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A principal função dos papais

Quando nós ainda não temos filhos, mas já estamos sonhando com a chegada deles, temos a doce ilusão que vamos ter muito trabalho com temas comuns, tipo alimentação, sono, educação e saúde, não é? Antes de ter filhos, eu achava que seria dificílimo enfrentar doenças, noites mal dormidas, crianças não querem comer e as milhões de dúvidas para escolher uma escola e decidir em que momento começar uma educação bilíngue.

Eu me enganei. Essas coisas são simples de resolver. Difícil mesmo é evitar o suicídio infantil, minha gente. Hoje eu invisto 90% do meu tempo tentando evitar que meus filhos se matem. Não sei se estou indo contra a seleção natural ou se existem outras espécies na natureza que também nascem com tendências suicidas como o ser humano. Mas a verdade é que a principal função dos papais até os filhos completarem três anos (assim espero) é mantê-los vivos.

Criança pequena é fogo, não dá para desgrudar o olho um segundo. Você olha o celular para conferir as horas, e a criança sobe na mesa de jantar. Você olha para o lado oposto, e depois encontra a criança pulando em cima de um banco. Ou dependurada na janela. Ou correndo como um monstrinho desgovernado rampa abaixo. Ou tentando fazer carinho em um cachorro imenso que ela nunca viu antes. Ou correndo para o meio da rua, sem nenhum incômodo com carros. Ou tentando engolir brinquedos com peças pequenas. Ou colocando feijões no nariz ou no ouvido. Criança gosta de abrir o gás do fogão e de mexer em gavetas com facas, então nunca podem ficar sozinhas em cozinhas. Criança gosta de correr na beira da piscina mesmo sabendo que não sabe nadar. Criança não faz a menor cerimônia para escalar uma estante para pegar alguma coisa no alto. Criança gosta de pular e dançar no banho, justamente depois que ensaboamos o pé e não deu tempo ainda de enxaguar.

Em casa nós temos elementos básicos de segurança (portãozinho na porta da cozinha, telas na janela, travas em alguns armários e gavetas), então aqui dentro eu não fico tão estressada. Tenho chiliques em garagens e na rua, porque meu filho foge e agora corre mais rápido que eu. Eu não uso nem pretendo usar, mas juro que entendo as mamães que usam coleiras em seus filhos. Juro. Não acho que seja a melhor forma de educar, mas tenho certeza que meus cabelos continuariam pretos alguns anos a mais. Não tem nada que me tire mais do sério do que um bebê tentando soltar minha mão para correr na rua.

Eu já expliquei, conversei, pedi, implorei, chorei, mas só parece ter funcionado mesmo depois que ele tomou uma bronca do tamanho da torcida do Corinthians no último sábado. Desde então está grudado em mim, mesmo que eu solte a mãozinha dele. Minha filha entendeu a bronca por tabela e está boazinha também. Vamos acompanhar até quando, né?

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