Câncer machuca o corpo e a alma, e deixa marcas. São muitos processos difíceis. E um deles se chama “exames de controle”.
Fazer exames é chato para qualquer pessoa, mas acho que é pior para pacientes oncológicos ou com alguma doença crônica. A gente passa por mais exames e exames detalhados. E toda e qualquer coisinha que aparece é motivo para cara de preocupação dos médicos, e repete exame, e faz mais exames, e tem que ter certeza de tudo.
Meus últimos exames deram caca. Não foi uma super caca, mas aquele brilho estranho na ressonância, aí repete, aí faz mais exames, aí fica todo mundo com aquela cara X, e você já pensando “caraca lá vou eu estragar o Natal da família” e vem aquela recomendação que você NÃO QUER que é “melhor fazer uma biópsia pra tirar essa dúvida”. Biópsia é o exame decisivo, que pode ter dizer “você tem câncer”. Fora que além de tudo machuca, fura, deixa roxo, deixa edema, e pra quem já sentiu tanta dor na vida e já ficou tanto tempo impedida de fazer coisas, é um pé no saco por isso também.
Entre a biópsia e o resultado, você começa a viver em um limbo. Eu, ao longo de todas essas experiências dolorosas da vida, aprendi a controlar bem o emocional e não choro, não aborreço ninguém, durmo bem, não tenho crises de ansiedade. A verdade é que o limbo é um lugar confortável, porque enquanto você está no limbo você não tem câncer, então você pode trabalhar, sair pra jantar, fazer esportes, tudo bonitinho. Problema é que o final do limbo é um muro alto e você não enxerga o que vem depois. Isso é muito sofrido para mim.
Durante meu limbo esperando resultado da biópsia, as pessoas estavam começando um ano novo. Eu nunca fui de resoluções de ano novo, mas queria fazer planos. Tava pensando no triathlon olímpico e no 70.3 (será?), na prova de ciclismo que já paguei, nos ingressos, nas viagens. Tinha amigos já querendo programar férias e viagens, e eu não sabia como ia estar minha saúde até lá. Eu fui cortar o cabelo durante o limbo e, embora tenha conseguido espantar bem rápido este pensamento, me perguntei se valia a pena gastar dinheiro com corte pra depois o cabelo cair todo. Essa falta de visão e de planos para a vida é um desafio. Será que vou conseguir trabalhar, pagar as contas? E os prazos do doutorado, vou furar todos? Vou estar viva no dia x que meu ex marido quer trocar para eu ficar com as crianças? Mas ao mesmo tempo eu não estava com pressa de chegar ao final do limbo, porque, como já disse, o limbo é confortável, e depois dele pode vir algo mais chato.
Comecei o ano de forma muito emocionante. A Ruth também ficou bem doente no começo do ano, então já gastei toda minha cota de médicos, hospital, exames e antibióticos. Espero que isso não seja uma palhinha do que vem por aí, e tenha sido apenas duas semanas de teste emocional para garantir que yoga e meditação funcionam mesmo.
PORQUE NÃO ERA CÂNCER. FELIZ 2019, RURI!
Boa noite, amei seus novos artigos. É muito bom saber que uma pessoa tem muitos problemas e também consegue sair deles com muita alegria parabéns. As vezes eu fico muito triste, meio depressiva mesmo… Porque acho que os meus problemas eu nunca consegui resolver muito. Mas a gente precisa entender que temos que ter força. Deus te abençoe te proteja muito que você tenha muita saúde para realizar seu sonho eu não conheço você pessoalmente mas pelo que você escreve você parece ser uma pessoa muito forte parabéns. Eu sou deficiente visual, estou prestes a fazer 40 anos, estou na fila de adoção seis meses, não tenho namorado a muito tempo. Adoraria mudar de emprego neste ano, e só Deus sabe o que nos espera… Então às vezes fico triste mas, temos que agradecer porque Deus nos dar grandes oportunidades eu quero entender que não podemos ter tudo, mas tudo que temos em uma coisa muito especial no mundo onde muita gente não tem nada. Você não imagina como me ajudou com seus textos muito obrigada 💝
Viviane Garcia Vivo (11) 998570860.