Desabafo I

Estamos passando por uma fase do cão. Em geral, sou bem sensível para entender os problemas dos meus filhos e ajudá-los a resolver. Desta vez, não sei. Não sei se foi porque tiramos férias juntos pela primeira vez e depois voltaram para a realidade, não sei se a rotina na escola está muito diferente sem a professora e os amigos que estão de férias ainda, não sei se foi porque mudei a mesinha de brinquedos do lugar, não sei se estou diferente, não sei se é o frio, não sei. Só sei que não sei o que fazer.

Eles estão muito bagunçados e agitados há algumas semanas. Do tipo que faz todo mundo que convive com eles comentar alguma coisa do tipo “nossa, eles não param”. Eles chegam em casa e destroem. Meu filho vai pra fono e a moça fica louca. Berram na perua. Deixei um dia em casa com minha mãe por uma hora e, quando voltei, ela estava de goleira na frente do móvel da TV para que eles não mexessem em mais nada. Deram para colocar mão na comida, fazer xixi na roupa de propósito, abrir meus armários e muitas outras coisas claramente irritantes.

Tá. Eu consigo enxergar que estou exagerando. Não é que está tudo tão mal assim o tempo todo. Não. Temos lindos momentos de muito amor e obediência. Mas a fase está mais caótica que o normal.

Aí eu me dei conta que eu tenho mais medo de assustar as pessoas que convivem com a gente do que efetivamente de ter que lidar com as birras. Tenho medo que um dia a tia da perua me diga que não aceita mais os dois. Tenho medo que a escola me diga que assim não dá mais, que só posso matricular um no próximo ano. Tenho medo que ninguém mais queira frequentar a nossa casa, porque isso aqui parece uma escola de samba no Anhembi. Tenho medo de não receber mais convites para sair com eles. Tenho muito medo que eles percebam que as pessoas não dão conta e se chateiem ou que se afastem de pessoas de quem eles gostam.

Aí eu fico me perguntando se nós realmente já não assustamos as pessoas. Desculpam, filhotes, eu fico. Eu me pergunto quantas vezes recebo convites para ir à casa de alguém com eles versus quantas vezes em convido para fazer isso. Eu diria que em 95% dos casos, eu me convido, e isto me assusta. Me dei conta de que eles nunca receberam um convite para passear com ninguém. Nem nunca receberam convite para brincar na casa de um amiguinho (o que pode ser culpa minha, já que a mãe também precisa ser legal para que a outra mãe queira iniciar uma amizade materna). Me dei conta também que eu mesma tenho preguiça antecipada de interações sociais. Por exemplo: descobri hoje um restaurante vegetariano e orgânico bacana e pensei em almoçar com eles lá nesse final de semana. Mas imediatamente fiquei me perguntando se eles vão correr pelo lugar, se vão mexer em tudo, se vão comer com as mãos, como é que vou fazer para levar um no banheiro enquanto o outro está aprontando alguma coisa e não sei se vou. Outro exemplo: comprei ingressos para uma peça de teatro amanhã e também estou sofrendo por antecedência porque é sempre caos. Eles não ficam do meu lado, se penduram em tudo, mexem mas coisas dos outros e só tenho duas mãos. Mais um exemplo: levei os dois no Simba Safári outro dia e eles fizeram tanta confusão no carro durante a ida (brigaram, tiraram sapatos e meias e jogaram no chão, choraram) que fiz o percurso todo até o local me arrependendo amargamente por ter saído de casa com eles e quase voltei. Durante o passeio nos divertimos muito, foi realmente legal. Mas na volta estavam cansados, com fome e frustrados com o fim do dia e eu lamentei tudo de novo. Só mais um exemplo: meu novo chefe sugeriu que eu levasse meus filhos um dia para conhecer o escritório e os colegas e eu pensei: “HAHAHHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAH tá doido?”.

“Gêmeos de 3 anos” é uma coisa assustadora, entendo. Uma criança mais uma criança igual a umas cinco crianças. É difícil. E, principalmente, solitário. Solitário pra mim, porque sou a mãe e fico aqui na sexta à noite conversando sobre maternidade com meu iPad porque não sei o que fazer/ como lidar/ qual o problema. Solitário para eles, porque eles deixam de fazer muitas coisas divertidas porque é muito assustador cuidar dos dois.

Antes que eu receba xingamentos e protestos, eu amo meus filhos, tá? Cuido muito bem, trato muito bem, me esforço para ser paciente e vou dedicar minha vida toda aos dois. Se alguém achar que é uma piração de uma pessoa despreparada para a função de mãe, dois brigadeirinhos estarão à disposição para qualquer convite para passeios nesse final de semana, para uma aula experimental. Mas só vale se levar só os dois, para ver como é. É só ligar.

PS: se de uma hora para outra começarmos a receber mais convites, quero deixar bem claro que não tentei dar indireta para ninguém. Mas meus bebês desconhecem a existência de um blog e ficarão genuinamente felizes com isso, ok?

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2 pensamentos sobre “Desabafo I

  1. Aline disse:

    Ruri, nao tenho experiencia na maternidade para dar alguma sugestao… mas saiba que acompanho sempre seu blog e acho ele excelente e divertidissimo! Aprendo muito por aqui. Estamos nos habilitando para adotar duas criancas ate 4 anos e bem ansiosos com as mudancas que nos esperam. 🙂

  2. Virgínia disse:

    Adoro seu blog, já devo ter lido pelo menos umas 3 vezes cada história, e confesso, costumo rir muito de como vc conta cada história, sou solteira, 33 anos e estou próxima da minha habilitação (perfil de até 2 bebês, até cinco anos). Como sou apaixonada por crianças, escolhi trabalhar com a pedagogia, se eu morasse em sua cidade, pode ter certeza que eu faria esse convite para passear com seus bebês num horário que você estivesse correndo contra o tempo pra dar conta de tudo.
    Você está cumprindo seu papel lindamente, entendo suas preocupações, seus medos, e até seu choro, acredite, mas creio que você está indo pelo caminho certo, tenho certeza que quando olhar pra traz um dia, vai se dar conta que fez um bom trabalho… bjs!!!

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