História 1: a moça na cadeira de rodas
A gente estava na sala de espera e tinha uma moça em uma cadeira de rodas. Ruth começou a me fazer perguntas do tipo: “ela não anda?” e “por que ela tem cadeira de rodas?”. Eu achei natural que ela ficasse curiosa, e achei que seria natural falar sobre isso também. Mas não queria ficar falando sobre a moça, porque a gente está aprendendo a não ficar falando dos outros. E eu também não sabia explicar por quê a moça estava na cadeira de rodas.
– Ruth, por que não vai lá conversar com ela?
– Porque eu não a conheço, não posso. – ah, sim, também estamos aprendendo a não falar com estranhos, porque meus filhos exageram na socialização por aí.
– Eu a conheço, ela é psicóloga aqui. Pode ir lá.
E lá foi ela. Fiquei pensando se ela ia chegar bombardeando a moça de perguntas, mas não falei nada, deixei ela ir. Que nada. Até fiquei emocionada com ela, que chegou, mostrou as fotos da nossa família que ela estava olhando comigo, disse o nome dela, falou sobre o irmão, falou sobre outras coisas e só depois começou a perguntar sobre a cadeira de rodas. Ela mesma sentiu que precisava se apresentar e ter um assunto para quebrar o gelo antes de invadir a moça com perguntas. E depois conversaram sobre a cadeira de rodas com a maior naturalidade do mundo e, quando ela voltou, não me contou nada, falou sobre outro assunto.
História 2: Isaac aos prantos
Ele escolheu um bichinho de pelúcia para dormir e sujou o bichinho minutos antes de ir para a cama. Ele chorava, chorava, chorava, e eu não conseguia falar com ele. Eu estava tentando explicar que não dava para lavar o bichinho a tempo de ir dormir e ele chorava e me pedia desculpas, achando que eu não ia devolver o bichinho como um castigo. Eu tentava explicar que não estava brava, que não tinha problema ter sujado, só que lavar um bichinho de pelúcia não era um processo rápido assim, e ele chorava mais ainda que queria o bichinho. Cada vez que eu tentava explicar alguma coisa, ele chorava mais e mais e mais. A gente estava num looping infinito. Aí aparece a Ruth, com um bichinho dela nos braços como se fosse o bebê. Entregou o bichinho para ele, deu um abraço, deu um beijo nele e saiu. Não disse uma palavra. E ele parou de chorar, deitou e dormiu. Fim.
Ruth, a vida é bem melhor com você. Ainda bem que tenho você.
adoro suas histórias Ruri, sempre que posso leio. Gosto muito do seu ponto de vista, e fico contente em acompanhar o crescimento das crianças.
🙂