(mãe, pai, tem pornografia no final)
Durante muito tempo, eu falava sobre os bofes (aprendi essa palavra hoje) usando os gostos, os hobbies, os trabalhos deles. Era mais ou menos assim: ele é super esportista, nem um pouco sedentário. Ele prefere a mostra internacional de cinema iraniano ao Fantástico. Ele votou no Haddad e não no Dória. Ele não ouve funk ou axé, só música erudita. Basicamente as coisas que os caras faziam por si só já podiam definir se eram caras bacanas ou não.
Mas nesse dia dos namorados eu fiz um balanço de por que tenho certeza que estou vivendo o melhor começo de relacionamento da minha vida inteira, e concluí que nada tem a ver com hobbies ou gostos. Tem a ver com a gente, com a forma como ele me trata, com o jeito que ele é.
São quatro coisas que amo no meu namorado:
1) Não tem aquele machismo de achar que ele (o homem) é melhor que eu (a mulher). Não existe nenhuma questão por eu ganhar mais ou por ser selecionada para projetos e ele não; ele me admira, comemora e apoia de forma muito sincera. Nós passamos muito mais tempo na minha casa que na dele porque eu tenho cachorro, e ele não se comporta como visita. Pelo contrário, ele arruma minha cama, lava a louça, coloca roupa suja no lugar e passeia com o cachorro para mim. A casa não é dele, mas ele participa quando está lá porque entende que não estou oferecendo um hotel – e nunca tivemos essa conversa, ele simplesmente é assim. Com um mês de namoro, e sem nenhuma pretensão de parar de usar camisinha, eu disse para ele que gostaria que nós dois testássemos todas as DSTs. Ele não questionou, não disse que eu estava duvidando dele ou o chamando de sujo e não me enrolou dizendo que faria depois: ele pegou o pedido que meu médico mandou para ele, fez todos os exames na semana seguinte e me mostrou os resultados. Quando eu agradeci, ele me disse que eu não tinha que agradecer, que era minha saúde e que ele sempre ia cuidar da minha saúde.
2) Não tem ciúmes doido e não tem controle. Não tem “quem é esse cara?”, “pára de falar com aquela pessoa”, “não usa essa roupa”, “não fala desse jeito que é vulgar e chama muito a atenção”. Ele sabe que estou com ele e só com ele e isso já está bom para ele. Nunca ficou no meu pé por alguma coisa que eu tenha feito antes de conhecê-lo, nem mesmo depois de conhecê-lo. E aí me deixa segura para sentir o mesmo e é ótimo.
3) E tem um respeito muito grande pela minha vida e pelas coisas que quero fazer e viver. Ele entende que os finais de semana com meus filhos são 100% das crianças e não me cobra esse tempo. Melhor que isso, ele programa as coisas dele, faz outras coisas, mas está sempre por perto. Ele não me cobra esse tempo, mas também não fica esfregando na minha cara que vai fazer um monte de coisas legais sem mim. É sempre tranquilo, é sempre fofo, e eu sempre sinto que continuamos juntinhos mesmo que a gente não se veja durante dias. E isso vale para os dias em que vou encontrar algum amigo sem ele, que vou viajar, que preciso trabalhar. Ele sempre respeita, entende, apoia, continua por perto, não some.
4) Por fim, ele sabe – eu nunca precisei dizer isso pra ele – que o pinto dele não é o centro do universo. Saber disso o faz entender que a gente não transa apenas para que ele sinta prazer, e ele não fica achando que tudo o que eu tenho que fazer é dar prazer a ele. Saber disso o faz entender também que o pinto dele é apenas uma parte do meu prazer e que espero muito mais dele. Em suma: saber que o pinto dele não é o centro do universo o torna um amante inacreditável.
Viajei com amigos no feriado e ele não pôde ir, mas nos falamos todos os dias com uma saudade boa. Voltei para São Paulo e encontrei uma pessoa me esperando no aeroporto, junto com meu cachorro (que ele buscou para mim na cuidadora) e junto com um jantar com sobremesa feitos por ele durante a tarde, querendo ouvir tudo o que fiz e ver minhas fotos. Nesta viagem, durante um trekking, o guia me perguntou se eu sabia contar piadas e eu respondi “olha piada eu não sei não mas posso te contar a história da minha vida que é praticamente uma piada pronta”. Mas tem uma coisa que não é piada: a sorte que eu tive de, quando achava que ia viver afogada em tanta cagada que só acontece comigo, ter encontrado uma pessoa assim. Gente, que sorte.