Um dos maiores desafios nessa história toda de conciliar carreira e maternidade para mim foram as consultas médicas. Meus filhos são super saudáveis e não têm nenhum problema grave de saúde, mas acontecem muitas consultas. Tem a pediatra, a dentista e a oftalmo da Ruth que são semestrais, tem as terapias semanais que eles fazem, tem consultas eventuais com algum especialista diferente, aí estes profissionais todos pedem exames e avaliações. Tudo isso que estou falando deve ser feito em horário comercial, porque médicos trabalham em horário comercial. E criança também só funciona bem em horário comercial; não dá para marcar pediatra às 20h e achar que eles vão colaborar com o processo todo num super bom humor. Então eu tinha um emprego em horário comercial, consultas médicas acontecendo em horário comercial e muito samba para conciliar. Consulta cedinho, consulta no almoço, consulta no finalzinho da tarde, tudo para ser boa profissional.
Só para detalhar: não é só o horário da consulta em si. Levar uma criança a uma consulta médica envolve sair de onde você estiver (no escritório), buscar a criança onde ela estiver (na escola, no caso a 45 minutos do escritório), fazer o deslocamento até o médico (30, 45, 60 minutos), esperar (x?), ser atendido (30, 45, 60 minutos), fazer o deslocamento até onde a criança estava, voltar até onde eu estava. Somei aí umas quatro horas na brincadeira. Meio período. Metade das horas que eu deveria trabalhar. E, não. Não adianta achar que, só porque cheguei 12h no escritório porque levei alguém numa consulta, vou poder trabalhar 4 horas a mais no final do dia, porque no final do dia tem que buscar na escola, tem que ir para casa, tem que ser mãe de novo. Eles não iam me esperar na escola até às 22h só porque eu entrei mais tarde. Não existe isso.
Isaac passou meses com acompanhamento mensal de um tratamento que fez nos dentes. Para não perder horas no trabalho, montei um esquema assim: meu padrinho (santo padrinho que meus pais – ele espírita e ela budista – me deram quando resolveram me batizar na igreja católica sei lá por quê) ia para minha casa às 7h no dia da consulta (ou seja, ele saía da casa dele umas 6h20), íamos juntos até o consultório (50-60 minutos de deslocamento), Isaac era atendido às 8h, saímos de lá umas 9h, meu padrinho partia com ele para a escola e eu ia para o outro lado trabalhar. Chegava no escritório 9h15 e ninguém percebia nada. Lindo.
Num desses dias, eu já estava pronta para sair com Isaac e meu padrinho me avisou que não ia conseguir ir comigo, estava passando mal. Desmarcar a consulta em cima da hora com o menino já prontinho para ir também não me parecia legal com meu filho. Afinal, o tratamento era importante, era minha responsabilidade levá-lo no acompanhamento todos os meses. Então fomos. No caminho, liguei para minha mãe, mas ela também estava enrolada, o que é compreensível, já que ninguém está à disposição de mães solteiras numa segunda-feira às 7h da manhã. Se eu tivesse que levar Isaac de volta para a escola para ir trabalhar depois, eu ia chegar no escritório umas 11h. Minha mãe sugeriu, então, que eu fosse para o escritório com ele e ela poderia ir buscá-lo umas 10h e pouco. A ideia era linda: eu não ia passar 2h do meu dia me deslocando e poderia começar a trabalhar no horário que eu queria. Isaac ficaria uma horinha desenhando ao meu lado e iria embora com a vovó. Plano B acionado e combinado. Teria sido perfeito, outra ótima solução para conciliar carreira e as consultas médicas que a maternidade nos traz. Se meu filho não tivesse sido proibido de ir comigo ao escritório. Ponto. Não sei mais o que dizer. Ponto. F$#*&$#*, né?
Coisas que só acontecem com nós, mulheres… é de lascar!
[…] eu achava que não era boa nem em uma coisa, nem em outra. Alguns textos meus sobre este item aqui, aqui, aqui, aqui e […]