Em uma das reuniões do GAASP (Grupo de Apoio à Adoção de São Paulo) que participamos, o palestrante disse algo assim: “imagina que um dia você tentou atravessar um abismo por uma ponte e esta ponte cedeu. Na próxima vez que você precisar atravessar o abismo por uma ponte parecida, antes de iniciar o trajeto você certamente vai testar bem a ponte: vai balançar muito e dar pisadas fortes, antes de ter certeza que ela é segura e que você pode atravessar tranquilamente. A mesma coisa acontece com as crianças que foram separadas de suas famílias de origem”.
Uma das principais coisas que aprendemos com os grupos de apoio, em reuniões do GAASP e do GEAA-SBC (Grupo de Estudos e Apoio à Adoção de São Bernardo do Campo) foram as reações e comportamentos que podemos esperar (e nos preparar) de nosso filho. É claro que cada criança sente e reage de um jeito e eles não nos disseram que necessariamente vamos passar por essas situações. Mas nos ensinaram que são reações normais e esperadas e que devem ser tratadas com carinho e paciência.
– Teste: testar os pais é uma reação parecida com a história da ponte que já cedeu uma vez. A criança estava abrigada e sabia que era uma situação provisória; depois passa a viver com uma nova família, que conhece há pouco tempo. Ela pode se lembrar da separação da família biológica ou já ter passado pela dor de uma devolução. Ou pode ter acompanhado a dor de colegas de abrigo que foram separados de suas famílias biológicas ou que foram devolvidos por famílias adotivas. Essas experiências podem gerar insegurança e medo de uma nova rejeição e o “teste” pode ser uma forma inconsciente de pedir uma prova de amor, para ter certeza que pode se apegar sem medo de ser machucada novamente. Por outro lado, para os papais, os testes serão exercício de paciência, dedicação e sabedoria, para enfrentar birras, bagunças e desobediência mostrando amor e impondo limites.
– Regressão: muitas crianças passam a ter comportamentos incompatíveis com a idade quando são adotadas, como por exemplo, voltar a fazer xixi na cama, pedir mamadeira ou falar como bebês. Eles podem ser causados por ansiedade ou também como uma forma de preencher uma parte da história delas que foi rompida, como se a criança quisesse passar com os papais adotantes por fases anteriores à chegada na nova família. Faz parte da construção de vínculos e a criança nunca deverá ser humilhada ou repreendida por tais comportamentos. E faz parte do papel de papais adotantes saber suprir essas necessidades, também com limites, claro.
– Grude: não queremos dizer que os cuidadores do abrigo não cuidam bem das crianças. Mas por mais que as crianças abrigadas estejam alimentadas, limpas, quentinhas e recebendo atendimento individual, elas entendem que a situação é provisória e que estão longe de uma família. Ou seja, são carentes. E vão precisar de atenção, pedir colo, querer carinho dos papais adotantes. Pode parecer óbvio, mas já ouvimos duas histórias absurdas de pais adotivos que devolveram crianças que eram muito “grudentas”.
Mas, no fim… não tem receita de bolo para resolver. Precisa de amor e paciência. Precisa também saber procurar ajuda, caso os papais adotantes percebam que não sabem lidar com os problemas sozinhos. E, depois, mais uma grande dose de amor e paciência.
[…] é despreparo dos pretendentes, que provavelmente não tiveram amor e paciência para lidar com as reações e comportamento da criança e que não se prepararam antes de resolver adotar. E, além disso, […]