Um amigo veio dizer pra mim que está saindo com uma mãe solo e que tá complicado, tá difícil, ele tá em crise, não sabe se continua blá blá blá. Queria dicas minhas. Eu pensei em classificar como “pequenos desgastes” e deixar pra lá, mas resolvi dissertar.
Vamos lá, meu querido.
Primeiro: o mesmo tipo de homem que diz que tá complicado sair com mãe solo também diz que não sai com mulher feia, mulher gorda, mulher pobre, mulher com doença, mulher com deficiência, mulher velha, mulher rodada, mulher divorciada e por aí vai porque ele enxerga o tipo ideal de mulher: branca, solteira, magra, bonita, inteligente, estudada, empregada, sem filhos, que tenha tido poucos parceiros sexuais, que queira casar só e somente só ele quiser e que queira filhos só e somente só ele quiser. Né não, gente? Quando eu ouço algo assim, parece que os homens finalmente entenderam que as mulheres não precisam mais ser virgens para valerem a pena, mas precisam manter a pureza e castidade mesmo assim. Filhos, casamentos anteriores, “bagagem” estragam tudo. Affff.
Amigo, quanto mais vivemos e mais velhos estamos e passamos a nos interessar por pessoas mais velhas (aka da nossa faixa etária, porque estou assumindo que pedofilia não é uma opção), maior a chance de estas pessoas já terem filhos. Aliás, não só filhos. As pessoas vivem, né? Elas passam por traumas, histórias, separações, doenças, dificuldades, conquistas, decisões, coisas que fazem parte da vida. Se chama “história de vida de cada um”.
Achar complicado sair com uma mãe solo significa o desejo de ter uma mulher disponível para o que você quiser a hora que você quiser, porque os filhos a impedem de sair quando der na sua telha, de dormir na sua casa, de viajar quando você está a fim de viajar. Significa que no fundo você quer controlá-la. Sou mãe solo e não são só meus filhos que não me deixam ter uma agenda 100% à disposição do meu namorado, sabe? Porque eu trabalho, estudo, faço esportes, tenho hobbies, tenho amigos e família e simplesmente não estou disponível a hora que ele quer, mas a hora que eu quero. E esta história de querer uma mulher disponível leva rapidamente a achar que você pode palpitar no cabelo, na roupa e no corpo dela, nos amigos e em quem ela conversa, no jeito que ela fala, no trabalho, nas coisas que ela quer fazer e por aí vai. O nome disso é controle e você começou querendo ter controle sobre o que ela viveu antes de te conhecer.
Ah, mas você diz que o relacionamento com uma mulher que tem filhos é diferente do relacionamento com uma mulher que não tem filhos. É, nego. Todo relacionamento é diferente um do outro porque as pessoas são diferentes, não importa se elas têm filhos ou não. Não adianta você comparar a ex-namorada sem filhos com a namorada atual com filhos porque a diferença não são os filhos, mas são as pessoas. Do jeito que você fala parece que namorar mulheres que não têm filhos é sempre igual, e você sabe que não é.
Os filhos dela não vão atrapalhar o relacionamento, não, porque são problema dela, não seu. Você pode escolher não conhecer as crianças, assim como ela pode escolher não te apresentar as crianças, mas vai por mim, os relacionamentos vão mal por causa dos adultos, não das crianças. E relacionamentos entre duas pessoas sem crianças vão mal o tempo todo, apenas para constar. E não precisa se preocupar agora se você quer casar/ não quer casar, quer ter filhos/ não quer ter filhos, porque casamento e filhos são decisões que duas pessoas tomam juntas (ou, no caso de gravidez acidental, é acidente que duas pessoas passam juntas). É a mesmo absurdo que começar a sair com uma mulher que não se casou e não teve filhos e ficar pensando AIMEUDEUSVAIQUEELAMEOBRIGAACASARCOMELA. Não, né? Qualquer mulher pode querer se casar e ter (outros) filhos, independente de ela já ter filho. Aliás, ele pode inclusive querer mais filhos mas não querer que você seja o pai, porque talvez você não seja o cara. Ou ela pode não querer. Sei lá. Só sei que você deveria assistir uns filmes abraçadinhos, transar loucamente, se enfiar no meio do mato no final de semana em vez de ficar se preocupando com isso. Assiste La La Land com ela, passa o dia cantando City of Stars e deixa pra pensar nisso no futuro, cara.
O que aprendi neste tempo como mãe solo em que namorei, casei, divorciei, conheci pessoas e me envolvi é que existe uma coisa essencial na vida que se chama respeito. Respeito pela vida do outro, pelo que a pessoa já viveu e por quem ela é. A maternidade faz parte da vida da mulher com quem você está saindo assim como todas as outras coisas que ela escolheu viver ou teve que passar e que a tornam única. Uma das coisas mais legais que já senti nesses anos como mãe solo foi o respeito de alguém que sabe de toda minha vida e que não fica me achando uma complicação ou uma dificuldade por eu ser quem eu sou. Uma das coisas que acho que as mulheres esperam – tendo filhos ou não – é encontrar alguém que não julgue, que não critique, que não fique falando sobre defeitos, que não fique vendo problemas em tudo. É muito mais um “nossa que legal que você gosta de cinema pedal forró viagens drinks papo cabeça” que um “ah que droga que você não pode fazer o que eu quero hoje porque vai estar com filho/ amigo/ família/ trabalho”, entende?
Então quando você me pede dicas, eu tenho uma só: respeito. E não é só respeito pelas questões do filho, tá? É respeito pela liberdade dela, pelas vontades dela, pela forma como ela conduz a vida dela, pelo espaço dela, pelo tempo dela, pela vida toda dela. Vai por mim, respeito.