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Cansar e dormir

Meus filhos não param quietos um minuto. Minha filha até seria uma criança mais quietinha, princesinha, calminha, se não tivesse um irmão-catalisador da bagunça. Meu filho é um furacão. Eu ainda tenho dúvidas se ele tá melhor ou pior que o Luke, nosso labrador, que há uns anos me fez achar que o dono do Marley estava exagerando e que o Marley nem era tão mal assim. Isaac simplesmente não pára de mexer o corpo, não fica no mesmo ambiente mais que 3 minutos, não anda – só corre e pula. Acho meio exagero ficar rotulando de coisas tipo hiperativo, mas haja energia para acompanhar.

Eles foram visitar o vovô nesse final de semana e, assim que entrei no apartamento para buscá-los, presenciei meu filho caindo no chão junto com a cadeira, a mesa da cozinha e a cesta de frutas (acho que ele estava atrás de uma banana). Depois daqueles cinco minutos de gestão de caos – criança berrando, coisas espalhadas pelo chão – meu pai se senta com cara de quem correu uma meia maratona e me fala:

– Minha nossa senhora, cada vez que ele vem aqui ele está mais levado. Sobe em tudo, mexe em tudo, dá vontade de colocar um GPS nele para saber em que ambiente da casa ele está. Ele não pára nunca?

Não, nunca.

Minha mãe costuma me dizer.

– Você está só pagando seus pecados. Você era igualzinha. Na verdade, você era pior. Agradece que pelo menos esse menino dorme, porque nem isso você fazia para me dar um pouco de paz!

Ah, tem isso. Não posso reclamar. Se durante o dia meu filho contribui para que eu queime calorias e compense os dias que não consigo ir malhar, pelo menos ele apaga como uma pedra a noite todinha. Não acorda nem quando eu o reviro na cama para trocar fralda.

Na quarta-feira passada tivemos feriado e ficamos em casa. Acordamos 8h30 e eles quase me levaram a um esgotamento físico até o almoço. Depois dormiram das 13h00 às 17h00. QUATRO horas de sono, de paz, de silêncio. Acham que isso atrapalha o sono da noite? Nada. Depois de seguirem destruindo tudo o que viam pela frente, deitaram às 20h30 e dormiram até 7h30 no dia seguinte. Lindo, vai?

Tem gente que me fala que criança que come bem é uma benção. Tem quem acha que criança com saúde é uma benção. Outros vão dizer que criança inteligente é tudo de bom. Não, gente: benção é criança que dorme.

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Menino bonzinho

Depois da bronca gigantesca que dei no meu filho porque ele se soltou e correu para o meio da rua, os dois ficaram muito bonzinhos com esse assunto. Andam de mãos dadas, ficam ao meu lado, não correm. Talvez eu nem precisasse ter sido tão dura, mas ele podia ter morrido atropelado. Foi mais forte que eu.

Mas pelo menos funcionou… Outro dia cheguei na porta da escola e uma tia estava no portão. Coloquei meu filho em pé na calçada bem perto de mim, soltei a mãozinha dele para tirar minha filha do carro e a tia o chamou para entrar com ela na escola. Eram dois metros só, mas ele respondeu:

– Não pode. Vou ficar aqui com a mamãe.

Lindo.

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A principal função dos papais

Quando nós ainda não temos filhos, mas já estamos sonhando com a chegada deles, temos a doce ilusão que vamos ter muito trabalho com temas comuns, tipo alimentação, sono, educação e saúde, não é? Antes de ter filhos, eu achava que seria dificílimo enfrentar doenças, noites mal dormidas, crianças não querem comer e as milhões de dúvidas para escolher uma escola e decidir em que momento começar uma educação bilíngue.

Eu me enganei. Essas coisas são simples de resolver. Difícil mesmo é evitar o suicídio infantil, minha gente. Hoje eu invisto 90% do meu tempo tentando evitar que meus filhos se matem. Não sei se estou indo contra a seleção natural ou se existem outras espécies na natureza que também nascem com tendências suicidas como o ser humano. Mas a verdade é que a principal função dos papais até os filhos completarem três anos (assim espero) é mantê-los vivos.

Criança pequena é fogo, não dá para desgrudar o olho um segundo. Você olha o celular para conferir as horas, e a criança sobe na mesa de jantar. Você olha para o lado oposto, e depois encontra a criança pulando em cima de um banco. Ou dependurada na janela. Ou correndo como um monstrinho desgovernado rampa abaixo. Ou tentando fazer carinho em um cachorro imenso que ela nunca viu antes. Ou correndo para o meio da rua, sem nenhum incômodo com carros. Ou tentando engolir brinquedos com peças pequenas. Ou colocando feijões no nariz ou no ouvido. Criança gosta de abrir o gás do fogão e de mexer em gavetas com facas, então nunca podem ficar sozinhas em cozinhas. Criança gosta de correr na beira da piscina mesmo sabendo que não sabe nadar. Criança não faz a menor cerimônia para escalar uma estante para pegar alguma coisa no alto. Criança gosta de pular e dançar no banho, justamente depois que ensaboamos o pé e não deu tempo ainda de enxaguar.

Em casa nós temos elementos básicos de segurança (portãozinho na porta da cozinha, telas na janela, travas em alguns armários e gavetas), então aqui dentro eu não fico tão estressada. Tenho chiliques em garagens e na rua, porque meu filho foge e agora corre mais rápido que eu. Eu não uso nem pretendo usar, mas juro que entendo as mamães que usam coleiras em seus filhos. Juro. Não acho que seja a melhor forma de educar, mas tenho certeza que meus cabelos continuariam pretos alguns anos a mais. Não tem nada que me tire mais do sério do que um bebê tentando soltar minha mão para correr na rua.

Eu já expliquei, conversei, pedi, implorei, chorei, mas só parece ter funcionado mesmo depois que ele tomou uma bronca do tamanho da torcida do Corinthians no último sábado. Desde então está grudado em mim, mesmo que eu solte a mãozinha dele. Minha filha entendeu a bronca por tabela e está boazinha também. Vamos acompanhar até quando, né?

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