Eles tinham chegado da escola e foram lavar as mãos. Quando entrei no banheiro para dar aquela conferida, encontrei o sabonete meio despedaçado. Ele já estava rachando um pouco e alguém tinha enfiado os dedinhos e arrancado vários pedacinhos. Não era grave, não era bronca, sermão, nem nada. Eu só perguntei quem tinha feito aquilo.
Mas não tinha sido nenhum deles, né? Eu ouvi de tudo. “Será que não estava assim antes?”, “Foi o Ernesto!”, “Não fui eu”, “Foi ele!”. O Isaac chorava ofendido e alegava que só porque ele é bagunceiro de vez em quando eu já o acusava de qualquer coisa; a Ruth me dizia que ela jamais faria uma coisa dessas, imagina, ela, princesa do bom comportamento na escola que só arranca suspiros da professora.
Eu me senti uma palhaça. Porque alguém estava mentindo para mim, eu não queria ficar acusando ninguém, porque realmente poderia ter sido qualquer um deles, mas me senti uma palhaça por estar ali na frente de um mentiroso cara-de-pau. E o sabonete em si nem era um problema, eu tava cagando para o sabonete. Eu estava inconformada porque uma criança estava mentindo para mim na cara dura e eu não sabia dizer qual criança era a mentirosa.
Aí uma hora eu parti pro drama e pra chantagem emocional, porque eu não tinha outras armas. Eu falei para eles que estava muito abalada por ter um filho mentiroso, que mentia tão bem que eu nem conseguia desconfiar dele. E que isso era um problema muito grave para mim, porque isso significava que eu não poderia confiar em nenhum dos meus dois filhos, porque qualquer um deles poderia me enganar. Que eu ia ter que perder a confiança e virar uma mãe desconfiada de tudo, e que isso ia ser muito ruim para mim, que eu ia viver triste, e que nossa família ia ser uma família sem confiança.
Isso, esse drama mesmo.
Aí mandei cada um para o quarto para pensar na vida e encontro a Ruth chorando no quarto dela. Bingo! “Ai mamãe desculpa eu fiquei com medo de tomar bronca mas eu não devia ter te enganado eu nunca mais vou te enganar porque eu te amo e quero que você confie em mim”. Nos abraçamos e nos beijamos e vivemos felizes para sempre, numa relação de muita confiança e verdades.
Até o dia seguinte, quando entrei no banheiro e vi que alguém tinha feito cocô e esquecido de dar a descarga e perguntei quem tinha sido. E eles gritaram ao mesmo tempo:
– FUI EU, FUI EU, MAMÃE!
Essa é a hora que eu invejo quem crê em deus e tem para quem rezar e pedir forças para suportar este desafio. Taqueopariu.