Gente, tô de mau humor hoje, juntando uma TPM, um carro sem combustível na chuva, uma agenda de reuniões no trabalho difícil de coordenar e um calor que dá vontade de andar pelada por aí. Então vou ser um pouco amarga, ok?
Eu lembro bem quando saí da casa da minha mãe para morar sozinha e achei a vida de adulto muito difícil. De repente, além de trabalhar e estudar (eu fazia mestrado na época), eu tinha que cuidar de um apartamento (incluindo problemas no encanamento e chuveiros que quebram no meio de uma semana caótica), de contas para pagar (incluindo lembrar de pagá-las, além de ter o dinheiro), de coisas para resolver (incluindo agendar e levar o carro na revisão, já que minha mãe não estava mais por perto para pedir favores aleatórios do dia a dia), tudo sozinha. Aí eu resolvi virar mamãe e somei a tudo isso o piémôu do projeto “conduzir dois bebês da infância até a vida adulta”.
Mano, não é mole, tá? Eu não tinha noção do quanto é difícil ser mamãe até virar uma mamãe. Hoje eu tenho admiração e compaixão por todas as mamães do mundo. Sério mesmo. Hoje sei que nenhuma escolha relacionada à maternidade é simples e admiro todas elas.
Eu escolhi conciliar trabalho e maternidade. Fazem parte dessa escolha argumentos como: 1) eu gosto de trabalhar, 2) eu não suporto ficar muito tempo em casa, 3) eu não nasci rica, 4) eu não me casei com um papai rico, 5) eu não ganhei na loteria até agora. Mas esses argumentos não vêm ao caso. O caso é que estou aqui tentando conciliar dois papéis e até agora não encontrei a fórmula mágica para estar totalmente feliz, satisfeita e realizada com a minha escolha.
Nesses doze anos desde que comecei a fazer meu primeiro estágio, nunca tive um ano tão confuso no trabalho. Trabalhar sempre foi o cargo principal exercido durante a semana e, apesar de nunca ter sido apaixonada por trabalhar aos finais de semana, virar madrugadas ou ter que viajar, eu nunca tinha tido tremedeiras ao pensar nessas coisas. Sempre trabalhei com coisas que eu gostava, sempre fui do tipo que abraçava mais coisas que cabiam nas 8 horas diárias, sempre fui dedicada, comprometida, disponível e feliz com tudo isso. Só que de uma hora para hora, eu não tinha mais que 8 horas por dia para ficar no escritório, não conseguia mais abraçar tudo o que eu queria, mas continuo gostando do que faço, continuo tentando ser feliz com tudo isso e passei a sofrer por não me achar mais tão dedicada, comprometida e disponível como eu era antes.
Quem fica escrevendo por aí que as mamães ficam mais produtivas depois da maternidade só deve ter conhecido mamães de sorte cujas rotinas nunca saem do previsto. Eu tento, tá? Juro. Mas a escola me liga no meio do dia para falar sobre os mais variados assuntos, fazendo meu coração pular cada vez que acho que aconteceu alguma coisa grave com eles. Eles ficam doentes e me fazem agendar consultas, exames, passar na farmácia, trabalhar de casa, tudo no horário que eu queria estar bem produtiva no escritório. A empregada pede demissão e me faz agendar entrevistas e mais entrevistas para encontrar uma nova pessoa para me ajudar com os dois no final do dia. E por aí vai.
Tá. Tô exagerando. Essas coisas não acontecem toda semana, mas acontecem de vez em quando e, quando acontecem, deixam a mamãe louca. É óbvio que meus filhos são prioridade, então é óbvio que paro o que estiver fazendo para resolver qualquer problema deles. Quando estou com eles, estou só para eles. Não atendo o celular, não checo e-mails, não respondo mensagens e só volto a ficar conectada para o mundo depois que eles vão para a cama. Chegar tarde para vê-los dói, como contei aqui. E, por serem prioridade e as coisinhas mais importantes da minha vida, eu tive que colocar alguns limites no trabalho por causa dos dois.
Colocar limites parece fácil, né? Eu não consigo chegar cedo demais em uma reunião porque não consigo adiantar o horário que a escola abre e também não acho tão legal ficar acordando os dois de madrugada para sair cedo de casa. Eu não consigo trabalhar até mais tarde porque eu não quero ser a mamãe que chega em casa e as crianças já estão dormindo. Eu não consigo viajar a trabalho porque dormir longe dos dois me destrói. Eu não consigo trabalhar aos finais de semana porque é meu tempo com eles, só para eles e nós precisamos desse tempo juntos. Fácil falar, né? Mas se eu não consigo fazer nada que extrapole minhas 8 horas diárias mas também não consigo ser 100% produtiva durante as tais 8 horas, que catso estou fazendo para merecer o salário no final do mês?
Ah, o salário. Eu gosto do salário e não posso ficar sem o salário. Claro, eu acho que eu devia e precisaria ganhar um pouco mais, porque o salário nunca dá para tudo o que quero fazer no mês (e sei que esse não é um problema só meu no mundo). Eu também olho pro orçamento e não sei onde reduzir para fazer caber em um salário menor, então gostaria que meu salário ficasse no mínimo onde ele está hoje. Mas para merecer, eu preciso trabalhar direito. Aí alguém me explica cadê o jeito de conciliar direito esse negócio de trabalho e maternidade? Como eu me livro dessa sensação diária de que não sou boa nem em uma coisa nem em outra?