir a vida loucamente. Faz planos mil. Oba. Só gandaia. E, na prática, descobre que: 1) as pessoas sem filhos também não topam mil jantares durante a semana porque estão entregando projetos no trabalho, 2) as pessoas com filhos estão cuidando das crias e não têm com quem deixá-los, 3) não tem tanta coisa que eu queira ver no cinema, 4) não tenho tanta coisa para comprar no shopping, 5) não tenho pique pra balada e quero ir cedo pra academia, 6) academia à noite é um inferno, 7) ficar até escurecer no escritório não faz sentido algum e 8) chove no final da tarde e dá vontade de voltar pra casinha.

Aí chego em casa e está tudo no lugar. Tudo como deixei. Escuro. Silêncio. Quando morava sozinha, achava esse encontro com a casa vazia-silenciosa-comodeixei um dos maiores prazeres da vida. Hoje me sinto um ET aqui.

Tô com saudade. Não vejo a hora de sair correndo todo dia para ver vocês. Não vejo a hora da bagunça, da agitação e até da irritação porque vocês aprontam uma coisa por dia. Tá chato, viu?

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Carta para minha filha

Querida filha,

Eu sei que você também sofre com todas as birras e descontrole, que não terminaram nos terrible two e já estão quase chegando aos four. Eu sei que é difícil ficar brava com o mundo, berrar até a garganta doer e se jogar no chão e bater a cabeça. Eu sei que eu sou a pessoa adulta nesse relacionamento e que é meu papel ter calma e paciência. Eu sei também que não sou um ser imaculado que tem calma e paciência 100% do tempo.

Mas você está me ensinando a ser paciente e tolerante. Você é a primeira pessoa neste mundo que nunca irá sair da minha vida mesmo que me irrite, que me teste ou que não faça as coisas que quero. Nós vamos ficar juntas e vamos tentar nos entender, para sempre.

Eu sei que você sofre de saudades. Eu sei que é difícil para você sair da escola com a perua e ser recebida em casa pela babá. Eu sei que você queria me ver antes. Sei também que no final do dia estou cansada, porque eu enfrento clientes atuais que precisam de atenção, novos clientes que entregam minhas metas de receita, chefe, equipe e colegas de trabalho que precisam de reuniões, materiais, definições e entregas. Você não tem nada a ver com isso e eu me esforço todos os dias para abstrair tudo isso enquanto estou no metrô para chegar bem humorada em casa.

Eu sei que todos os dias, sem exceção, você faz alguma bagunça feia na escola ou com a babá. O que você não sabe é que eu pedi para a escola e para a babá tentarem não me contar todas essas coisas em detalhes e hoje elas resumem, contam menos vezes, filtram um pouco mais. Fiz isso porque eu não quero chegar em casa todos os dias e ter conversas sérias e pesadas com você. Quero chegar em casa e te abraçar, ouvir suas histórias, contar sobre o meu dia. Quero te dar banho, brincar e te colocar para dormir. Quero te deixar feliz, quero te mostrar que não vou ficar brava e te dar broncas todos os dias.

Outra coisa que você não sabe é que eu entro no seu quarto todos os dias depois que você dorme para te cobrir e te abraçar. Você dorme pesado e nunca acorda. Você também não sabe que eu queria não ter perua e babá e te buscar na escola todos os dias, junto com seu irmão. Que eu questiono esse “esquema” todos os dias, mas que não sei qual outra alternativa funcionaria bem pra gente. Eu sei que você gosta de dormir cedo, porque isso te faz bem, então sei que não adianta chegar tarde e te deixar dormir uma hora mais tarde, porque você vai estar cansada demais para curtir esse tempo com a mamãe. Eu só não sei o que tenho que fazer para chegar em casa mais cedo todos os dias, sem que isso afete nossa renda e o meu equilíbrio.

Eu quero te ver feliz. Quero ver você tranquila, quero que se sinta linda, que seja querida pelo outros e que pare de roer suas unhas. Por favor, me ajuda a entender o que tenho que fazer para você parar de roer unha. Quero curtir você. Quero ficar mais tempo com você, sem essa de “tempo de qualidade”. Quero mais tempo mesmo. Queria levar você para trabalhar comigo amanhã.

Eu te amo muito, pequenina. Dorme bem, tá?

um beijo e um quentinho

Mamãe Ruri

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Ser (só) mãe

Hoje eu fiz tudo diferente: dispensei a perua de manhã e levei as crianças até a escola a pé, porque o dia estava bonito e eu queria ficar um pouco mais com eles antes da corrida matinal. No final da tarde saí cedo de uma reunião, dispensei a perua de novo e pedi para o taxi me deixar na porta da escola, um pouco antes das 18h. Meu filho quase morreu do coração quando me viu na porta da sala – eu amo essas manifestações intensas e energizantes de carinho.

Voltamos andando, conversando e cantando e paramos na padaria para um leite gelado com pão de queijo. Dispensei a babá e chegamos em casa super cedo, antes do horário que eles costumam chegar com a perua. Eles foram brincar no quarto, ainda era dia, tinha sol entrando pela varanda e a brincadeira rolou um bom tempo enquanto eu arrumava algumas coisas em casa, até chegar a hora do banho. Depois do banho dos três, brincamos juntos de jogo da memória e eles foram deitar. Deitei junto com minha filha e ficamos abraçadinhas um tempão até ela ficar bem sonolenta. Às 20h10 eles estavam desmaiados e eu percebi que fazia tempo que não me sentia tão feliz.

Ser mamãe e ser diretora de empresa juntos ao mesmo tempo é desafio demais. Tem que ter estrutura de apoio (a perua, a babá, a escola) e tem que gerenciar esta estrutura toda. Tem a culpa, tem a saudade, tem o cansaço. Tem cabeça em um lugar e coração no outro. Eu não nasci para ser mãe em tempo integral, mas hoje fiquei me perguntando seriamente se não estou errando totalmente neste modelo que escolhi.

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Coisas que aprendi durante a licença maternidade

Cinco meses e meio foi o maior período da minha vida que fiquei sem trabalhar ou estudar desde que entrei na escolinha com um ano e nove meses de idade (por coincidência, a mesma idade com que nossos filhos entraram na escolinha). Fiquei entendiada e cansada de ficar em casa alguns dias, confesso. Mas estou feliz por ter ficado esse tempo com meus pequenos. Estou feliz por não ter pensado que minha carreira era mais importante e por não ter voltado antes a trabalhar. E, principalmente, estou preparada para saber como é conciliar a vida de funcionária e mamãe.

Nesses meses eu percebi o quanto gosto da minha casa. Gosto do nosso apartamento, gosto da decoração semi-acabada que estamos fazendo, gosto de ter muitas janelas e muitas plantas, gosto de ficar sentada na sala olhando para as coisas que temos aqui.

Também percebi que gosto de estar em casa quando meu marido chega do trabalho. Desde que nos casamos, isso não tinha acontecido muitas vezes porque eu sempre trabalhei até tarde. Também gosto de jantar em casa, mesmo que seja um qualquer-coisa inventado de última hora.

Com relação aos nossos filhos, aprendi que algumas coisas precisam ser feitas ou pensadas pelos papais:

  • Mamãe ou papai precisam ir junto com eles nas consultas médicas. Somos nós que os conhecemos e os acompanhamos no dia-a-dia e que podemos dar informações importantes para avaliação do médico. Somos nós que ficaremos responsáveis por medicações ou cuidados e precisamos ouvir o que o médico tem a dizer.
  • Alimentação saudável é responsabilidade dos papais. Sabemos que nossos filhos vão experimentar guloseimas oferecidas por outras pessoas em festinhas, então fazemos questão de preparar somente comida caseira, fresquinha, variada, com pouca gordura, pouquíssimo sal e nada de açúcar em casa. Também escolhemos uma escolinha que toma esse mesmo cuidado com alimentação e vamos acompanhar o cardápio semanal das refeições dos bebês para saber o que estão comendo.
  • Hora do banho também é hora de ficar junto com mamãe ou papai. É hora de relaxar, de ficar quentinho, de brincar com a água, de fazer carinho, mas é a hora que os observamos peladinhos e podemos reparar se tem alguma errada na pele ou no corpinho.

Também aprendi que me sinto presa se ficar muito tempo em casa. Que sinto falta de conviver com adultos sem crianças por perto. E que nunca vou me arrepender por nunca deixar meu emprego para cuidar exclusivamente dos meus filhos, porque acho que sempre serei uma mamãe bem melhor trabalhando.

Voltei a trabalhar há duas semanas. Sinto falta deles, mas estamos nos saindo muito bem. Buscar na escola é a melhor parte do dia. Nada mais gostoso que chegar na porta da sala de aula e vê-los correndo na nossa direção, dando gritinhos de alegria, também morrendo de saudades.

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