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Dedo-duro

Primeiro vieram as palavras com duas sílabas (mamãe, papai, bola, leite). Depois, palavras compridas e complicadas ganharam vez (cachorro, escola, elefante, borboleta). E, por fim, uma palavra começou a vir junto com outra, e mamãe e papai vibraram com as frases que eles começaram a falar (mamãe chegou, boneca caiu, quero leite)!

Eles ainda não contam coisas que aconteceram no passado, como o que fizeram na escolinha durante o dia. Não vejo a hora de começar a ouvir as histórias sobre o que aprenderam no dia ou do que brincaram. Por enquanto eles só expressam desejos (mamãe, quero água) ou descrevem situações (papai, brinquedo caiu no chão). É muita fofura!

Descrever situações significa, na maioria das vezes, narrar o que o irmão está fazendo. Então, se não estou olhando para os dois, começo a ouvir um monte de:

– Mamãe, a Ruth tá cuspindo!

– Mamãe, o Isaac pegou o celular!

– Mamãe, a Ruth mexeu na planta!

O problema é que essas coisas fazem o irmão tomar uma bronca. E fazer o irmão tomar bronca diverte demais o narrador. Mas não dá pra virar, ver sua filha propositalmente toda babada e não ir lá explicar pela milésima vez que não pode cuspir na roupa. Só que quanto mais eles percebem que narrar o que o irmão está aprontando é divertido, mais fazem isso. Estou incentivando dois bebês dedos-duros, gente!

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Igualdade entre papais e mamães

Ontem eu estava na reunião de pais na escolinha, bem quieta, torcendo para ninguém mais fazer perguntas difíceis para as tias, porque eu estava atrasada para jantar com um amigo e queria ficar um pouco com os bebês antes de sair de casa. O último recado que a diretora passou foi o seguinte: os pais não poderão participar da comemoração do dia das mães, porque o local do evento não comporta tanta gente, ficará muita bagunça e tal. Por mim, tudo bem. Mas rolou uma comoção entre os papais presentes na reunião, e lá se foram uns 15 minutos.

A pérola veio logo depois: mas no dia dos pais, as mães PRECISAM ir junto. Nós sabemos que os pais não conseguem dar conta de crianças nessa idade. Então nós vamos organizar um futebol ou algo assim para os pais, e as mães participam do evento para cuidar dos filhos.

CUMÉQUIÉMINHAGENTE? Retomando: no dia das mães, eu vou sozinha para a escola com nossos dois filhos e passo o dia com eles comemorando meu dia e cuidando deles e, no dia dos pais, o papai vai curtir um futebol enquanto eu olho os bebês. Foi isso mesmo que eu entendi? E sabe o que é pior? As outras mamães concordaram que não dá mesmo para deixar as crianças sozinhas com os papais.

Causei na reunião, gente. Não consegui segurar. Eu entendo, de verdade, eu entendo que existam papais incompetentes no mundo. Mas apoiar, incentivar e assumir a incompetência dos papais em geral não dá, não. Eu também não sabia trocar fraldas, fazer comida, dar banho, cuidar de criança doente, também não gosto de cocô, de sujeira na roupa e de chororôs, e instinto materno nunca foi uma característica muito forte em mim. Mas amo meus filhos e aprendi a cuidar deles – só para lembrar, são dois, tá? – sozinha. Por que um cidadão do sexo masculino não pode fazer o mesmo, hein? Alguém explica?

Na comemoração do dia dos pais, o papai dos meus filhos vai sozinho com os dois, para mostrar para todo mundo que os homens são capazes de tomar conta de seus próprios filhos sozinhos. É o mínimo, ou estou exagerando?

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Foto da gravidez e do nascimento

O e-mail que a escola mandou tinha como assunto a palavra “IMPORTANTE”, em letras maiúsculas. Abri imediatamente e li que eu precisava enviar três fotos para a comemoração do dia das mães: uma foto da mamãe grávida, uma foto com o filho logo após o nascimento e uma foto recente com o filho.

Fiquei muito brava, briguei com o computador e fiquei reclamando sobre esse e-mail para meu time durante uns 30 minutos (ou mais?). A minha frustração não foi não ter fotos grávida ou não ter fotos tiradas logo após o nascimento dos nossos filhos, mas foi ter recebido um pedido assim por e-mail, porque a escola sabe que nossos bebês foram adotados. Eu redigi várias versões de respostas raivosas, mas apaguei tudo e enviei somente “Qual a sugestão de vocês para as mamães adotantes?”, já que não sou a única mamãe adotante na escolinha.

A diretora me ligou em cinco minutos com um pedido de desculpas. E me explicou que a homenagem do dia das mães falará sobre a espera e a chegada do filho, por isso pediram fotos da gravidez e do nascimento, mas que eu poderia enviar fotos que representassem  a espera e a chegada dos bebês em nossa família. A explicação fez muito mais sentido, e foi uma pena que elas não tenham escrito o primeiro e-mail dessa forma.

Para representar a chegada, escolhi fotos do Chá com Bebês que fizemos para eles logo que chegaram. Para a espera, enviei uma foto do quartinho pronto, pois era a única foto que eu tinha. E depois fiquei pensando que talvez tivesse sido legal ter tirado mais fotos que “simbolizassem” a espera, como os dias que saímos para comemorar as etapas do processo de habilitação ou toda a bagunça que fizemos em casa para organizar dois enxovais em uma semana. Então esse é uma das dicas que eu daria para papais que estão esperando seus pequenos chegarem: tirem fotos da espera, gente!

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Chororô na porta da escola

Não é sempre que eles fazem birra de manhã antes de ir para a escola, mas às vezes acontece. Um dia desses deixei os dois na porta da sala de aula e meu filho começou um super escândalo.

– Aaaaaaaaaaaah, não qué!

– Filho, vai lá dar um abraço na tia.

– Aaaaaaaaaaaah, não qué!

– Filho, olha lá seu amiguinho com um brinquedo, vai até lá.

– Aaaaaaaaaaaah, não qué!

– Filho, mamãe já volta para buscar, tá?

– Aaaaaaaaaaaah, não qué!

– Filho, já já tem o lanche, vai ter pãozinho!

O choro parou na hora:

– Tchau, mamãe!

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A Páscoa, o coelho e os chocolates

Veio na agenda da escolinha essa semana: “favor pagar a taxa de x reais até segunda-feira para a nossa comemoração da Páscoa”. É tanta coisa que começamos a ter que pensar depois que viramos papais, viu?

Eu não queria entrar na questão do dinheiro, porque não era um valor abusivo que não poderíamos pagar. Mas fui até a escolinha no dia seguinte perguntar se era uma taxa obrigatória e o que eles fariam com os filhos dos papais que não quisessem ou não pudessem pagar. “Os alunos que não participam ficam na sala de aula com uma professora, enquanto o evento acontece no pátio”, me respondeu uma das diretoras, com uma clara expressão de quem odeia essa situação – e eu concordo com ela.

Depois eu quis entender como eles lidam com diversidade nessas datas, porque a Páscoa é uma comemoração que não existe em todas as religiões. Tive uma dúvida parecida há duas semanas, quando recebi uma tarefa endereçada às mamães para a comemoração do dia internacional da mulher: o que acontece com os alunos que não têm mamãe? Entendo o lado da escola, que provavelmente seria criticada por não comemorar as datas mais tradicionais. Mas também achei um pouco difícil para as duas famílias judias que optaram por não levar os filhos à escola na quinta-feira anterior à sexta-feira santa, porque não querem que eles participem da comemoração da Páscoa e nem querem que as crianças fiquem trancadas sozinhas na sala de aula.

Mas o meu principal incômodo com a comemoração da Páscoa não é a taxa, não é a tradição católica e nem a visita do coelho na escola. Eu simplesmente não quero que eles ofereçam infinitos ovinhos de chocolate para meus pequenos, mas também não quero que eles sejam os únicos que não podem comer chocolate durante a comemoração. Mamãe e papai optaram por não comprar ovos de Páscoa para eles porque eles ainda não comem chocolate, e também pedimos que os familiares e amigos fizessem o mesmo. E aí eu vou ter que pagar uma taxa para que a escola ofereça chocolates sem limites para eles? Ou eu vou ter que dizer para meu chefe que sou uma mãe louca que não deixa os filhos comerem doces e que, por isso, não vou poder trabalhar na quinta-feira à tarde para ficar com eles (calma, trancá-los na sala de aula enquanto o evento acontece no pátio não passou pela minha cabeça, eu juro)? E quando contei meu drama para a diretora, ela me olhou com uma expressão de não-tô-acreditando-que-você-não-vai-dar-ovo-de-páscoa-para-seus-filhos.

Toda vez que tenho alguma conversa na escolinha, saio de lá pensando como deve ser difícil administrar uma escola. Ter que cuidar de crianças pequenas, bagunceiras, dependentes, que não falam, que usam fraldas e que choram e, ainda por cima, ter que lidar com mamães e papais que fazem exigências malucas deve ser desesperador (e eu sei que sou uma delas).

Nós decidimos que eles vão participar da comemoração da Páscoa na escola. Vamos pagar a taxa e eles vão ver o tal do coelho que entrega ovos e vão comer chocolate. E eu vou tentar não ficar pensando nisso até lá, para que eu não desista de deixar!

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Difícil lição de casa

Hoje os bebês trouxeram a primeira lição de casa, que precisa ser entregue até segunda-feira. Eu imaginava que lição de casa para crianças com cerca de dois anos fosse alguma coisa na linha desenhar-pintar-recortar-colar, mas recebemos a missão de escrever uma redação com o tema “a história da escolha do meu nome” para cada um deles. Precisamos responder quem escolheu o nome deles e como foi feita esta escolha. Pô, escolinha. Por que complicar a vida dos papais adotantes? Podiam ter começado com “minhas férias”, né?

Nós não temos detalhes sobre a escolha do nome deles, que provavelmente foi feita pela genitora. São nomes bíblicos, mas não sabemos se foi uma escolha relacionada à religião da família biológica. Por coincidência, nossa filha tem o nome da minha avó e isso é tudo o que sabemos.

Antes mesmo de estarmos habilitados para adoção, nós já tínhamos decidido que manteríamos o primeiro nome do nosso filho quando ele chegasse, como contamos aqui. Nós achamos que é uma maneira de respeitar e não apagar a história que eles viveram antes de nos encontrarem. Além do mais, achamos que os bebês começam a reconhecer o próprio nome muito cedo e que, de alguma forma, perceberiam a mudança.

A professora deles vai ler histórias de nomes escolhidos pela mamãe, pelo papai ou pela vovó, histórias de nomes que homenageiam ídolos ou parentes queridos, histórias de bebês que só receberam seus nomes depois do nascimento porque os papais não chegaram a um consenso antes, histórias de mamães que sonharam com determinado nome desde crianças. E vão ler também a história que escrevemos, igual para os dois: a escolha do nome foi feita, provavelmente, pela genitora, mas desconhecemos as razões desta escolha. São os nomes que eles têm desde os primeiros dias de vida e nomes pelos quais serão chamados para sempre. 

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Recadinho na agenda

Mamãe, hoje a princesa tomou banho na escola porque fez cocô, colocou a mão dentro da fralda e espalhou pelo corpo todo.

Mamãe e papai entraram em pânico e tiveram uma conversa séria com a “princesa”:

– Filha, isso é muito feio, não pode fazer isso. Mas melhor na escola que em casa, tá? Por favor, promete nunca fazer isso na nossa casa?

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Mamãe, precisamos falar com você de novo

Ontem papai levou o menininho na escola e mamãe levou a menininha para fazer um exame médico cedinho. Lá pelas tantas, papai me manda uma mensagem: “quando você chegar na escola, a tia vai querer conversar com você”. Por que comigo, hein? Primeiro olhei para nossa filha e me perguntei se eu poderia deixá-la na esquina, mas não dava. Fiquei imaginando que iria tomar uma bronca porque chegamos atrasados para buscá-los três vezes nos últimos dias – e já fui me preparando para colocar a culpa no verão e suas chuvas. Mas cheguei lá e ouvi:

– Mamãe, seu filho mordeu outra amiguinha.

De novo, filho? Pô!  Você quer matar a mamãe de vergonha? Como assim eu não sei ensinar que morder machuca e que não pode? Como eu vou convencer meu cliente que eu posso facilitar um workshop para definir opções estratégicas para o crescimento do negócio no Brasil nos próximos anos se eu não consigo explicar para meu filho que é feio morder? Cadê o manual de instruções desse bebê, gente?

No dia seguinte, quase joguei o celular longe quando vi o número da escolinha me chamando no meio do dia. Receber telefonema da escola enquanto os filhos estão lá sempre faz o coração disparar. E hoje a tia me disse assim:

– Mamãe, desculpe por ter que contar uma coisa delicada assim. A gente não sabe como isso aconteceu e prometemos que vamos evitar que aconteça de novo. Mas não se preocupe que está tudo bem agora. Sua filha está ótima, não se preocupe mesmo. Mas percebemos que ela foi mordida, tem uma marca bem feia na perninha dela e não sabemos quem foi!

Ah! Como eu queria ter passado pro outro lado da história! Quis ficar bem brava e gritar bem alto: COMO-ASSIM-VOCÊS-DEIXARAM-MINHA-FILHA-SER-MORDIDA? VOCÊS-NÃO FICAM-DE-OLHO-NAS-CRIANÇAS? QUEM-É-O-MONSTRINHO-QUE-FEZ-ISSO-QUE-EU-QUERO-FALAR-COM-OS-PAIS-DELE? ESPERO-QUE-ISSO-NUNCA-MAIS-ACONTEÇA!!!!! Mas me segurei e respondi bem baixinho:

– Ah, eu sei, foi o meu filho que fez isso ontem à noite em casa. Não anotei na agenda porque…. não sei.

Alguém me abraça?

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Falando em independência

Dois dias depois que nossos brigadeirinhos resolveram acordar, sair das caminhas, abrir a porta do quarto e sassaricar pela casa sem nem tentar acordar papai e mamãe, recebemos um recadinho assustador na agenda da escola: vai ter uma excursão em março.

Eu já me convenci que sou uma mamãe moderna e liberal, que acha absolutamente normal deixar seus dois bebês entrarem em um ônibus com seus coleguinhas e tias e passarem um dia inteiro longe da escolinha e de casa. Mentira. Eu nem consegui chamá-los ainda de “crianças”, porque para mim eles ainda são bebês.

O próximo passo é pedir a chave do meu carro para ir para a balada?

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Mamãe, precisamos falar com você

Outro dia cheguei na escolinha no final do dia e uma das tias falou que precisava conversar comigo. “Mamãe, seu filho mordeu uma amiguinha e machucou. Ela chorou muito. Nós explicamos que não pode morder, mas ele não parou de rir”.

Q.u.e.v.e.r.g.o.n.h.a.

Eu sempre achei que seria horrível chegar na escola e descobrir que um dos meus filhos apanhou ou foi mordido. Achei que ver um filho machucado seria a pior coisa do mundo e que mamães de crianças que mordem ou batem não sabem educar seus filhos. Até o dia em que eu virei a mamãe que não sabe onde errou e que continua sem saber o que fazer para que meu filho não continue a morder os amiguinhos.

Aí hoje eu li esse post aqui e dei muitas risadas sozinhas. É muito difícil ser a mamãe do mordedor, gente. O lado de lá deve ser muito mais fácil!

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