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Paris, je t’aime: dicas para férias em Paris com crianças 

Na verdade, eu não escolhi Paris pensando que meus filhos iriam gostar de lá ou que seria um lugar bacana para crianças. Eu não sabia disso. Eu queria muito passar uns dias em Paris, estava com saudade. Paris é a cidade que mais amo nesse mundo, mais linda, mais fofa e eu não ia para lá desde 2008.

A viagem de avião foi bem mais fácil que eu imaginava. Já tínhamos feito um vôo curtinho em janeiro (uns 50 minutos até Curitiba) e eu estava preparada para o caos dessa vez. Mas, tanto na ida quanto na volta, eles foram dois mocinhos: assistiram filmes até o jantar chegar, comeram super bem (e nem pedi comida especial para crianças) e dormiram direto até o café da manhã. Todos os procedimentos de aeroporto são bem chatos, mas eles se saíram bem. Nós nos sentamos nas quatro cadeiras do meio com uma criança em cada ponta, assim dividi com meu marido os cuidados (ajudar com a comida, ir ao banheiro, apoiar a cabeça no colo para dormir etc.).

Nós não ficamos exatamente em Paris, alugamos um apartamento em Levallois-Perret, e tínhamos uma estação de metrô a poucas quadras de casa e estávamos a 2 km do Arc de Triomphe. Ter escolhido alugar um apartamento e não ficar em hotel foi perfeito para viajar com crianças pequenas e ainda saiu bem mais barato. Quando pesquisei hotéis, as opções seriam reservar dois quartos (super caro) ou colocar duas camas extras no quarto de casal, o que me fez imaginar a cama de casal no meio do quarto, duas camas encaixadas uma de cada lado e nenhum espaço para circulação. Alugamos um apartamento com dois quartos, e assim eles iam dormir mais cedo que a gente, como sempre fazemos em São Paulo. Como tínhamos uma cozinha, tomávamos café da manhã com calma, ainda de pijama, sem ter que nos preocupar em não perder o café da manhã do hotel. Depois do café, eu ia tomar banho e me arrumar para sair (porque, sim, demoro muito de manhã para ficar pronta), e os pequenos podiam ficar brincando na sala longe do barulho do secador. Ter um apartamento também facilitou o processo de lavar roupas e nos deixou com um espaço legal para receber amigos para jantar enquanto os pequenos dormiam. Dá um pouco mais de trabalho porque não tem ninguém para arrumar as camas e tirar o lixo, mas nos dividimos bem para manter a casa em ordem nos 15 dias.

Algumas amigas tinham me contado que tiveram dificuldade para colocar as crianças cedo na cama durante o verão na Europa porque escurece muito tarde, mas Isaac e Ruth se acertaram com o fuso e horários em dois dias. Eu expliquei para eles que em Paris seria diferente de São Paulo e que no horário de dormir ainda teria sol e eles se deitaram quase todos os dias entre 20h ou 21h sem nenhuma reclamação, e dormiam até umas 8h no dia seguinte. Passando o dia fora de casa e sem soninho da tarde, chegavam no apartamento acabados.

Tirando o dia em que chegamos e o dia em que saímos, passamos 13 dias inteirinhos em Paris. Eu deixei bem claro para mim mesma que precisava respeitar os limites dos pequenos o tempo para a viagem ser bacana para todos. Então não saía de casa muito cedo e também não voltava muito tarde – a maior parte dos nossos jantares foi uma comidinha caseira no nosso apartamento. Fazíamos paradas para brincar e descansar sempre que percebia que eles estavam começando a reclamar muito e aproveitava todos os banheiros possíveis para não passar apuros com vontades de xixi ou cocô no meio do nada. Na maioria dos dias, programei apenas uma “atração” e deixava o resto do dia livre para almoçar bem devagar e brincar muito. Foi um sucesso.

Sempre amei Paris e passei a amar ainda mais agora que descobri que há um parquinho fofo, limpo e organizado em cada esquina. Assim, conseguimos balancear bem o “turistar” e o “brincar”. Eu não tinha pretensão de entrar em todas as igrejas e museus, mas queria que eles vissem de perto alguns dos monumentos de Paris. Uma coisa que funcionou super bem com eles foi mostrar fotos e contar algumas histórias do que iríamos ver antes de sair de casa. Meu filho tem uma memória visual incrível e conseguia reconhecer na rua tudo o que eu tinha mostrado para ele no iPad. E, não, nada de caminhadas muito puxadas com crianças, melhor sempre pegar um metrô ou ônibus. Mesmo que o tempo caminhando fosse exatamente o mesmo, dividir o percurso em caminhada-metrô-caminhada os deixava menos ansiosos e menos reclamões.

Comer fora com crianças em Paris foi um sucesso, mas vou confessar que nesta viagem fiz uma coisa que nunca tinha deixado fazer antes: liberei meu celular. Instalei uns joguinhos no meu celular e no do meu marido e eles podiam jogar sempre que entrávamos em um restaurante. Não me orgulho, mas os joguinhos nos proporcionaram momentos de paz enquanto olhávamos o cardápio, escolhíamos o vinho e esperávamos a comida chegar.

O que mais gostamos de fazer por lá:

La Tour Eiffel: quis começar pela torre porque era a principal referência que eles tinham da cidade. Assistimos Ratatouille várias vezes juntos e eles sabiam que viriam para Paris para ver e para subir na torre. Fomos de metrô até a estação Iéna para fazer o resto a pé, porque eu queria que eles dobrassem uma esquina e dessem de cara com ela! Foi super fofinho, acho que eles não imaginavam que era tão alta. Isaac falou que estava com muito medo que a torre caísse em cima dele! Subimos até o sommet. Eles curtiram, colaboraram com o passeio, mas foi um pouco cansativo para eles. Tinha muita fila, muita gente e ver Paris do alto não foi tão interessante para os dois. Eles acharam muito legal ter subido até o topo da Torre Eiffel, mas lá em cima não quiseram ficar reconhecendo outros monumentos ou ficar apreciando a cidade. Mas valeu a pena. Todas vezes que viram a torre de novo, lembravam que tinham subido até a pontinha!

Centre Pompidou: visitamos uma das exposições temporárias e os dois andares de coleções permanentes do lugar, no ritmo deles. Combinamos três regras que devem ser seguidas em todos os museus (não falar alto, não mexer em nada e ficar sempre perto de mim) e deixei que eles olhassem à vontade, parassem para ver as coisas que achavam mais legais e passassem mais rápido pelas coisas que achassem menos interessantes. Foi gostoso. Sentamos na frente de algumas obras para olhar com mais calma, conversamos sobre as esculturas, tomamos um lanche no restaurante do museu e no final eles foram olhar a Galerie des Enfants, onde havia uma instalação que poderia ser observada e experimentada pelas crianças.

Cité des Enfants: na cité de la science et de l’industrie há um espaço onde as crianças podem interagir livremente com os experimentos. Foi bem legal, porque eles podiam mexer em tudo. Não aproveitaram tanto a parte “ciência” da coisa, mas passaram um tempão brincando em um espaço que reproduzia um canteiro de obras.

Muséum National d’Histoire Naturelle: quando saímos do Pompidou, Isaac me disse que achava que sempre tinha esqueletos de dinossauros em museus e me perguntou se não tinha nenhum museu com dinossauros em Paris. Visitamos las galeries d’anatomie comparée et de paléontologie e eles adoraram! Depois passamos um bom tempo no Jardin des Plantes, que tem parquinho e um mini zoo.

Musée Picasso, musée Rodin, musée du quai Branly e l’Orangerie: esses museus não são tão grandes (Picasso foi um pouco mais puxadinho para eles), e deu certinho no “tempo de concentração” dos dois, antes de começarem a ficar ansiosos pela próxima atividade. No Rodin, como a maioria das obras estavam no jardim, não ter que ficar no pé deles para não correr, não gritar ou não mexer em nada também deixou o passeio mais agradável.

Chateau de Versailles: tentei contar um pouco sobre a história de Versailles para eles, mas o que eles registraram foi: “estamos indo visitar o castelo da princesa Maria Antonieta, que ganhou um castelo pequeno do rei, e que depois fez uma coisa feia de adulto e cortaram a cabeça dela fora”. Chegamos lá umas 10h30 e a fila estava assustadora. Tínhamos comprados os ingressos pela internet uns dias ontem, mas mesmo assim precisaríamos ficar em uma fila por cerca de 2 horas para entrar, no sol. Fila + sol + crianças = corre dali. E foi o que fizemos. Fizemos o passeio ao contrário. Começamos pelos jardins, almoçamos em um restaurante italiano super fofo e visitamos o Petit Trianon (o tal do castelo pequeno que Maria Antonieta ganhou do rei) e o Grand Trianon. Só bem no finalzinho da tarde voltamos para o castelo e não pegamos fila para a visita. Mesmo assim, ainda tinha muita gente lá dentro e não olhamos tudo. Eles queriam ver os quartos e o salão de baile, e logo depois fomos embora.

Sacre Coeur: minha lembrança da Sacre Coeur eram escadas e mais escadas pelo bairro até chegar na frente da igreja e subir mais escadas ainda. Acho que desta vez acertei a estação de metrô mais próxima (Anvers, anotem). Achei que ia precisar do funiculaire para chegar até lá em cima, mas eles aguentaram a subida. Na verdade (e de novo ponto para Paris), vimos um parquinho logo que chegamos na praça e combinamos que eles poderiam brincar lá depois que voltássemos da visita. Acho que isso deu um gás nos dois: eles subiram animados, visitamos o interior da igreja e descemos correndo para mais uma meia horinha de parquinho no dia.

Jardin du Luxembourg: tem um parquinho imeeeeeenso e acho que ficamos lá umas 2 ou 3 horas, eles se acabaram. Foi o único parquinho que pagamos para entrar (acho que 2,50 por adulto e 1,20 por criança).

Jardin d’Acclimatation: Fica no Bois de Bologne e fomos lá um dia para um picnic e parquinho. A entrada é paga e o lugar é lindo, cheio de famílias com crianças pequenas.

O que não foi tão legal ou não recomendo:

Musée en Herbe: o museu tem exposições adaptadas para crianças e visitamos uma exposição do Tintin. Eles aproveitaram pouco porque não conheciam o personagem, e achei o espaço de exposição muito pequeno, sem nenhum charme. As oficinas eram muito caras e ficamos pouco tempo lá.

Jardin du Palais Royal: não tem parquinho. Além de correr, a única coisa que eles poderiam ter feito lá era brincar em um tanque de areia, que fica num canto sem árvores. Estava fazendo uns 35 graus esse dia e eu não deixei os dois ficarem embaixo daquele sol todo.

Louvre: resolvi não visitar o Louvre com os dois nesta viagem. A verdade é que nas últimas duas vezes em que estive em Paris reservei um dia inteirinho para o Louvre e não estava com vontade de ver nada por lá desta vez. É grande demais e tem muita coisa diferente uma da outra lá dentro (e muita coisa chata também) e achei que eles não iriam aproveitar a visita direito. Deixei para uma próxima vez e só passeamos por fora para ver as pirâmides, o Arc de Triomphe du Carrousel e o jardin des Tuileries.

Notre Dame: tinha uma fila imensa cortando a praça para visitar o interior da Notre Dame e passei reto. Sem filas embaixo de sol com crianças, peloamor. Sentamos um pouco na frente da igreja para olhar a arquitetura e depois ficamos um pouco em um parquinho que tem exatamente ao lado (Paris, já te disse quanto te amo?).

Disneyland Paris e Walt Disney Studios Park: Deixa eu falar sobre Disney. Uma viagem para Orlando nunca esteve nos planos nesta encarnação, e eu nunca considerei levá-los para Disney. Mas já que a gente ia para Paris e já que tem dois parques da Disney por lá, achei que poderia ser legal e comprei ingressos para três dias no parque. Eles já assistiram algumas animações da Disney, conhecem bem alguns personagens e as princesas e toda criança gosta de parque de diversões. Mano. De tudo que fizemos em Paris, Disney foi a parte mais difícil e acabamos usando apenas dois dos três ingressos, sem nenhum arrependimento da minha parte. Era muita fila. Vinte minutos de fila com os dois esperando ansiosamente para girar 45 segundos em um brinquedo era tortura. Só que “20 minutos” era uma fila curta e quase sem ninguém, em geral a gente tinha que esperar muito mais. Depois da primeira tortura fila, eu conversei com os dois sobre o tempo de espera e sobre o quanto é chato mesmo esperar. Eles sempre prometiam que seriam pacientes, mas terminavam me fazendo resmungar coisas do tipo “parem de reclamar peloamordedeus antes que eu resolva sair dessa fila e não voltar nunca mais aqui”. Nem todas as atrações, principalmente as atrações para crianças pequenas, têm o Fast Pass, então tínhamos que encarar as filas. Fizemos coisas legais, claro. Eles amaram o show da Frozen e a parada no final da tarde e chegamos em atrações bem divertidas sempre que vencíamos uma fila. No primeiro dia, saímos do parque às 19h e, no segundo, pus a galerinha do trem às 17h. Eu estava morta. Sério, gente, não sei como vocês aguentam ficar de 7 a 10 dias seguidos indo em parques de diversões. Vocês são loucos.

Saldo

Eu achava que uma viagem assim só ia rolar quando eles tivessem uns 10 anos e que até lá eu teria que me conformar com praias e hotéis fazendas. Mas não. Foi demais. No fundo eu acho que crianças sempre vão curtir férias com a família, não importa onde estejam. Foi tão tão tão bom, que já estou super animada para nossa próxima aventura e já decidi que nunca mais vou perder uma exposição por medo de eles não se comportarem.

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Os parquinhos de Paris

Os parisienses gostam demais de suas crianças e também ajudam bastante os turistas que viajam com crianças: tem um parquinho fofo, limpo e bem sinalizado em toda quadra e ao lado de todo monumento histórico.
Parquinhos duas ou três vezes ao dia ajudaram meus filhos a descansar de longas caminhadas e de visitas cheias de regras (não pode mexer, não pode gritar, tem que dar mão). Também dava um descanso para nós dois, os adultos, pois podíamos sentar na sombra e conversar sem os “por quê? por quê? por quê?” de crianças de quatro anos.

Além da limpeza e quantidade, uma coisa me chamou atenção nos parquinhos de Paris: nenhum deles tem balanço. Em São Paulo, todo parquinho que conheço – incluindo meu próprio prédio – tem balanço. E eu detesto balanço.

Não só porque é perigoso, com criança voando e caindo de cara no chão e criança passando perto de outra criança balançando e perdendo a cabeça. Detesto balanço porque eles demandam adultos na brincadeira. Sabem? “Manhê, vem aqui me balançar?”. Aí você tem que levantar e ficar em pé no sol olhando aquele vai-e-vem entediante. Ou você sugere que outra criança balance, e aí sai briga na certa, além de ser perigoso. Inferno de balanços. Citei balanços, mas em São Paulo tem também as gangorras, outra coisa que detesto. Aquela coisa que prende o pé de um na hora que abaixa, que pode quebrar os dentes do outro na hora que levanta rápido, e é sempre difícil de entrar e sair para brincar sem ajuda de um adulto. 

Aqui não tem balanços. Claro que eles sempre podem cair de algum lugar em que subiram, faz parte. Mas sempre podem brincar sozinhos. Autônomos. Sem adultos por perto. Não precisam ficar chamando a mãe o tempo todo e nem preciso ficar preocupada se alguma coisa vai acertar a cabeça deles. Adultos podem ou não participar da brincadeira, mas não tem nada nos parquinhos que as crianças não consigam fazer sozinhas (desde que sigam as recomendações de idade que estão em todos os brinquedos). Nada é perigoso, tudo é pensado e adaptado para crianças e até o chão é emborrachado para amortecer as quedas. Em todos os parquinhos.

Uma vez levei os dois para passear no Horto Florestal em SP e fiquei mega frustrada com o parquinho porque eles não conseguiam subir em nada sem minha ajuda. Haddad, a gente precisa de mais parquinhos e de mais autonomia, ok?

E só para fechar: ninguém vem de branco no parquinho. Não sei se os adultos que estão aqui acompanhando crianças são parentes ou babás, porque ninguém está discriminado. Porque, né, não preciso saber se a moça que está olhando a menininha com quem a Ruth está brincando é a mãe dela ou babá dela. Alguém que vive na mesma cidade que eu já foi em um parquinho no meio da semana para ver a quantidade de moças de branco que estão por lá? Ou num clube? Ai, São Paulo, você e suas bizarrices. 

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Cult

Último dia de viagem com vôo no final do dia e resolvemos ficar por perto. Acabando o almoço, Isaac me fala.

– Mamãe, hoje a gente não vai fazer nada? Só vai no parquinho e no restaurante almoçar?

– Como assim, Isaac? O que você queria fazer?

– Passear. Numa igreja, num teatro, num museu.

Meeeeeeuuuuu. Você passou três vezes na fila da fofura, né, menino?

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Refugiados

Tô em Paris.

ESTAMOS em Paris, na verdade.

Algumas pessoas me perguntaram se não achava um pouco cedo para trazer os dois para Paris, porque eles não vão se lembrar de nada.

Eles, não sei. Só sei que eu vou me lembrar de tudo. Pra sempre.

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