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Eu amo comer fora

Teve um longo período na minha vida em que eu encontrava meus amigos e tomava só cerveja. Só. Tá, no máximo um porção de fritas pra acompanhar, porque o dinheiro não dava pra comer fora. Aí o salário de estagiária começou a permitir lanches e pizzas com a galera. Aí eu fiquei velha e phyna e hoje curto mesmo sair para jantar.

Você escolhe um lugar legal, vai até lá, às vezes até reserva antes. Chega, escolhe uma mesa num lugar aconchegante, recebe a carta de vinhos. Escolhe as bebidas, olha o cardápio com calma enquanto conversa, muitas vezes demora para pedir alguma coisa porque estava batendo papo. Vem o couvert. Daí você pede uma entrada e espera calmamente ela chegar. E saboreia. E depois de mais papo, escolhe o prato principal. Ele demora, você conversa, bebe, conversa mais. O prato chega, você come com calma, comenta os ingredientes, aprecia. Depois vem sobremesa, depois café, depois vem a conta e nessa hora eu vou ao banheiro para não ter que dividir.

E um belo dia você vira mãe e o mundo desmorona.

Na última vez que fomos a um restaurante, tínhamos passado a manhã na praia e já passava das 14h. Ou seja, eu tinha duas crianças com fome e sono. Entramos e eu escolhi uma mesa. Com um em cada uma das minha mãos, olhei rapidamente para todos os lados e visualizei os cadeirões. Pedi ao garçom para trazer bem rápido e colocar um ao lado do outro, enquanto eu afastava dos lugares das crianças todos os pratos, talheres, jogos americanos, temperos, guardanapos. Coloquei os dois sentados bem rápido, para não terem tempo de fugir. Dei umas 3 broncas do tipo “não mexe aí” e “não balança a mesa” e o cardápio chegou. Pedi três sucos, os deles em copos menores e com canudos e o prato mais ágil que eles tinham. Pedi para meus filhos não gritarem e não falarem com o casal da mesa ao lado que não demonstrou vontade de interação social. Os sucos chegaram e não deixei o garçom colocar na frente deles, pus tudo bem perto de mim. Antes de deixar tomar suco, lembrei bem que deviam tomar cuidado para não derrubar. Eles começaram a tomar e eu fiquei tensa, atenta, pronta para agir caso visse um copo virando. A comida demorou uma eternidade e eles perguntaram se estava chegando a cada 30 segundos. Quando a comida chegou, eu me levantei e mandei pro garçom um “deixa que eu sirvo”. Cortei o peixe, servi o arroz, entreguei para o primeiro. Fiz o mesmo para o segundo. Me servi e sentei. Levantei, corri para a mesa do lado e peguei a pimenta – eu tinha que comer rápido e terminar junto com eles, então não podia esperar o garçom voltar. Engoli a comida, enquanto limpava bocas, mesas e mãos. Pedi 64 vezes para não colocar a mão na comida. Dei mais suco, fiquei brava com a sujeira e com a bagunça. Pedi a conta e pedi para trazer a maquininha do cartão junto. Paguei e quase chorei quando minha filha pediu para fazer cocô. Saí correndo do restaurante.

Quer visualizar melhor? Olha isso aqui.

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Leitura para mamães

Eu não tive muito tempo para ler livros e mais livros sobre maternidade porque meus filhos chegaram em tempo recorde. Cheguei a comprar esse aqui, mas não passei da página 5. Esses livros me lembram auto-ajuda e me dão um certo pânico. Coisas do tipo “como ser uma boa mãe” ou “como educar bem seus filhos” me dão medo. E eu também tive sorte de nunca precisar ler livros como esse aqui, porque meus bebês sempre dormiram lindamente a noite toda.

Mas eu trombei com um livro na África do Sul sobre maternidade em um dia em que todos os livros que eu tinha levado para lá já tinham acabado, chamado “French children don’t throw food, e comprei. Escrito por uma norte-americana casada com um inglês que vive na França com seus filhos, ela começa o livro comparando as mães francesas – elegantes, bem-vestidas e calmas – com as mães norte-americanas – descabeladas, fora de forma, usando roupas de moletom e gritando e correndo atrás de crianças mal-educadas. E ser uma mamãe-descabelada-gritando é algo que ninguém se planeja para ser, né?

A autora descreve no livro as principais coisas que aprendeu com suas amigas e colegas francesas. Algumas dessas coisas, como não se permitir comer o que quiser e engordar horrores na gravidez (porque depois o trabalho de voltar ao manequim original é maior) e esperar um pequeno tempo antes de sair desesperada para acudir um bebê chorando, não serviram para meu caso porque eu não engravidei e não cuidei de um recém-nascido. Mas eu gostei de uma porção de coisas que ela escreveu e tento fazer parecido.

Uma das primeiras coisas que ela conta é que sempre se sentia envergonhada quando levava o filho em restaurantes na França, pois eles eram a única família que não conseguia jantar tranquilamente. Cena clássica que apavora muitos amigos: crianças correndo e gritando porque não querem ficar sentadas à mesa e mães correndo e gritando atrás das crianças tentando contê-las. Quando saímos para comer fora com os bebês, eles participam o tempo todo do programa. Ficam sentadinhos no cadeirão, interagindo conosco (conversando, cantando ou brincando – nunca coloco Galinha Pintadinha no Ipad só para poder comer em paz, gente). Comem ao mesmo tempo que comemos, o mesmo tipo de comida, comem sobremesa, esperam a conta chegar e só então se levantam conosco para ir embora.

A segunda coisa é saber preservar a vida e rotina de adulto. É claro que nossas vidas mudam muito quando os bebês chegam e eles se tornam prioridade. Mas não dá para deixá-los tomar conta de todo o tempo do mundo. Gosto que meus filhos durmam cedo porque gosto de jantar com calma, gosto de ler, gosto de escrever, gosto de ouvir música de adulto e assistir filmes de adulto, gosto de receber amigos para conversar, e não dá para fazer essas coisas com dois brigadeirinhos falantes e bagunceiros acordados. Depois das 20h é o tempo que mamãe e papai têm vida de adulto em casa. Não gosto de brinquedos espalhados pela casa toda pelo mesmo motivo. É claro que é uma casa onde moram crianças, e temos cadeirões na cozinha e uma mesinha onde ficam os brinquedos na sala de estar, mas os brinquedos e coisas de crianças não dominam a decoração fora do quartinho deles.

Outro ponto é sobre o relacionamento deles com outras pessoas. Além de já terem aprendido a falar “por favor”, “obrigado” e “desculpas”, faço questão que eles digam “oi” e “tchau” para todos as pessoas que encontram. Eles cumprimentam todas as visitas que vêm em casa, a moça que trabalha aqui, os vizinhos no elevador, as outras pessoas no supermercado. Estamos ensinando os dois a esperarem a vez para falar e a não interromperem uma conversa. E estou struggling para ensinar a pedir as coisas sem chorar, sem exigir ou sem espernear, mas não vou desistir. 🙂

Nós também estamos ensinando – ou tentando ensinar – o conceito de autonomia. Toda semana eles ganham alguma nova responsabilidade ou passam a fazer alguma coisa sozinhos. Comem sozinhos na maioria das vezes, estão aprendendo a pegar os sapatos no armário e calça-los sozinhos, guardam os brinquedos e recolhem coisas do chão sozinhos se fazem alguma bagunça. Mais que isso, ultimamente estou dando autonomia para resolverem sozinhos seus próprios problemas. Todo mundo que tem irmão sabe que é normal brigar, e eu passei um bom tempo fazendo o papel de conciliadora, o que, além de tudo, me estressava demais. Não é fácil ficar abaixada para olhar nos olhos de dois bebês de dois anos chorando, apontando pro irmão, e reclamando algo como “pegou meu brinquedo buááááááá´”. Agora deixo que eles resolvam sozinhos quem vai pegar tal brinquedo ou quem vai fazer alguma coisa primeiro, e só fico de olho para que não se machuquem – porque não pode resolver conflito com mordidas e arranhões, bebês!

E, por fim, eles estão aprendendo que quem decide as coisas em casa é a mamãe ou o papai. Eu não negocio coisas como hora de dormir, hora do banho ou hora de comer. Não tem chantagenzinha do tipo só-um-desenho-e-depois-vai-pra-cama. Hora de ir dormir é hora de deitar, ficar quietinho e apagar a luz. Não tenho medo de traumas por ouvir um “não pode” ou “precisa esperar um pouco”, porque acho que eles precisam aprender a lidar com frustrações. Claro que não vivemos em um quartel general: eles escolhem o que querem fazer nas horas de brincar e participam de um monte de tarefas em casa só se quiserem – como regar plantinhas, por exemplo.

O livro é genial, gente. E vocês, mamães, têm alguma outra leitura para indicar?

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