Eu estava no sofá, iPad no colo, passeando pelo Papais Adotantes, dando uma lida na diagonal dos últimos posts e percebi que meus textos alternam entre: 1) textos fofos e amorosos sobre o quanto eu amo meus filhos, 2) textos sobre maternidade em geral (logística, educação, saúde, alimentação) e 3) textos onde deixo bem claro para mim mesma que é muito difícil ter filho, ter gêmeos, ter crianças de 3 anos e etc.
Ser mãe é ser bipolar. Em um mesmo dia, eu passo de um extremo ao outro rapidamente. Uma hora amo demais, sou a pessoa mais feliz do mundo, acho tudo fofo demais, no minuto seguinte fico brava, fico com raiva e fico me perguntando “por quê?, por quê?, por quê?”. Pareço louca. Exemplo do que estou falando, abaixo.
Era um domingo e eu acordei com dor de garganta. Eu já estava um pouco mal no sábado à noite, mas eles já tinham ido para a cama e eu não podia largar os dois sozinhos para ir até a farmácia, e não tinha um único comprimido em casa. No domingo, achei melhor começar a me drogar loucamente, porque mãe doente é caos na Terra. Eles estavam brincando e perguntei se queriam ir comigo até a farmácia.
– Obaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Vamos colocar sapatoooooooooooooooo!
Lá fomos nós três, a pé, porque não temos carro. Fomos conversando, curtindo o dia e eu pensando como é legar ter companhia, ter gente que vai comigo na farmácia quando estou doente, que topa andar 1 Km para ir, outro Km para voltar numa boa, que me ama e coisa e tal. Tudo muito lindo. Quando cheguei na porta da farmácia, expliquei as duas regras:
– Não pode mexer me nada. Tem que ficar perto da mamãe. Só vou comprar uma caixa de comprimidos, pagar e vamos embora, ok?
– Ok.
Nada. Foi mais forte que eles. Eu sei que eles entenderam que não podiam mexer me nada, eu sei. Eu sei também que ver muitas caixinhas, potinhos e saquinhos em cores, formatos e texturas diferentes é fascinante. Eles não conseguiam não mexer em nada. Eles têm quatro mãos. Eles pegaram tudo, mexeram em tudo, apertaram tudo. Levaram bronca, pararam por 3 segundos e pegaram outra coisa. Eu me perguntei se seria presa se sacasse uma fralda de pano da mochila e amarrasse as mãos deles naquele negócio que confere se vamos sair da loja sem pagar, só para eu poder pegar um comprimido e irmos embora. Fiquei com medo de eles derrubarem o negócio, não era muito firme. Eu também não tinha uma fralda de pano, senão teria arriscado. Tentei segurar as quatro mãos deles com uma mão minha, mas não dei conta. Comprei quatro caixas de comprimidos, porque achei que assim ocuparia as quatro mãos, mas não adiantou, porque eles seguraram minhas quatro caixas entre os braços e o peito e continuaram a mexer em tudo. Foi insuportável. Cinco minutos que duraram uma eternidade.
No caminho de volta, eu estava muito irritada. Eu fiquei me perguntando por que catso eles não conseguem obedecer duas instruções simples, quando sei que eles já são bem capazes de entender o que estou falando. Fiquei me perguntando como pode ser tão difícil fazer coisas tão simples com gêmeos de 3 anos, como ir até a farmácia comprar um comprimido. Me arrependi profundamente da ideia que tive, fiquei achando que era melhor ter esperado até segunda, porque eu jamais deveria ter saído de casa com dois monstrinhos.
Depois cheguei em casa e passou, esqueci.
Olha, super me identifiquei com a parte “Eu sei que eles entenderam que não podiam mexer me nada, eu sei.”
A minha não tem nenhum gêmeo, mas estamos numa fase terrível de ‘porque você mexeu no meu armário?’, ‘porque eu queria passar seu perfume’, ‘mas você pode mexer no que não é seu?’, ‘não’, ‘e porque mexeu,então?’, ‘porque eu queria passar seu perfume’.
E é assim com tudo: confeitos de bolo nos armários, maquiagem do quarto da irmã mais velha, bobageiras do quarto do irmão do meio e sempre tem um ‘porque eu queria…’.
Me identifico na bipolaridade. rss
Uma coisa é certa: educar não é nada fácil.
Abraços!
Cláudia